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Sigo cruzando ríos

Andando selvas, amando el Sol

Cada día sigo sacando espinas

De lo profundo del corazón

En la noche sigo encendiendo sueños

Para limpiar con el humo sagrado cada recuerdo

Música: Hasta La Raíz

Composição: Natalia Lafourcade / Leonel García



- Robin, oi. Então, hahah, pergunta hipotética: o que aconteceria se eu teoricamente desistisse desse apartamento. - Eu falava andando nervosamente de um lado para outro da sala. Após retornar do choque inicial e me dar conta de que a Nicole e sua esposa moram de frente para meu novo apartamento, liguei desesperadamente para meu corretor para tentar reverter a situação.

- Waverly, do que você tá falando? Achei que tivesse adorado o apartamento!

- É mas, ér, eu. Mosquitos! É, acabei de perceber que aqui tem muitos mosquitos e, você sabe, eu sou alergicamente alergica. Eu poderia morrer!

- Sinto muito, mas não tem muito que eu possa fazer por você. Já registrei o contrato, você teria que pagar a multa por desistir antes do final da locação. Eu posso enviar um dedetizador em alguns dias, você poderia, não sei, usar repelente enquanto não resolvemos esse problema? - levo o polegar à boca e começo a roer a unha enquanto o escuto falar.

     Suspiro alto, dessa vez eu não conseguiria fugir.

- Tudo bem, obrigada Robin, deixa que eu mesma resolvo. Desculpa te incomodar a esse horário, boa noite!

     Não esperei que ele respondesse e encerrei a ligação. Olhei para o teto

- Sério? Que crime terrivel eu cometi pra merecer isso?

     Olho ao redor, suspirando alto mais uma vez. Pedi para a Wynonna vir me buscar, já que estava sem o Jeep. Ela também ficou surpresa com minha nova localização. Após conhecer o local, ela me levou para a fazenda e conversamos por algumas horas, antes de encerrar a noite com um copo de whiskey. Decidi fazer a mudança já no dia seguinte, afinal, querendo ou não, ali seria meu novo lar.

     Eu não tinha muita coisa para levar, afinal eu estava há dez anos vivendo em diversos lugares e nenhum ao mesmo tempo. Minha mudança consiste em duas malas de roupas e algumas caixas de livros, alguns guardados por minha mãe, outros que acumulei ao longo dos anos. Após subir com as malas e as caixas decidi ir ao supermercado para abastecer a geladeira e a dispensa, antes de arrumar o apartamento de forma apropriada.

     Quando finalizei as compras, pedi ajuda a Wynonna para levá-las ao apartamento. Ela, surpreendentemente, ajudou a colocar algumas sacolas no carro (algumas = 3, as mais leves). Como se não fosse suficiente ter a Nicole como vizinha para pagar por todos os meus pecados, acabamos chegando ao mesmo tempo, o carro da Wynonna na frente e o da Nicole em seguida. Quando minha irmã parou o automóvel, ela também parou, e desceu para nos cumprimentar. 

     Desci do carro e comecei a recolher as compras enquanto Nicole e Wynonna conversavam. Ela estava sem uniforme. Era seu dia de folga, suponho. Tentei não pensar na presença dela ao meu lado, como se fosse possível.

- Oi, vizinha! - Nicole falou enquanto se aproximava.

- Oi, rs, Nicole! Vizinha? Como assim? - falei, como se não soubesse dessa minha penitência.

- É, - ela fala sorrindo - moro bem ali. - Ela aponta para a sacada do apartamento dela.

- Que coincidência! - Digo, pegando o máximo de sacolas que consigo, para subir de uma vez e poder me esconder dentro dos meus pensamentos.

- Aqui, deixa eu te ajudar!

     A Wynonna olhava a cena com um sorriso presunçoso no rosto.

- Isso! Nicole te ajuda e eu vou indo, maninha. Beijos!

     Olhei para minha irmã com minha expressão mais ameaçadora, o que obviamente não adiantou muito, visto que assim que falou ela entrou no carro para ir embora. Olho para Nicole e sorrio sem graça.

- Não precisa! Eu consigo subir, não quero te incomodar.

- Waverly, são muitas sacolas e você pode se machucar. Para de besteira, você não incomoda. - Ela disse, já pegando algumas sacolas.

     Respirei fundo e entrei no bloco. Decidi usar o elevador para chegarmos mais rápido. Entrei na frente e ela em seguida, apertei o botão do meu andar e subimos em silêncio. Bom, silêncio ao meu redor, porque na minha cabeça todos os meus neurônios estavam tocando vuvuzela.

     Quando a porta do elevador abriu, me apressei para abrir a porta.

- Pode colocar no balcão da cozinha mesmo, depois eu arrumo! - Digo abrindo a porta e segurando para que ela passasse na minha frente.

- Prontinho! - Ela coloca as sacolas onde pedi e, após fechar a porta, replico os movimentos dela.

     A observo enquanto ela olha ao redor, se familiarizando com o local.

- O que tá achando da cidade? É tudo que você lembrava?

     Sorrio com o canto da boca e respondo-a

- É quase exatamente como tudo estava antes de eu partir. Eu gosto disso, me sinto em casa.

     Ela faz que sim com a cabeça e olha para o chão. Ficamos alguns segundos em silêncio antes que ela fale:

- Eu sei que a última vez que nos falamos não foi, é, - ela pigarreia - uma conversa muito agradável, e eu não tive a oportunidade de me desculpar mas

- Nicole, não há o que desculpar. Eu não guardo mágoas de você, por Deus, pelo contrário, eu poderia beiApertar sua mão! Agora! Agora mesmo para provar que não guardo nenhuma mágoa! - Falo e estendo a mão na tentativa de consertar a quase merda que tinha acabado de fazer.

     Ela me olhou um pouco desconfiada e aperta minha mão.

- Então, amigas? - Ela fala, incerta.

- Amigas! - Olho para nossas mãos e sigo o olhar pelo braço dela, até a borda superior da camisa, o pescoço.. Amigas? Amigas não têm esses pensamentos impróprios ao olharem pro decote de outras amigas, Waverly! - Digo a mim mesma.


***


     Após nossa breve interação na cozinha do meu apartamento, Nicole foi embora e eu tentei desligar minha mente focando em guardar as compras. Wynonna me ligou alguns minutos depois, me chamando para comemorarmos a mudança num bar próximo a cidade. Aceitei de prontidão e combinamos que ela passaria aqui para me buscar. O doc nos levaria e seguiria para o plantão. Chrissy também aceitou o convite, seria uma noite de meninas.

     O doc apareceu no portão do condomínio trinta minutos após o combinado. Atraso era a marca registrada da Wynonna. Segui para entrar no carro, mas senti uma presença atrás de mim e virei assutada. Transitei o olhar entre a pessoa que agora estava na minha frente e a Wynonna, que estava com o vidro abaixado, nos olhando.

- E ai? Vão ficar se comendo com o olhar ou vão entrar logo na porra do carro?

- Wynonna! - Eu e Nicole falamos juntas. 

     Ela soltou uma risada baixa e fez sinal com a mão para que eu seguisse a frente. Não sei se a Wynonna tava querendo me matar ou que eu a matasse. A noite seria longa.

Metade de mimOnde histórias criam vida. Descubra agora