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Alors laissez moi le voir danser jusqu'à s'épuiser

Je veux retrouver toutes, toutes, toutes nos nuits d'été

Tous ces souvenirs, j'pourrais écrire pendant des heures

Et j'te laisserai pas tomber, je repousserai nos pleurs

Música: Nuits d'été

Intérprete: Oscar Anton feat. Clementine



     Entrei no carro primeiro, sentando ao lado da Chrissy, e a Nicole entrou em seguida. Tentei me encolher ao máximo, mas por estar no meio metade do meu corpo tocava o corpo da Chrissy e metade tocava o corpo da Nicole. 

     Tentei não me concentrar muito na sensação de ter nossos corpos se tocando, ainda que apenas parcialmente. Abracei a Chrissy de lado e me inclinei para beijar a bochecha do doc. Ele ligou o som do carro e deu partida, nos levando ao lugar combinado.

     Durante o trajeto senti a Nicole tensa ao meu lado. Notei que ela estava um pouco quieta, olhando para janela enquanto rodava a aliança em seu dedo. Me questionei se ela teria achado comentário que a Wynonna fez antes que entrassemos no carro desrespeitoso, e fiz uma nota mental para obrigar minha irmã a se desculpar mais tarde. Concentrei meu olhar nos dedos dela, que ainda rodavam nervosamente o anel em seu dedo. Será que a Jolene vai encontar com a gente mais tarde? Espero que não.

     Nem sei ao certo quanto tempo passamos dentro do carro, mas quando me dei conta o doc estava estacionando na frente do bar para que descessemos. Assim que entramos no recinto nos dividimos, eu e Chrissy ficamos encarregadas de pegar as bebidas no balcão enquanto Wynonna e Nicole guardavam a mesa. Combinamos que iniciariamos a noite com uma rodada de shots de tequila, e em seguida revesaríamos em dupla para comprar o que estivesse faltando. 

     Me apoiei lateralmente no balcão e busquei com os olhos a mesa que minha irmã estava, na esperança de que ela estivesse olhando para mim para confirmar a quantidade de shots que desejava. Mas, ao invés de corresponder meu olhar, ela olhava concentrada para a Nicole, com a sobrancelha franzida. Vejo ela levar uma mão até o ombro da Nicole e apertar, como se a estivesse consolando. A amiga da minha irmã tinha uma expressão que não consegui distinguir perfeitamente entre tristeza ou raiva. 

- Terra chamando Waverly!

     Volto meu olhar para Chrissy, que tentava chamar minha atenção há alguns minutos.

- Sim? 

- Quantos shots vamos comprar?

- Oito? - pergunto, incerta. - Dois para cada, acho que é um bom começo.

     Ela concorda com a cabeça e se volta ao atendente.

- Oito shots da sua melhor tequila! - a ouço falar antes de me perder novamente nos meus pensamentos.

    Após sermos atendidas, voltamos à mesa equilibrando as bebidas em nossas mãos. Sento ao lado da Nicole e coloco os shots na mesa, arrastando os dela para sua frente. Ela me olha e da um pequeno sorriso em agradecimento. 

- Hey, tá tudo bem? - susurro, aproximando meu rosto do ouvido dela.

- Tudo ótimo! - Ela diz pegando um dos shots.

- A novos começos! - Wynonna diz, segurando seu copo no ar.

     Levanto meu copo, seguida pelas outras para brindarmos. Engoli todo o líquido de uma vez e, ainda sentindo o alcool queimar todo o caminho que percorria dentro do meu corpo, peguei o segundo copo para oferecer outro brinde. Antes mesmo que eu pudesse levantar para propor, Nicole já tinha virado seu segundo shot. 

- Vou pegar umas cervejas - Nicole diz, levantando.

     Levo o copo rapidamente e entorno meu segundo shot, levantando em seguida.

- Eu vou contigo. - Digo, já dando os primeiros passos em direção ao balcão.

     O bar não estava muito cheio, mas ainda era cedo. Chego ao balcão primeiro e peço um drink e a Nicole pede uma dose de whiskey. O atendente entrega a dose enquanto outro prepara meu drink. Nicole não esperou nem mesmo que o garçom colocasse o copo na mesa, pegou da mão dele e tomou num único gole. Ao terminar, bateu o copo no balcão e pediu mais uma dose e uma cerveja.

- Wow! Tem certeza que tá tudo bem? - pergunto levantando as sobrancelhas.

- Como disse, tudo ótimo. - Ela fala encarando o copo vazio. 

     O atendente a serve e ela repete o ato anterior. Meu drink chega no momento em que o garçom a entrega a cerveja que pediu. Nicole se afasta do balcão enquanto informo a mesa que estamos para que as compras sejam adicionadas a comanda. Vejo que ela segue em direção contrária a mesa e vou atrás dela.


***


- Sério Nicole, você tá me deixando preocupada! - Digo fechando a porta atrás de mim enquanto a vejo inspirar longamente. 

     Estávamos na entrada do bar. Ela continuou andando, sem olhar para trás.

- Eu só preciso tomar um ar, daqui a pouco encontro vocês lá dentro.

- Eu não vou te deixar aqui, Nicole. Tudo bem se não quiser me contar, prometo que vou ficar caladinha do seu lado. Só não quero que você se sinta sozinha.

     Ela para de andar e apoia suas costas em um carro que estava próximo. Estávamos no estacionamento, não era afastado da entrada do bar, mas era mais vazio e nos dava mais privacidade. Nicole respira fundo e toma um longo gole de sua cerveja.

- 4 vezes! Já tentamos quatro vezes e a Jolene não consegue engravidar, é tudo tão.. frustrante. - Ela diz, lutando contra lágrimas que ameaçavam cair.

     Mudo o peso de uma perna para outra e respiro fundo, tentando assimilar a informação que acabara de receber.

- Hey, eu sinto muito! - Digo, na falta do que dizer. Levo minha mão livre ao seu braço e a acaricio.

- Eu sei o quando ser mãe é importante para você - continuo, lembrando dos nossos planos. 

     Vejo uma lágrima escorrer do seu olho esquerdo, ela a limpa rapidamente. 

- Eu to exausta - ela diz.

     Respiro fundo e me aproximo. Me apoio no carro ao lado dela e dou o primeiro gole no meu drink. 

- Eu sei que fui ausente esses anos. Pra você, pra Wynonna, mas agora eu, eu quero estar presente. - Digo virando meu rosto para olhar para o dela. Ela estava olhando para os próprios pés. - Você não precisa passar por isso sozinha.

     Procuro pela mão dela com a minha e, quando acho, entrelaço nossas mãos.

     Ficamos em silêncio por alguns minutos enquanto terminavamos nossas bebidas, de mãos dadas todo o tempo.

     Eu não estava bêbada, havia bebido apenas os dois shots mais cedo e um drink. A Nicole tinha bebido mais e mais rapidamente e acredito que foi o estado de semi-embriaguez que a levou a dizer o que disse quando quebrou o silêncio.

- Você acha que teriamos conseguido? - Ela diz sem me olhar.

- Amor, eu te daria os bebês mais bonitos do mundo! Teria ido pessoalmente até a casa da cegonha buscá-los, se fosse preciso. - Digo sem pensar.

     Sinto ela ficar tensa ao meu lado e puxar a mão que ainda estava entrelaçada na minha. Ainda sem pensar respirei fundo, transformando o oxigênio em coragem para os próximos passos. Levei uma das minhas mãos ao rosto dela e o virei levemente para que ela me olhasse. Nos olhamos nos olhos por alguns segundos e depois desviei meu olhar para sua boca. Quando voltei a olhar nos seus olhos me dei conta que ela nem sequer havia feito menção a se afastar, foi tudo que me faltava para avançar e colar meus lábios nos dela.

Metade de mimOnde histórias criam vida. Descubra agora