9|Ponto zero?

7.8K 758 64
                                    

Joshua Beuachamp

Eu tenho regras...- Ela sussurrou, sem tirar o olhar dos meus lábios. Eu assenti, assistindo seu peito subir e descer rapidamente. - Nada de você me dar ordens. E nada de você me assistir dormir. -Eu umidessi os lábios e ela arfou com o movimento. Minhas mãos estremeceram com a vontade de colar nossos corpos. - Nada de invadir minha privacidade também.

Ela ficou quieta e eu me afastei alguns centímetros. Nossos olhares se encontraram, e eu pude ver que suas pupilas estavam gigantes. De desejo.

Ela me queria. Talvez não tanto quanto eu a quisesse, mas ela me queria.

- Só isso? -Perguntei acalmando minha respiração.

Any mordeu o lábio e eu quase gemi.

Sua respiração falhou e eu assisti a ela tentando manter a calma.

- Tem mais uma coisa. -Eu voltei o olhar para seus olhos. -Nada de me olhar desse jeito.

Eu ergui as sobrancelhas.

- Desse jeito como?

Percebi que minha voz estava mais rouca que o normal, o que fazia meu sotaque transparecer muito mais.

- Como se você quisesse rasgar minhas roupas e me comer contra a parede mais próxima.

Eu nunca soube o que realmente significava ter autocontrole até aquele momento. O dia de hoje estava sendo psicologicamente impossível.

Primeiro, temos Any me abraçando e descansando a cabeça em meu peito enquanto dormia. Depois temos ela corando. Depois eu ligo para ela e ouço algum tipo de gemido, e ela me responde que esta encontrando o parceiro para noite. Eu ja achava que estava no meu limite, quando entrei naquela loja de lingeries e a vi vestida com a roupa mais sexy do mundo. Dentro daquela sala, irritado, com ela vestida daquele jeito, eu quase a beijei. Quase.

E então quando tive alguns segundos ao ar fresco para me recompor, longe do cheiro dela, a mulher me aparece vestida como uma deusa. E agora estamos no meio da calçada vazia, esta de noite, ela não para de olhar para minha boca e me solta uma coisa dessas.

Imagens de dela contra a parede, gemendo e enlaçando meu pescoço invadiram cada canto do meu cérebro. E eu me afastei alguns metros daquela mulher.

- Nunca mais diga algo assim para mim denovo. Nunca mais.

Eu disse com o último fiapo de voz que me restava.

Any me encarou e respirou fundo.

- Podemos ir para sua casa agora?

Ela parecia exausta, e eu pensei que deveria ser tão cansativo para ela resistir a nossa atração quanto era para mim.

Eu assenti e comecei a andar até a onde tinha estacionado o carro.

- É sua casa também, sabe? Não precisa dizer que é "minha casa".

Ela me ignorou e foi abrir a porta dianteira, mas eu coloquei a mão na maçaneta antes dela.

- Desculpe, minha mãe e meu pai eram muito rígidos no quesito "trate as mulheres como as rainhas que elas são".

Eu abri a porta para ela que, por sua vez, entrou em silêncio. Eu fechei a porta e entei no lado do motorista depois de colocar as compras atrás.

A viagem até a minha casa foi silenciosa, e eu não tinha certeza se gostava disso ou não. Por um lado, era bom poder descansar um pouco e não forçar meu cérebro nas nossas usuais batalhas verbais. Por outro, eu achava que a sua voz era a coisa mais linda do mundo, e saber que ela estava quieta por minha causa era doloroso.

Apertei o volante quando o celular dela tocou.

-Oi. Sim, estamos chegando...Não se preocupe. Ele foi idiota como sempre, nada demais, nada de menos

Eu mordi a parte interna da bochecha.

Idiota como sempre heim?

Any ficou em silêncio por alguns segundos, e depois se despediu.

-Não aconteceu nada demais. Ok. Até amanhã

O carro voltou a ficar silencioso, e eu estava desconfortável. É só que ela sempre estava tagarelando sobre alguma coisa, ou reclamando, ou só fazendo sons com a boca. Não parecia certo que e ela sentisse a necessidade de ficar quieta só porque estava chateada comigo.

Irritada.

Me corrigi mentalmente. Any não ficava chateada. Na verdade, se bem me lembro, ela estava "puta da vida" comigo.

Sorri com o canto dos lábios.

A mulher era uma caixinha de surpresas mesmo.

Chegamos em casa e ela não me deu a oportunidade de abrir a porta do carro para ela. Ou de mostrar a casa. Ela apenas entrou, como se fosse dona do lugar e não como se nunca estivesse entrado ali ma vida, e me deixou plantado na garagem, a assistindo perplexo.

Então voltamos ao ponto zero, onde eu seria ignorado?

Suspirei e peguei as compras, tentando ter paciência. Eu sabia que era um cara difícil de se conviver. E Any, por mais durona que fosse, não tinha a obrigação de lidar com as minhas merdas. Ela me deixava louco, era verdade. Mas não era culpa dela que meu pau ficava duro só de observa-la. Ou que eu quisesse arrancar a cabeça de cada imbecil que a olhasse na rua. Isso era problema meu. O que só significava uma coisa: eu deveria pedir desculpas.

Olhei para a escadaria gigante que levava ao andar dos quartos.

Agora? Mais tarde? Amanhã?

Respirei fundo e tomei minha decisão.

Que os céus me ajudem.
____________________________________
4/4

Gostaram da maratona?

Deixe sua ⭐ comentem muito

Até Quarta🦋

𝘽𝙧𝙤𝙠𝙚𝙣 𝙋𝙞𝙚𝙘𝙚𝙨 Onde histórias criam vida. Descubra agora