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"Casas entre bananeiras

Mulheres entre laranjeiras

Pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.

Um cachorro vai devagar.

Um burro vai devagar.

Devagar... as janelas olham.

Eta vida besta, meu Deus."

- Cidadezinha qualquer, Carlos Drummond de Andrade



     Acordei sozinha e parcialmente desorientada. A única evidência de que a noite passada não tinha sido um delírio febril era o delicioso estado dolorido do meu corpo. Respirei pesadamente tentando reunir forças par levantar da cama e dar um norte a minha vida.

     Eu sei, eu deveria estar me sentindo a pior pessoa do mundo por todas as obscenidades que aconteceram nas últimas horas terem ocorrido com uma pessoa casada mas, sinceramente?

     Balanço a cabeça de um lado para o outro para espantar esse pensamento. Não iria acontecer novamente, a Nicole tinha deixado bem claro.Me espreguiço ainda deitada e enfio minha cara no travesseiro, sentindo os últimos resquícios do cheiro dela na minha cama. Não iria acontecer de novo. E tudo bem.


***


- Tudo bem, babygirl?

- hm? - respondo sem ouvir o que minha irmã falou. Nos encontramos no bar da nossa tia para almoçarmos juntas mas eu meio que tava com a cabeça em outro lugar, mais especificamente no meio das pern

- Melhorou? A Nicole disse que a bebida não desceu muito bem ontem...

- Ah, sim. Acho que eu deveria ter comido um pouco mais antes de ter começado a beber - sorrio sem graça.

- Bem legal a cachorro-quente ter te levado pra casa, né?

- Cachorro-quente?

- É, a Haught..do..quer saber? Esquece.

Balanço a cabeça e jogo um canudo nela.

- Você é a pessoa mais sem graça que eu conheço! Mas sim, beem legal da parte dela.

- Isso quer dizer que você vai finalmente deixar de fugir e se juntar ao nosso carteado na sexta?

- Carteado? Eu não sabia que tinha uma irmã de oitenta anos.

- Ei! A gente mora em Purgatório, era isso ou morrer atropelada por um caminhão carregando toneladas de tédio!

     Rio da fala dela enquanto um atendente posiciona nossos pratos na mesa. Comemos sem pressa, conversando sobre amenidades entre uma garfada e outra. A tarde decidi começar o planejamento para as aulas que iria ministrar, que já estavam por começar. A noite sentei na varanda com uma taça de vinho e assisti de olhos fechados o filme da noite passada projetado na parte interna das minhas pálpebras.

     Durante a semana todos os dias parecem o mesmo. Na segunda levantei cedo para o meu primeiro dia de trabalho, na terça levantei cedo para preparar um lanche para comer entre as aulas e da quarta em diante levantei cedo já por força do hábito. Os almoços eram sempre no bar da minha tia, as vezes com a Wynonna, as vezes com o doc, as vezes com a Nicole (em pensamento, obviamente). Após o almoço eu dava mais uma ou duas aulas e seguida para casa para preparar a rotina do dia seguinte, como se não fosse a mesma. A noite sempre se encerrava com uma taça de vinho e um filme visto de olhos fechados. As vezes a segunda parecia a quarta. As vezes a quarta era domingo. Que dia é hoje?


***


      Eu sei, fugir é um péssimo hábito. A minha rotina da sexta sempre envolvia ignorar todas as ligações da Wynonna e fingir que eu não estava em casa. Então eu decidir parar com o jogo de esconde-esconde e finalmente aparecer no único evento que Purgatório tinha a oferecer numa sexta a noite: carteado na casa da minha irmã.

     Cheguei um pouco mais cedo que os outros convidados para ajudar a organizar o cenário (leia fiz tudo sozinha porque minha irmã é uma otária). Colocamos (coloquei) uma mesa do lado de fora com alguns petiscos no centro e cadeiras ao redor. Quando estava terminado de posicionar as cadeiras o Jeremy chegou com algumas cervejas. A Wynonna foi buscar o baralho e eu sentei na mesa com meu amigo enquanto o doc acendia a fogueira. Alguns minutos depois escutamos o barulho de um carro se aproximando e, em seguida, estacionando. Eu não precisei olhar para saber quem era. 

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⏰ Última atualização: Jun 14, 2021 ⏰

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