Onde uma família acolhe o garoto

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- Ainda ouvindo o rádio, Harry?- a voz maternal da mulher tirou Potter de seu torpor.
O 'Anexo Granger' era um pequeno esconderijo escondido atrás de uma estante de livros na clínica odontológica que costumava pertencer a família.
Dan e Jean Granger eram um casal negro feliz e amoroso, apesar das dificuldades que enfrentaram na vida por causa da quantidade de melanina que tinham, eles tinham uma filha, a inteligente e determinada Hermione, que, em sua opinião, não existia melhor garota no mundo.
Harry se lembrava de conhecê-los.
O rapaz magro e faminto que trajava farrapos aumentou o ritmo de suas passadas.
As vozes altas de seus perseguidores cada vez mais próximas.
Potter correu pelas ruas de Amsterdã, mesmo que seu corpo implorasse por uma pausa, implorasse por alimento.
Mesmo que seu coração implorasse pelo colo de sua mãe e pelo abraço de seu pai.
Ele não se sentia quase um homem, não, ele era um garotinho com medo dos raios novamente, que corria para o quarto dos pais e se enfiava entre as cobertas para se sentir seguro.
As ruas cobertas pelos símbolos dos Comensais da Morte, as caveiras cuspindo cobras peçonhentas pintadas em cada estabelecimento.
Seu próprio rosto pendurado em cada parede, o valor exorbitante como recompensa de sua captura com vida o assustava.
Por que vivo?
Por que Voldemort o queria?
- Ei, por aqui!- o Sussurro apressado da garota o pegou de surpresa, ele olhou desconfiado para ela.
Seus cabelos eram ainda mais bagunçados que os dele, a pele escura quase se camuflava com a sombra, os dentes e grande e branquissimos pareciam iluminar o beco onde ela estava.
As vozes estavam mais próximas.
Ele deixou que a garota o levasse para a casa dela.
- Estou esperando que alguém fale algo sobre o meu pai- respondeu.
- Deixe o menino, Jean, ouça, o Ministro Dumbledore e o Rei George concordaram em fazer uma aliança com os países da América- comentou Dan- Aposto que essa guerra vai acabar logo- afirmou.
Hermione bufou por trás de seu livro de francês.
- Pai, Voldemort vai dizimar a Europa antes que os americanos possam fazer qualquer coisa- apontou.
- Minha filha, tenha fé!- Jean franziu a testa repreensivamente.
-... E agora, prestemos homenagem aos recém capturados: Família Bones, família Longbottom, família Weasley, Família Thomas, família Finnegan...- anunciou o locutor.
- Deus, tenha misericórdia!- exclamou a Sra Granger.
- Meu Deus...- murmurou Dan- conhecemos essas pessoas...
- Ginny, foi...- Hermione soluçou.
- ... Boa sorte a todos, e que Deus nos abençoe!
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Pela fresta da janela, Harry pôde ver os mini Comensais correndo pela rua.
As crianças eram mais experimentos do que adolescentes, todos foram criados com o propósito de obedecer Voldemort.
Na fábrica de bebês nazistas, mas esse grupo era claramente especial.
Talvez por terem o sangue dos sócios de Riddle.
Eles mantinham os braços colados ao corpo enquanto corriam, não gritavam o derrubavam coisas como as crianças normais, não, eles pareciam sempre treinar.
Para Potter eles eram todos iguais, todos branquissimos, com caras fechadas e cabelos bem penteados.
Como máquinas, como os robôs que os jornais prometiam para o futuro.
Um deles, um  de pele tão branca como a neve, e cabelos tão claros que pareciam pintados olhou diretamente para a janela de Harry.
O rapaz de olhos verdes se agachou rapidamente.
Quando olhou novamente o rapaz havia sumido.

Nenhum comensal bateu em sua porta.
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Potter mastigou a batata calmamente, tentando faze-la durar por mais tempo.
Os recursos dos Granger estavam acabando e ele queria muito voltar para sua casa e pegar mais dinheiro, mas provavelmente haveriam Comensais a sua espera.
Ele teria que se contentar com a batata.
Meio mastigada por ratos.
Ele odiava batatas, elas eram tão ...molengas, e duras ao mesmo tempo.
Era repugnante.

Hermione estava debruçada sobre um álbum de fotos.
A foto que olhava era dela e de um garoto ruivo, com muitas sardas, olhos azuis, alto, usando roupas velhas, e com um sorriso envergonhado.
Mione sorria também, ela parecia feliz ao lado do trapalhão.
Uma lágrima rolou pela bochecha de Granger.
- Quem é esse?- perguntou Harry.
Hermione secou a lágrima.
- Ninguém.- respondeu bruscamente.
- Mione por favor...- implorou o rapaz.- eu quero saber por que você está triste.
A moça respirou fundo.
- É o Ron. Meu Ronny...- soluçou, o de olhos verdes a abraçou- os Comensais capturaram os Weasleys! Todos eles! Eles eram boas pessoas...
- Calma... Tudo bem- tentou.
- Não está tudo bem!- berrou.
- Hermione por favor....- implorou- eles podem nos ouvir.
- Desculpe... eu só quero que isso acabe...
- Eu também.
Os dois se abraçaram, sussurando promessas falsas de que tudo ficaria bem, tentando consolar um ao outro.
Como as duas crianças perdidas que eram.
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Harry folheou o jornal em suas mãos trêmulas, dia 31 de julho, seu aniversário.
Ele era quase um homem.
E a guerra ainda não havia acabado.
- Sinto muito, Harry, mas não temos como te dar presentes este ano- lamentou Jean Granger.
A pobreza que assolou o anexo era evidente, o dinheiro havia acabado e a maior parte da comida estocada fora comida por ratos.
Qual era a melhor forma de morrer? pensava Potter- de fome ou de doença?
- Tudo bem, Sra Granger- sorriu- eu não sou mais criança.
- Eu sei, querido- acariciou os cabelos revoltos, agora, secos e sem brilho algum- eu sei.
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Harry e Hermione se sentaram no pequeno espaço livre do sótão.
Havia uma janelinha no teto, a janela deixava o vento frio noturno bater em seus rostos.
Mas os jovens não se moveram para fecha-la.
O céu estava lindo, cheio de estrelas, os adolescentes podiam contar quantas constelações quiséssem.
- Olha, Harry, uma estrela cadente- Sussurrou Granger- faça um pedido, é seu aniversário.
Potter fechou os olhos com força.
Que eu encontre minha família- desejou.
- E então? desejou o que?- perguntou a moça.
- Se eu falar, não vai se realizar.- respondeu.
- Chato!- reclamou a menina.
- Também amo você.
Os dois riram.

The Chancellor's ObsessionOnde histórias criam vida. Descubra agora