Além de mim (COMPLETA)

24- O grande dia

       Laura caminhava em direção ao altar com seu longo vestido branco, metros e mais metros de renda Chantilly se arrastavam pelo chão bem polido na enorme estrutura montada em uma parte lateral do salão de festas mais caro do estado. Olívia observava a filha sendo entregue por Jorge ao noivo e se esforçava para conter as lágrimas. A minha bebê. Olhou para o lado e viu Eliel perto de Lurdinha e seu Dito, olhando para ela. Ele piscou e Olívia sorriu. Pela primeira vez na vida, as coisas estavam nos eixos.

Passada a cerimônia, os convidados foram para o outro lado do salão, onde havia inúmeras mesas impecavelmente forradas de tecido branco. Duas irmãs de Olívia vieram em sua direção, mas não a cumprimentaram. Em vez disso, lançaram-lhe um olhar reprovador.

"Papai está morrendo de vergonha de você.", uma delas disparou, baixinho.

Olívia respirou fundo. Não permitiria que estragassem um dia como aquele. Eliel se aproximou.

"Elas não estão falando com você por minha causa?", perguntou ele.

"Elas queriam que eu continuasse fingindo.", tentou não pensar na atitude de sua família ao saber de sua decisão. "Não ligue para isso. Eu estou muito feliz, sabia?", acariciou o rosto do rapaz. "Quero que todos saibam que estamos juntos, não quero esconder absolutamente nada de ninguém."

"Tem certeza, Olívia?", Eliel ainda não havia se acostumado a já não precisar fingir"

Olívia, no intuito de mostrá-lo que estava realmente segura do que estava dizendo, deu-lhe um selinho, na frente de todos. A atitude inesperada surpreendeu o rapaz e a alguns presentes, que a encararam.

"Eu devo estar vivendo 'numa' realidade paralela, não é possível.", disse ele, deslumbrado..

A mulher então deu-lhe outro selinho.

"Vão procurar um quarto.", interrompeu Adriana.

O casal riu.

"Sabe, eu deveria ter pedido um gostosão naquele dia da estrela cadente. Hoje eu também estaria desfrutando. Como fui burra.", resmungou a amiga.

"Que estrela cadente?", perguntou Eliel, sem entender nada.

"Longa história.", respondeu sua namorada.

De repente, ouviram três batidinhas de microfone.

"Atenção, gostaria de dizer umas palavras.", Laura começou.

"Vamos para lá.", Olívia disse.

Os três se aproximaram enquanto a jovem continuava.

"Quando eu era pequena, meu sonho era me casar um dia. Minha brincadeira favorita era fingir que estava me casando. Queria ter um casamento como o dos meus pais. Mas então eu cresci e, ao ver o tipo de casamento que levavam, eu comecei a desanimar. Embora a mãe sempre tentasse me mostrar o lado positivo, eu sabia que ela não estava feliz. E eu tinha muito medo disso acontecer comigo também. Aí conheci o Vinícius, e essa vontade de me casar voltou com toda a força. Mas o que realmente me fez ver que vale à pena se jogar em um amor foi quando eu vi a mãe, pela primeira vez na vida, sendo honesta com seus sentimentos. E não era pelo pai. Pude ver nos olhos dela a certeza, o brilho que eu nunca tinha visto antes. Ela arriscou tudo pela felicidade e isso me encheu de orgulho e forças. Decido hoje a arriscar tudo pela minha felicidade também."

Os presentes aplaudiam enquanto Olívia tentava secar as lágrimas. Não estava esperando por esse discurso. Adriana a abraçou de lado enquanto Eliel tentava segurar a emoção. A minha Olívia abriu mão de tudo por mim. Como eu amo essa mulher...

O noivo também fez um discurso e logo foi o momento da noiva jogar o buquê. As convidadas se aproximaram enquanto Olívia e Eliel decidiram permanecer no mesmo lugar.

"Eu estou tão feliz que a Laura me convidou 'pro' casamento.", disse o rapaz. "Meu maior medo era que seus filhos te rejeitassem por minha causa."

"A Laura não é assim. Mas acho que o Lucas precisa de mais tempo para digerir.", observou a mulher.

"Toma.", foram interrompidos por Adriana, que se aproximou com o buquê de Laura nas mãos e o entregou nas mãos da amiga, que não entendeu nada. "Sua filha jogou o buquê na minha direção, eu vou pegar essa garota.", saiu, reclamando, em busca de uma bebida.

Olívia encarou o buquê, sem saber o que fazer com ele.

"Você pode guardar de lembrança, é bem bonito.", disse Eliel. "E... Se um dia, sei lá, você pensar na possibilidade de casar de novo... Não sei..."

"O que você quer dizer com isso?", ela perguntou.

"Eu sei que a última coisa que você quer fazer agora é casar, mas..."

"Mas...?"

"Daqui a algum tempo, não sei, se você mudar de ideia, é só me dizer.", falou, desconcertado.

"Eliel, você tem planos de se casar comigo?"

"Um dia, sim.", ele respondeu, bem sincero. "Se você quiser, claro."

Seu Dito e Lurdinha apareceram de mãos dadas. A patroa piscou para a empregada, que piscou de volta. O padrinho de Eliel portava um sorriso nunca visto antes.

"Juízo vocês dois, hein.", Eliel o motorista, brincando.

"Vem de desrespeito 'pra' cá 'pra cê' ver o que é bom 'pra' tosse.", o jardineiro pegou um docinho, que o garçom lhe oferecera. Pegou um para sua namorada também. "Eita que negócio gostoso viu."

Olívia riu.

"Sabe, dona Olívia, fico feliz que meu afilhado está com a senhora. A senhora fez bem 'pra' ele, ele 'tá' outra pessoa.", disse o mais velho.

"Seu afilhado também me mudou muito.", acrescentou ela.

Seu Dito assentiu, pegou novamente na mão de Lurdinha e se retirou. Enquanto se afastavam, Olívia refletia sobre o quanto a vida, no fim das contas, tinha sido tão boa para ela.

"Parece que sua amiga já encontrou uma companhia.", Eliel apontou para a pista de dança e lá estava Adriana dançando com um senhor. "Sua amiga é um barato...".

"Eliel?"

"Sim?"

"Quer dançar comigo?", convidou a mulher.

***

Os dois seguiram até a pista de dança e, na frente de centenas de convidados, inclusive na frente das irmãs de Olívia, dançaram como se apenas existissem os dois ali, entre passos lentos e beijinhos, sentiam-se como dois adolescentes bobos, amando pela primeira vez.

Ao longe, Jorge observava a troca de carinho enquanto bebia mais uma taça cheia de champanhe. Seu miserável, pensou a respeito de Eliel, desejando aquela alegria que parecia alcançar a todos, menos a ele.

FIM.