Tommy e Monty, Monty e Tommy, Tommy Monty e... Mia?

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- Corre!- gritou o menino que vestia um cachecol vermelho. Ele carregava uma cestinha marrom lotada de frutinhas vermelhas de boa aparência.
- Estou indo!- respondeu o de gravata verde que carregava uma cesta parecida
Eles tinham várias coisas em comum, talvez por virem de famílias bem abastadas da Europa, e se comportarem como os meninos ricos e inconsequentes que eram.
Eram tão grudados quanto irmãos, talvez fosse o mesmo cabelo preto, mesmo que o de um fosse liso e o do outro nunca parasse quieto, ou a pele clara do qual tanto se orgulhavam.
- Vou pegar vocês, seus ladrãozinhos de morango!- ameaçou o homem grande e robusto que cambaleava atrás dos meninos.
Alguns morangos caiam pelo chão enquanto os meninos corriam, o homem pisoteava todos eles com suas pesadas botinas.
- Tente!- provocou o primeiro menino, ele dobrou a esquina e puxou o amigo. Os dois se jogaram atrás de uma pilha de feno, as cestas cheias até a metade com morangos maduros e doces.
Eles ofegavam pesadamente, seus corações a batiam a mil por causa da adrenalina.
- Ele já foi?- perguntou o menino de verde, ao erguer a cabeça para enxergar melhor.
- Acho que já...- deduziu o outro.
Os dois trocaram olhares, e riram.

Nossos meninos se sentavam nas cadeiras de balanço que ficavam a porta da proprietária conhecida como North Lake, um casarão grande de três andares ao estilo vitoriano. Eles mordiscavam as doces frutas que manchavam seus lábios de vermelho.
- Você lembra da cara dele, 'Monty?- riu o menino de verde, seus cabelos antes tão lisos, agora revoltos pelo vento.
- Sim Tommy!'  Vou pegar vocês seus ladrãozinhos de morango!' rawr- imitou o homem como se fosse um monstro, copiou os passos pesados fazendo suas botas baterem no chão de madeira.
Tommy riu.
- Vocês meninos vivem aprontando como selvagens!- repreendeu uma voz conhecida, Tommy fez uma careta.
A garota de vestido rosa e maria-chiquinas sempre o irritou profundamente, ele adorava cortar os cabelos de sua bonequinha de pano favorita ( Miss Bucket) . Afinal ela era um menina, não deveria brincar com eles, Monty ainda entenderia isso.
- Não seja chata Euphemia- reclamou, sua careta foi substituída por um sorriso malicioso- Não é como se você fosse entender, você é menina!- Zombou.
- Como  você se atreve...- as orelhas de Euphemia ficaram vermelhas de raiva.
- Mia, Tommy!- reclamou Monty- Nós íamos brincar, não vai sobrar tempo pra ir no balanço se vocês ficarem discutindo...
- Tudo bem.- cuspiu a menina a contra gosto.
Monty ergueu uma sobrancelha para o garoto.
-Tommy...
- Certo.
Os três desataram a correr até o balanço.
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- Euphemia...- suspirou o rapaz de cabelos revoltos- ela está tão...linda.
- Eu sei...- murmurou o de cabelos lisos- você não para de falar dela nunca.
Tom pincelou a tela com mais força, seu conjunto de rabiscos vermelhos formava uma imagem nítida.
Algo estranho consumiu o coração do jovem Tom, algo que só surgia quando a moça de cabelos vermelhos era mencionada. Ele pensara que seu desgosto por Euphemia Fortescue era infantil, mas não, ele a odiava a cada dia que se passava, odiava como suas curvas femininas e sedutoras chamavam a atenção de Fleamont mesmo que ela se vestisse com pudor.
Odiava os sorrisos doces e meigos que a moça dava especialmente para Fleamont que sempre devolvia o sorriso.
Seu pai, Tom Sr, achava que ele tinha ciúmes da moça, que a desejava para si.
- Tom, se você quer uma mulher, pegue-a!- ele sempre dizia- Antes que a concorrência o faça- e piscava conspirativamente.
Sua mãe, a única mulher que poderia amar, Cecília, revirava os olhos e murmurava ' meninos', ele a amada por isso, por não pressiona-lo para um casamento, mesmo que tudo o que ela quisesse fosse mais crianças, crianças que ela não pode ter, e Tom a amava por ama-lo como se fosse seu.
Mas esse era o problema, Tom não desejava Euphemia, (seu estômago embrulhava só de pensar em desposa-la) ele queria Fleamont, um homem, queria seus ombros largos colados aos dele sem que as inúmeras camadas de roupas os separassem, queria sua voz grave sussurando o quanto ele o amava, queria enfiar os dedos na bagunça emaranhada que Monty chamava de cabelo...
- Tom?- chamou Fleamont, tirando o outro de seus devaneios impróprios- Você está prestando atenção?
- Claro.- Sorriu, e esperou que seu Monty continuasse a adular  Fortescue.
Seu Monty, seu pecado, sua única falha, era amar um homem.
Um homem chamado Fleamont Henry Potter.
A imagem no quadro era de uma mulher ruiva com a boca aberta, como se gritasse.
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Ele se lembrava de sua verdadeira mãe, Mérope, ela era feia e desprezível, a única coisa que Tom herdara dela eram seus  inexpressivos olhos azuis, ele agradecia por seu pai tê-lo acolhido após saber de sua existência, mesmo que ele fosse fruto de uma noite de bebedez.
Ela costumava chamá-lo de Júnior, talvez fosse mais um dos sinais de sua obsessão pelo pai de Tom, ou sua loucura hereditária, resultante do incesto que sua família, os Gaunt, tanto cometiam, o crime ediondo que Tom usava como desculpa sempre que fazia algo errado.
- Desculpe por matar seu coelho, Billy- ele levantava os olhos chorosos- é minha loucura- ele dizia- eu nunca sei quando vai atacar!
Ou o padre usava como desculpa para exorciza-lo dos demônios que o cercavam por ter uma mãe impura.
- Os Riddle vão para o céu pelo grandioso ato de bondade que fizeram ao te acolherem- o velho zombava- especialmente Cecília, Deus a abençoe.
- Amém- Tom replicava, e era espancado por um exemplar particularmente pesado da  Bíblia Sagrada Católica.
Mérope tinha família além dele, um irmão e o pai, eram todos horrendos, sujos, pobres e comunistas.
Seu pai costumava dizer que a pobreza era porque eles eram Komunisten preguiçosos, e que deveriam deixar de ser vagabundos, pois vagabundos não entravam no paraíso.
Tom dizia que eles eram tão feios que nem o diabo os queria.
Ele odiava Mérope e sua família, Marvolo, o velho, ficava sentado o dia inteiro em uma cadeira capenga e gritando ordens para ele.
- Moleque, pare de brincar e vá cortar lenha!- era sua ordem favorita, mesmo que Tom fosse claramente pequeno demais para isso.
Seu tio era outra história, ele gostava de empurra-lo contra paredes até que Tom chorasse, e então ele diria.
- Maricas! Homens de verdade não choram!
Mérope o olharia com nojo, nojo do próprio filho, e o chamaria de menina.
Não havia ofensa maior.
Cecília o deixava chorar em seu colo, mesmo que ele não fosse dela, Tommy achava injusto o fato de que Deus não a deixou ter bebês, ela merecia.
Depois de acolher o filho de uma meretriz, todo mundo merecia ser feliz, era outra frase favorita do padre.
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O pior dia de sua vida foi o casamento de Fleamont.
Por algum motivo, Riddle havia aceitado ser o padrinho de seu velho amigo, ele se arrependia amargamente de não ter arrumado uma desculpa melhor.
Ele assistiu resignado quando a bela noiva, Euphemia atravessou o salão, o véu cobria seus lindos cabelos vermelhos, o sorriso meigo e feminino que ele aprendera  a odiar ainda no rosto dela.
Ah, como ele queria arrancar a felicidade dela, queria que todos soubessem a quem Fleamont Potter pertencia!
Ele viu o beijo casto que seu Monty depositou nos lábios vermelhos dela.
A bile subiu na sua boca, ele engoliu, deixando um gosto amargo no lugar.
Riddle quis gritar, quis estragar tudo, e quebrar as mesas, mas não pôde, não com os olhos verdes de seu amado brilhando de alegria por trás dos óculos de armação redonda  que ele insistia em usar, ele paralisou.
Quando seu amado o agradeceu por ser o padrinho, Tom apenas disse.
- Faço tudo para você.
Faço tudo para que você seja meu- era o que ele queria dizer na verdade.
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A notícia da gravidez de Euphemia deixou Fleamont exultante.
E Tom... bem, ele sabia que Monty queria herdeiros,ele não ficou bravo com isso.
Mas poucas semanas depois de descobrir a gravidez, Euphemia adoeceu.
Seu médico, um judeu chamado Miguel Nissim, usou uma mistura de ervas um pouco mais forte do que deveria, e apesar de ter salvado Euphemia, o bebê já havia morrido.
Além disso, o útero de Mia fora comprometido, por causa do erro do médico, ela só engravidaria por milagre.
A mulher ficara desolada, mais importante, Fleamont ficara triste.
- Por que ele não orou para o Adonai dele?- murmurava pelos cantos- Ele matou meu filho de propósito! Deve ter sido porque eu esqueci de pagar a última consulta...
Partia o coração de Riddle ver o amado se descabelar pelos cantos assim.
Ele não se arrependeu nem um pouco de ter matado o porco judeu quando teve a chance.
Gostou de segurar sua p-38 favorita contra a têmpora do imundo, de vê-lo implorar por sua vida.
Tudo por Monty.
Para ver seus olhos verdes brilharem novamente.
Mesmo que ele não quisesse estar por perto naquele momento.
Tom se inscreveu na Escola de Belas Artes em Viena. Sua única paixão, além de Fleamont.
Mas ele foi recusado, aparentemente ele não tinha talento o suficiente para ser um artista.
Não era bom o suficiente para nada! Não era artista e não tinha Fleamont ou James.
Tom, Fleamont e James.
James, Fleamont e Tom.
Sem Euphemia, sem ruivas, sem mulheres.
- Eles não reconhecem o seu valor, Tommy- declarou Monty.
E nem você conhece o meu- Riddle quis replicar, em vez disso ele sorriu.
- Eu acho que eles sabem que sou bom de mais para uma humilde escola- declarou.
Monty sorriu e disse que essa era a verdade.
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A nova gravidez de Euphemia foi estressante.
Ela não poderia sair de casa ou se mover mais do que até o banheiro, Fleamont garantiu que sua esposa não fizesse movimentos bruscos de forma nenhuma.
O dia glorioso foi 21 de março de 1907, o menino tão parecido com Monty veio ao mundo, o pequeno James tinha bons pares de pulmões e sabia usá-los.
Riddle pegou o bebê no colo, ele era tão pequeno, tão...seu, ele mal podia esperar para ver seus lindos olhinhos, tão azuis quanto os dele, a prova de que o menino era seu, a mistura perfeita dele com Monty.
As pálpebras do bebê tremeram, até se abrirem...
Conter o desgosto foi mais difícil do que Tom poderia imaginar.
Ao ver os olhos castanhos, como os de Euphemia, seu coração se partiu.
- Tudo bem,Tom?- a mulher perguntou, Deus, como ele a odiava.
- Ele é tão... pequeno...
Ela teve a audácia de sorrir, ele odiava aquele sorriso.
Tom, Fleamont e James.
James, Fleamont e Tom.
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O menino não parava quieto nem por um instante, corria de um lado a outro com Peter Petegrew e  um punhado de outras crianças, Tom cuidava dele de vez em quando para que Fleamont e Euphemia pudessem cuidar dos pais doentes de Monty, gostava de vê-lo por trás, assim não tinha que ver os olhos.
Os outros adultos ao seu redor conversavam alto, Órion Black reclamava da esposa a cada cinco minutos, e dava tapinhas na cabeça do filho mais novo que era muito jovem para correr com os outros.
Abraxas Malfoy se gabava das novas casas que comprara e de como o jovem Lucius já sabia fazer as porcentagens dos lucros que ganhavam ' um empreendedor ambicioso' era como chamava o filho, Tom o achava um pai  desnaturado.
Canopus Lestrange bebia garrafas e mais garrafas de álcool, seus filhos corriam junto as outras crianças.
Avery e Rosier eram chatos, principalmente Avery, seus filhos eram mimados, burros e agressivos, Tom não queria James perto deles.
Haviam outros pais perto de onde estavam, nenhum relevante o suficiente.
Um político corrupto e um comerciante de classe média.
Riddle não ligava para eles.
Apenas para aquele homem Lupin, Tom não gostava dele, um judeu preguiçoso, sabatista e pobre que tinha um filho doente, James gostava do menino cheio de cicatrizes de cirurgia por algum motivo.
O homem de olhos azuis não, ele achava que a condição do judeu era um merecido castigo divino, afinal os judeus eram tão cruéis que mataram o Messias.
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Tom adorou a oportunidade de combater na guerra, mal podia esperar para receber seu cargo.
Sua maior decepção foi ter sido encarregado de enviar cartas entre as trincheiras.
Ele odiava correr de um lado a outro em vez de lutar como um homem, como Fleamont fazia.
Odiou ainda mais quando um negro da América jogou uma bomba de gás perto dele, o gás que ele inalou foi o suficiente para danificar seriamente sua arcada dentária, e ele ainda teve que cortar seu bigode respeitável para que a máscara coubesse.
Maldito preto, ele não o reconheceu pelo fato de todos serem tão iguais e sujos.
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Ser afastado da guerra fora um golpe doloroso em seu orgulho, receber olhares de pena a cada novo dente que colava por cima dos antigos era horrível.
Mas perder a guerra era pior.
Ele odiou o fato de que Fleamont, com o cargo de valor no qual fora promovido não fizesse nada para acabar com a escória.
- Temos que ser pacientes...- disse Potter.
- Covarde!- replicou Riddle, ele se arrependeu instantaneamente, quando viu o olhar magoado do outro.
Ele tentou se desculpar, mas o amado não permitiu, Potter não foi trabalhar no dia seguinte e nem no próximo.
Quando Tom foi promovido, ao cargo que outrora pertencera ao amado, ele soube que seu amor nunca concordaria com ele.
Nunca concordaria com o Bem Maior.
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Riddle ficou sabendo do casamento de James, seu menino crescera tão rápido, estava tão bonito quanto Fleamont, se ao menos tivesse olhos claros...
Ele próprio recebera um convite, era um envelope bonito e feito a mão, a letra notavelmente feminina, junto ao envelope uma pequena foto do casal sorridente dava emoção ao convite.
James... na foto em preto e branco ele quase poderia dizer que ele era Fleamont, o que faria da moça em seus braços Euphemia, ela era bonita, decidiu Tom, seria boa para James, mas ele tinha a amarga impressão de que a garota  (Lily ou Lilian, ele não tinha certeza) era ruiva.
Tom não foi ao casamento, não, ele não poderia suportar ver isso novamente.
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Pouco tempo depois outro convite chegou a ele, desta vez um batizado.
O filho de James.
Seu neto.
Na foto ele parecia igual a James quando menino... igual a Monty.
E Tom tinha certeza de que os olhos da criança eram claros.
Finalmente a prova de seu amor era real.
Seu pequeno e perfeito...
Harry James Potter.
Talvez Potter- Riddle fosse um bom nome.
Sim, era perfeito, a junção de sobrenome com o de seu amado Fleamont.
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Quando Monty o humilhou publicamente o coração do chanceler se partiu.
A aliança dourada brilhava zombeteiramente no anelar esquerdo do amado, o de olhos azuis tinha certeza de que o nome de Mia estava escrito delicadamente no verso da jóia.
De que mesmo que Fleamont jamais soubesse que o  pertencia, ele jamais o amaria tanto quanto Tom o amava.
Não quando aquela bruxa já o havia enfeitiçado, era tudo culpa das ruivas, Riddle odiava ruivas... e Negros e Comunistas e Judeus, e,e... Todo mundo, ele odiava a todos!
Vivia cercado de idiotas e sem Monty! sem James e sem Harry!
Sem os seus Potter de cabelos revoltos e armações redondas.
Sem seus Potter que gostavam de vermelho e eram apaixonados por tudo o que faziam.
Ele só queria ter um deles...
Apenas um pouco daquele amor que só um Potter poderia dar.
Tom deixou Fleamont fugir.
Ele sabia que aquele Potter ele não poderia ter.
Ele tinha ruivas demais no caminho.
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- Tom? Você vai mesmo atirar?- perguntou Fleamont, sangrando no chão, seu rosto inchado.
- Ah Monty...- suspirou o chanceler- eu te amei tanto...
- Tommy, você não quer fazer isso...- soluçou, não implorou, não, os Potter são nobres e corajosos, eles não imploram.
- Adeus, meu amor!
O disparo abafou o grito de Euphemia, a odiada ruiva ladra.

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