II - A visita

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O Hospital St. Mungus para Doenças e Acidentes Mágicos jamais vira tanto fluxo em seus corredores, tanto de pacientes e visitantes quanto de profissionais. A Segunda Guerra Bruxa, finalizada pela Batalha de Hogwarts, deixou muitos feridos e perpetuamente danados. A unidade que tratava dos casos mais delicados ainda possuía algumas vítimas lutando por suas vidas, nos quartos havia os estáveis, mas que ainda estavam enfermos demais para receberem alta; a área de fisioterapia e psiquiatria sempre estava cheia também. Foi assim que o hospital se viu obrigado a recrutar profissionais de todo mundo.

Justamente devido a esse fluxo, o hospital agora possuía um rigoroso horário de visitas, além de um limite de até dois visitantes por vez, visando conter a quantidade de pessoas pelos pálidos corredores hospitalares.

Eram nove da manhã, o início do horário de visitas. Minerva McGonagall adentrou o quarto de Snape alguns minutos mais tarde, portando um olhar preocupado e uma atitude comedida e culposa. Ela parou ao pé da maca, as mãos enrugadas cruzadas à frente das suas vestes negras – muito diferente do verde que a senhora gostava de usar.

— É muito bom vê-lo acordado, Severo — disse com a voz muito mais firme do que sua postura.

Ele se mexeu para pegar a caderneta e a pena, e permitiu que Minerva pudesse observar minuciosamente sua atual aparência. Estava bem mais magro, o que já era de se esperar após tantos meses desacordado e entubado. A palidez estava ainda mais acentuada do que o habitual, havia uma barba rala em seu rosto austero e seus cabelos passavam da altura dos ombros, revelando um discreto ondular nas pontas.

"É bom vê-la bem, Minerva", escreveu. "Quero pedir desculpas, embora saiba que nenhum perdão amenizará as coisas que fiz."

— Ora, Severo — balançou a mão fazendo pouco caso, mas Snape notou um leve lacrimejar em seus olhos antes de ela desviar o olhar. — Se alguém precisa pedir desculpas, esse alguém sou eu. — Sentou-se na poltrona azul. — Você e Dumbledore... — suspirou. — Foram uma dupla e tanto, Severo. É estranho pensar que enquanto eu o amaldiçoava, você se arriscava para nos salvar.

"Não tinha como saber, Minerva. Na verdade, a intenção era justamente enganar a todos. Corríamos muitos riscos se mais alguém soubesse do plano de Alvo."

— Eu sei, mas ainda assim me pergunto se não foi crueldade demais de Alvo deixar que carregasse esse fardo sozinho. — Snape notou como o sotaque escocês de Minerva parecia mais acentuado em sua voz trêmula. — A Ordem da Fênix esteve unida e mesmo assim passamos por muitos medos. Não consigo me pôr em seu lugar, Severo. Não consigo entender como alguém pode ser tão forte.

"Não sou forte. Eu apenas não esperava sobreviver."

Minerva não teve palavras para responder aquela confissão. Apenas pôde se perguntar mais uma vez como Alvo, seu tão querido amigo, permitiu que uma pessoa se sacrificasse tanto a ponto de não mais se importar com sua própria vida.

Decidida a abandonar aquele assunto – pois não queria chorar na frente de Severo Snape -, Minerva explicou sobre os acontecimentos pós-guerra, mesmo que ele não tivesse perguntado por isso.

Ela contou que assim que o corpo de Voldemort desabou em pleno Salão Principal, Harry Potter convocou um pequeno grupo para seguir até a Casa dos Gritos. O garoto dizia a todo momento como descobriu que seu antigo professor de Poções sempre esteve ao lado da Ordem e como fora um homem de Dumbledore até o fim e, por isso, precisavam lhe dar um enterro digno. Foi Kingsley que se aproximou do corpo de Snape e identificou as batidas cardíacas muito fracas, porém, existentes. Snape, então, foi levado às pressas para o St. Mungus, onde tão logo foi declarado seu estado de coma.

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