16- A proposta

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       Olívia terminava os últimos detalhes da festa de noivado. Lurdinha organizava a mesa com alguns funcionários contratados pela empresa da família, do lado de fora do casarão, na grande área verde, enquanto a patroa checava se a decoração estava boa. Laura, ansiosa, tentava se acalmar respirando fundo.

"Parece que hoje é o dia do meu casamento, mãe.".

"Meu bebê está crescendo muito rápido.", a mulher foi até a filha e a abraçou. "Vamos, ainda faltam algumas coisinhas.", pegou na mão da jovem e seguiram para o casarão.

Assim que entraram na sala, Jorge se aproximou, um tanto preocupado.

"Olívia, posso falar com você a sós?"

O homem sugeriu que fossem conversar no quarto, mas a esposa fez questão de que fossem até o escritório. Ao chegar, Jorge tomou o assento, mas Olívia permaneceu de pé.

"E então?", ela cruzou os braços, sem muita paciência.

"Eu sei que a gente não está no nosso melhor momento do casamento...", abriu mais a gola da camisa. "Bom, daqui a algumas horas nossos amigos vão chegar e é o noivado da nossa filha."

"Já entendi, você quer que finjamos que somos um casal de verdade."

"Mas nós somos um casal de verdade, só não estamos na nossa melhor fase."

"Não estamos na nossa melhor fase desde que casamos, você sabe disso.", rebateu ela.

"Você não sabe como me arrependo de muitas coisas... Eu já deixei claro que quero que as coisas melhorem, só preciso que você queira também.", fez uma pausa, reflexivo. "Eu sinto muito, Olívia. Quero que saiba que eu ainda tenho sentimentos você."

Olívia riu, irônica.

"É difícil acreditar, eu sei. Você descobriu muitas coisas... Mas o que tenho com você é algo que ninguém terá de mim.", continuou o marido.

"É só isso que tem para dizer?", Olívia o encarou, sem crer no que estava ouvindo. "Não se preocupe. Pela nossa filha, vamos fingir que somos a família perfeita. Mas só até a festa acabar."

"Obrigado, Olívia."

Ela saiu do escritório. Ao se afastar do cômodo, respirou fundo, um pouco mexida com a situação que se encontrava. Sabia que momentos assim chegariam mais cedo ou mais tarde. Mas antes, fingir parecia muito mais fácil.

***

Eliel observava da janela da sala de funcionários as pessoas chegando. Jovens, adultos, idosos, bem vestidos, com o mesmo ar de superioridade que incomodava o motorista. Procurava com o olhar por Olívia. Ele entendia que a mulher deveria estar ocupada com o noivado da filha. Notou que, da garagem, saíram um senhor idoso e mais duas mulheres que tinham traços físicos muito parecidos com os de Olívia. Deve ser a família dela. Nesse momento, deixou a imaginação guiá-lo, e se imaginou conhecendo-os, ela o apresentando como namorado, ele cumprimentando os familiares, que estavam contentes por conhecê-lo.

" 'Tá' pensando o quê aí, hein?", seu Dito o interrompeu.

"Nada, padrinho. 'Tô' só olhando esse povo passar, metido a besta."

"Essa gente é assim mesmo, só porque tem dinheiro, já andam com nariz empinado, se achando melhor que nós. "

Lurdinha bateu na porta e, em seguida, pôs o rosto para o lado de dentro da sala.

"Dona Olívia falou que vocês podem ir lá se servirem, tem muita comida."

"Vou nada. 'Num tô' afim de ser caçoado.", respondeu o padrinho de Eliel.

Além de mim (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora