11 - Duas escolhas

46 6 32
                                    

       Era por volta da meia-noite. Olívia não conseguia dormir. Repassava todos os acontecimentos da tarde. Estava assustada. Era um sentimento novo, preocupante. Nem quando namorava Jorge ela sentiu o que sentiu ao quase ser beijada pelo motorista. Não sabia que era capaz de ter as sensações que teve. O coração acelerado, a boca seca, o frio na barriga, o desejo incompreendido, a vontade de se deixar ser beijada. Eu só posso estar ficando louca, repetia para si mesmo. Como pude deixar que as coisas chegassem a esse ponto? E o pior, ele nem deve estar pensando nisso.

***

Eliel se remexia na cama. Não podia parar de pensar no que poderia ter acontecido se ele a tivesse beijado. Imaginou seus lábios tocando nos dela, em um beijo ousado, talvez o único que conseguisse dar na patroa em toda sua vida. E se tivesse beijado ela? A oportunidade perdida não deixava o rapaz pensar direito. Ele sabia que teria de deixar o casarão, já que a situação lhe parecia insustentável, mas se ao menos pudesse ter provado do beijo de Olívia, teria uma amável lembrança que levaria consigo para sempre.

Repassando em sua mente toda a situação, Eliel tentava lembrar, em meio a toda aquela adrenalina, a reação de Olívia. Ela agiu estranho, pensou ele. A mulher não brigou, não o empurrou, mas o rejeitou, quando viu que seria beijada. Dona Olívia é um doce, jamais me trataria mal, concluiu. Entretanto, o medo de que ela estivesse vendo-o de forma negativa o havia deixado preocupado. Levou a mão ao rosto. Como vou olhar 'pra' ela agora?

Estressado e cansado, tentou se forçar a dormir, mas estava longe de pegar no sono.

***

Era folga de Eliel. Ele pensava se deveria ir logo à casa de Dona Olívia e pedir demissão, mesmo com um obstáculo chamado Seu Dito. O afilhado se perguntava como iria contar para o padrinho que estava saindo do trabalho dos sonhos porque estava apaixonado pela patroa e fez tudo o que o mais velho havia alertado para não fazer. Passou o dia todo inquieto, também ainda não tinha visto Olívia desde o ocorrido. Em sua cabeça passava um monte de coisas. Como vou dizer para ela que estou indo embora por causa dela? E se eu inventar um motivo? Talvez fosse melhor eu esperar a poeira abaixar. Ou fingir que nada aconteceu... Eliel andava de um lado para o outro. Não, tenho que ser corajoso e pelo menos pedir desculpas... Será que eu devo ligar 'pra' ela? Por telefone deve ser mais fácil.

Após certa relutância, o rapaz pegou o celular e foi até os contatos. Apertou em cima do nome dela. Em seguida, pressionou o botão verde. 'Tá' chamando.

Olívia sentiu o aparelho vibrar enquanto tentava tirar fotos das suas flores, em um intento de se distrair. Logo, surgiu a imagem de Eliel na tela, sorrindo. Seu coração disparou e um frio percorreu seu estômago. O que eu faço? A mulher ficou encarando a foto dele, desafiando-a a encarar a realidade. Ela não teve coragem de atendê-lo.

O celular parou de tocar. O silêncio parecia ainda mais forte que antes. Chamada perdida. Tirou a aba aberta e ficou encarando a tela por algum tempo. Talvez eu esteja exagerando, pensou Olívia.

***

O dia havia amanhecido sem nuvens. O sol dava suas caras. Eliel havia chegado no trabalho mais cedo. O fato da patroa não tê-lo atendido o deixou ainda mais preocupado e ansioso. Não sabia como, mas queria resolver logo a situação. Assim que entrou na propriedade dos Aragão, voi direto para o casarão. Lurdinha o atendeu e avisou que iria chamar a patroa. Assim que a empregada se virou para ir até o quarto de Olívia, Jorge a interrompeu.

"Algum problema, rapaz?", pôs o jornal que lia no sofá e levantou-se, indo até o funcionário.

"Bom dia, senhor, vim avisar à dona Olívia que já estou aqui.", respondeu o motorista, tentando dissimular a irritação que já vinha nutrindo pelo marido da patroa há algum tempo.

Além de mim (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora