A identidade do Anjo da Morte

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Seus cabelos crespos estavam ressecados, seus grandes e inteligentes olhos castanhos estavam esbugalhados e melancólicos contra o rosto magro demais, ela era, praticamente, um conjunto de ossos ambulantes.
Suas roupas eram trapos sujos pendurados nos ombros franzinos, a  pele escura, outrora tão bonita e lisa, agora ferida em cada centímetro.
Não fazia nem uma semana que Harry havia parado de aparecer.
- O que diabos houve com você?!- questionou Potter, incrédulo com a visão.
Sua melhor amiga, sua irmã, estava em um estado decadente e humilhante que anulava a pessoa que ela costumava ser.
Hermione riu amargamente.
O som ,que era rouco, como se arranhasse a garganta, retumbou pelas paredes de concreto.
O rapaz estremeceu.
O almoço que ele havia trazido consigo a muito devorado, como se por uma fera selvagem e faminta a mais de um mês.
-  O Anjo da Morte veio visitar os primogênitos de cada família- murmurou ela.
Harry entendeu a referência, é claro, após ter estudado o catecismo diversas vezes ele poderia recitas a história de como Deus havia libertado os hebreus da escravidão no Egito, e de como a décima praga envolvia um Anjo da Morte invadindo domicílios na calada da noite, como ladrão, e tirando as vidas dos primogênitos dos Egípcios.
Ele adoraria que Deus enviasse o anjo novamente, só para matar os Comensais.
- Quem é esse desgraçado?- exigiu, seu senso de justiça gritava por reparação. Quem esse homem pensava que era era para machucar inocentes assim?
Harry gostaria de sentir o sangue dele escorrendo por suas mãos, talvez assim pudesse mostrar que o sangue dele também era vermelho no final de tudo.
Ok, talvez fosse sua sede de vingança, que constantemente clamava por sangue puro.
Ele revirou os olhos.
- Não sei...- suspirou Hermione- ele usa máscara, já disse, ele deixa os pequenos o chamarem de tio, é um sádico imundo e monstruoso!- cuspiu amarga.
- É mesmo?- questionou Potter, jurando vingança- e com quem mais ele fez isso?
- Eu ouvi os gritos vindo de todos os lados possíveis, os pedidos de misericórdia e choros de cada criança e adolescente que está preso nesse inferno- exclamou emocionada- ouvi os lamentos de familiares e senti o cheiro metálico do sangue derramado, vi os olhos assombrados de cada um que saiu pela primeira porta, vi os olhos sem vida de cada um que saiu pela primeira porta!- gritou- Você sabia que o escuro tem cheiro?
Harry maneou a cabeça, negando, ele estava assustado com a explosão, mas compreendia cada detalhe da situação que acabara de se mostrar maior do que ele imaginava.
- Tem cheiro de medo e solidão- continuou ela, respondendo a si mesma- Tem cheiro de mijo e sangue! Nosso sangue fodido!- Ela bateu no peito frágil, o rapaz pensou que um osso se quebraria facilmente com tamanha falta de cálcio.
Ela desabou em seus braços, ele nunca havia se considerado forte fisicamente, seus músculos não cresciam muito não importava o que ele fizesse, mas quando a menina caiu sobre sobre ele, Potter pode segura-la facilmente, ela era leve, como uma pluma.
- Estou aqui- murmurou o rapaz, como se de alguma coisa fosse adiantar sua presença- estou aqui para você- repetiu- sempre, sempre, sempre...- murmurou.
Ela soluçou.
- Morreremos aqui? No inferno? E então voltaremos para ele após o julgamento, porque só podemos ter feito algo muito errado para merecermos isso.- concluiu ela- Só pode ser um castigo divino, por sermos rebeldes...
- Pare, por favor- implorou Harry, ele não queria que Deus o castigasse por se envolver com Lucius, ele não queria realmente, e Deus tinha que acreditar nele.
Potter pensou em como era egoísta de sua parte se importar com seu pecado, dada as circunstâncias.
Talvez essa fosse sua punição por egoísmo ao invés de homossexualidade.
- Venha pelo duto de ar ao toque de recolher- pediu Granger- Você verá como somos tratados...
- Toque de recolher?- perguntou o menino, confuso.
- Harry, vamos- exigiu Barty do outro lado, não dando escolha ao rapaz a não ser se retirar da cela.
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- Ainda não entendi o motivo de você precisar de mim- resmungou Draco- Eu já te passei o horário do toque de recolher dos prisioneiros!
- Eu não vou ver isso sozinho!- Sussurrou alto Harry- e fale mais baixo, pelo amor de Deus!- repreendeu, enquanto arrastava o loiro pela manga do casaco até a entrada do duto.

- Que visão!- debochou Malfoy, tentando não olhar para o traseiro do outro, enquanto se locomoviam pelo duto.
- Cala boca.

Os dois engatinharam pelas peças de metal e grades até que chegaram em cima de uma versão mais suja e nojenta do refeitório.
Harry pôde identificar Hermione entre a fila de outros ossos ambulantes que carregavam bandejas com um caldo ralo que deveria ser sopa, e pão embolorado.
Haviam também os Weasley, que só eram identificados pelo tom avermelhado do cabelo.
Antes tinham diferenças, como tamanho do cabelo, porte físico, ou o fato de que Ginny era menina, agora, nem isso.
Bill agora tinha cicatrizes no rosto, muitas delas, deveriam ser parte de sua punição por seu o primogênito.
Lovegood estava encolhida no cantinho, Rabastan Lestrange  acariciava suas coxas magras.
Potter quase vomitou  com a visão nojenta do pedofilo imundo.
Dennis Creevey cambaleava com o cadáver putrido de seu irmão pendurado nas costas, o próprio Dennis parecia morto.
Neville  estava caído.
Alí, no chão, a vista de todos. O roxo ao redor de seu pescoço entregava a asfixia.
O som de uma bandeja caindo no chão chamou sua atenção.
Era Hermione, ela parecia ter caído pela fraqueza, uma Comensal, parecida com Narcissa, se aproximou.
- Levante sua imunda!- ordenou, com a voz irritante que tinha.
- É minha tia- murmurou Draco, ao seu lado.
- Estou indo, Bellatrix- respondeu Hermione.
- É o que?!- enfureceu-se a mulher, sacando uma faca.
Hermione revirou os olhos para ela.
- Você é nojenta- respondeu.
Bellatrix esperneou como criança, antes de receber um aceno do homem mascarado ao seu lado.
Ela saltou sobre Hermione, fazendo com que o corpo magro e fraco da garota se chocasse com o chão duro.
Hermione gritou enquanto a mulher esculpia algo em sua pele.
Seus gritos poderiam ser ouvidos do outro lado do parquinho, enquanto a lâmina afundava em sua pele escura e rasgava sua carne magra.
- Ei!- berrou Ronald Weasley, tentando impedir Bellatrix, o marido da mulher lhe meteu uma coronhada.
A tia de Draco queria matar Hermione.
E Potter queria gritar. Mas não podia, Malfoy tampava-lhe a boca.
Uma lágrima solitária escorreu por suas orbes esmeralda.
O mascarado ergueu o polegar, como um César, sinalizando que Hermione deveria viver.
Bellatrix resmungou e saiu de cima de Granger.
- Você é chato, Anjo- reclamou fazendo beicinho.
Anjo.
Harry sobressaltou- se, seu olhar fixo no Anjo, que saía do refeitório calmamente.
Ele engatinhou atrás do homem.
- Harry, espere- murmurou Malfoy.
- Agora não, Draco- respondeu Potter.
O de olhos verdes seguiu o mascarado, ele, por entre as grades, pode ver o homem andar até o escritório branco.
Escritório branco?
O homem tirou a máscara.
Lucius Malfoy suspirou como se relaxasse após um dia estressante de trabalho.
A cadeira branca rangeu.
Outro homem se levantou.
Seus olhos eram vermelhos.

Author's note
O Anjo da Morte era uma pessoa real.
O médico Josef Mengele, ele conseguiu fugir para São Paulo, isso mesmo no Brasil, onde morreu sem ter pago por seus crimes.

The Chancellor's ObsessionOnde histórias criam vida. Descubra agora