12- Três minutos

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        Há duas maneiras de se lidar com uma situação. Uma é encarando-a, corajosamente. A outra é fugindo, como se tudo pudesse ser esquecido, apenas por não ser mais mencionado. E era exatamente essa segunda maneira que Olívia havia escolhido para lidar com sua história romântica inesperada. História essa que a estava deixando louca. Nunca pensou que a essa altura da vida fosse viver o que estava vivendo, nunca imaginou que pudesse haver em sua vida outro homem além de Jorge. Um homem que a fazia esquecer de tudo ao redor, de família, de filhos, de marido, de reputação, de tudo. Um homem que não podia ser dela.

Já fazia exatamente quatro dias que os dois tinham se beijado e Olívia vinha fugindo desde então, sem conseguir sequer olhar nos olhos do rapaz, muito menos falar sobre o assunto. Ela sabia que ele estaria à sua espera, para falar sobre o ocorrido, ou para beijá-la novamente. Um outro beijo seria fatal, repetia para si mesma, tentando se convencer. Mais um beijo daquele e tudo sairia de controle.

Olívia disse a todos que estava doente. Uma gripe muito contagiosa, que era melhor ela ficar no quarto, recuperando-se. Sempre que alguém batia na porta, ela corria para a cama e fingia que estava se sentindo mal, falando baixinho e tossindo forçadamente. Eliel, como já esperava, tentou conversar com a patroa algumas vezes, mas a resposta que sempre recebia era a de que Olívia não podia receber ninguém por causa do seu estado de saúde. Naquela semana o motorista saiu do trabalho quase todos os dias mais cedo. Também mandou algumas mensagens que sequer foram visualizadas pela patroa.

Enquanto passava horas trancada no quarto, a mulher tentava organizar os pensamentos. Tentava entender como tudo havia acontecido, como tinha começado a se sentir assim, quais foram os primeiros sintomas de atração que passaram despercebidos. O fato era que não sabia dizer muito bem quando foi que tudo começou. Talvez no primeiro abraço? Durante a festa? No dia da tatuagem? Do acidente da cozinha? Ou talvez muito antes disso?

Alguém bateu na porta do quarto. Ela já estava prestes a responder baixinho, como se lhe custasse falar, quando ouviu a voz de sua confidente.

"Olí, sou eu!", gritou Adriana.

"Entra.", sentou-se na cama, esperando a amiga aparecer. "Ai que bom que você está aqui.", disse normalmente.

"Olí, você não está doente, está?", a outra semicerrou os olhos, desconfiada, logo após fechar a porta.

"Não, óbvio que não.", confessou a patroa de Eliel, dando espaço para Adriana se sentar ao seu lado.

"E por que raios você está dizendo a todo mundo que está doente, mulher?"

"Para fugir do Eliel.", respondeu, baixinho.

"Hã? Gente, o que eu perdi?"

Olívia respirou fundo. Começou a contar tudo.

"Você beijou o Eliel?!", Adriana levou a mão à boca, surpresa.

"Fala baixo!", sussurrou a esposa de Jorge.

"E é por isso que você está fingindo que está doente? Ai, Olívia, pelo amor, deixa de ser cagona!"

"E você queria que eu fizesse o quê? Eu fiz uma besteira e agora não sei consertar.", Olívia levou a mão ao rosto. "Não quero magoá-lo..."

"Você gostou do beijo?", a amiga interrompeu.

"Hã?"

"Do beijo. Você gostou?"

Olívia emudeceu. Que tipo de pergunta é essa?

"Você gostou!", Adriana abriu um largo sorriso.

"Você perdeu a noção, Adriana.", jogou a almofada na melhor amiga, levando-se em seguida.

"Não sei por que isso aconteceu... Talvez eu estivesse fragilizada por causa da situação com Jorge... O que eu estava pensando? Eu não quero que ele pense que eu sou essas meninas com quem ele sai. Digo, ele é jovem demais! ", Olívia começou a andar de um lado para o outro. " Além do mais, o que eu poderia esperar disso? Não, não sou do tipo de mulher que se aventura com rapazes mais novos, isso não tem o menor cabimento! Aliás, eu não me aventuro com ninguém! Nem jovem, nem maduro, nem velho, nem nada!", continuou com o monólogo. "Como vou olhar na cara dele depois disso? Como vou conseguir dizer que tudo não passou de um erro? Onde estava com a cabeça quando beijei meu motorista?!"

Além de mim (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora