Olívia tentava se recompor. Ter visto Eliel havia abalado completamente as suas estruturas. Mal pôde encarar aquele olhar confuso, sem entender por que ela tinha desistido dele...
Estava chorando há algum tempo. Surpreendia-se com a intensidade da dor que estava sentido. Durante todos esses anos, mesmo com o desprezo e as traições de Jorge, com a acidente de carro que a deixou em coma, nenhuma dessas infelicidades doeu tanto quanto ver Eliel partir.
Alguém bateu na porta.
"Por favor, eu quero ficar sozinha.", disse a mulher, sem perguntar quem era.
"Dona Olívia, sou eu, Lurdinha, é urgente.", insistiu a empregada, impaciente.
"Por favor, me deixe sozinha."
"Dona Olívia, se a senhora não abrir essa porta, eu vou arrombar!", gritou, determinada. "Estou falando sério, dona Olívia!".
Segundos depois a funcionária ouviu o barulho da fechadura sendo aberta e Olívia apareceu, com o rosto todo vermelho.
"Posso entrar?", perguntou Lurdinha.
A patroa assentiu com a cabeça e fez sinal para que a outra se sentasse na cama.
"Com licença, viu? Desculpe falar dessa forma, foi a única maneira que encontrei para a senhora abrir a porta."
"Mas o que de tão importante você tem para me dizer?", perguntou Olívia.
A empregada encarou a patroa por alguns instantes.
"Dona Olívia, vou ser bem direta, desculpa me intrometer na sua vida, mas por que a senhora está fazendo isso? Esse rapaz, o Eliel, é louco pela senhora, dá para ver nos olhos dele. E a senhora... A senhora o ama, isso é óbvio."
"Lurdinha, eu..."
"Eu sei que a senhora tem medo, é de dar medo mesmo.", segurou as mãos da patroa. "Eu trabalho aqui desde que seus filhos eram pequenos. Durante todos esses anos eu nunca vi a senhora tão feliz como quando estava vivendo um romance com o Eliel. Aliás nem sei como sua família não descobriu, era bem visível que algo estava acontecendo.", afirmou. "E ele, vivia perguntando para mim se estava bem apresentável, para tentar impressionar a senhora.", sorriu ao recordar esses momentos. "Um amor tão bonito não pode acabar assim, por causa de um medo sem sentido."
"Não é sem sentido, Lurdinha."
"Todos nós achamos que o problema era assumir o relacionamento para a família. Mas a senhora não pareceu hesitar quando se declarou para ele na frente de todo mundo", apontou. "O que tá acontecendo?"
Olívia então respirou fundo.
"Olhe para mim. Você sabe quantos anos eu tenho, sabe que estou envelhecendo. Cada vez mais rápido. Já ele ainda vai continuar jovem por um bom tempo e..."
"Que bobagem, dona Olívia!", interrompeu a empregada. "A senhora tem noção de que está desistindo do homem da sua vida porque está pensando em algo que está além do seu controle?!", fez uma pausa. "Não tem por que os dois estarem sofrendo desse jeito."
Olívia escutava as palavras ditas pela empregada com muita atenção.
"Dona Olívia, hoje cheguei à conclusão de que a vida é feita de coragem.", refletiu Lurdinha;
"Você acha que poderia dar certo?", perguntou a patroa.
"A senhora só vai saber se tentar, dona Olívia. Mas, cá entre nós, eu acredito que vai dar sim. A senhora não?"
A patroa de repente, lembrou-se de algo. Abriu a gaveta da mesa de cabeceira e pegou o bonequinho que Eliel tinha lhe dado. Veio na memória o que ele lhe havia dito ao dar o presente: Isso é para que você lembre que eu não vou a lugar algum. Virou o boneco de cabeça para baixo e leu nos pés dele: Com amor, Eliel.
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Além de mim (COMPLETA)
RomansaEliel é um jovem motorista mulherengo e atrapalhado. Olívia é uma mulher rica marcada por traumas e que vive um casamento conturbado. Qual a chance de os dois se envolverem em uma romance proibido? Uma história divertida e que nos faz refletir sobr...