Miranda optou por dormir no voo de volta.
Depois de uma semana agitada e sem muitos desapontamentos, tinha pela frente um curto período para se reorganizar, reagrupar sentimentos, resolver alguns problemas e retomar sua essência.
O retorno para uma casa vazia sempre era um problema. Parecia faltar um pedaço sem o barulho de suas meninas, ela detestava essa sensação de vazio. Contudo, já havia entendido que os dias solitários eram necessários.
Os dias de stress, a carga emocional que seu trabalho demandava, tudo isso em dias normais não a abalava. Por outro lado, com toda essa carga multiplicada na semana mais importante do ano, a quebra era inevitável. Seu corpo não reagia, a vontade lhe faltava, e era melhor que ninguém a visse dessa forma.
Geralmente eram três dias praticamente sem sair da cama. Ela deixava algumas garrafas de água perto da cama, e só. Não tinha vontade de comer, de levantar, de ver a luz do dia. Eram momentos de cortinas fechadas, da casa lhe lembrando vividamente que em silêncio poderia só desaparecer.
Sua mente sempre lhe pregava peças. A diferença, é que em um dia normal, ela rapidamente se colocava em ordem. Já nos dias pós Paris, tudo lhe remetia ao quão insignificante era.
Se hoje ela pudesse simplesmente desaparecer, será que alguém além de suas filhas sentiria sua falta?
Seus pensamentos se dispersaram pelo som da campainha. Minutos depois e o silêncio foi interrompido por batidas na porta.
Silêncio.
O infortúnio então passou a vir da janela do seu quarto. Batidas muito leves, como pedrinhas contra o vidro.
Ela se levantou para ver o que era e moveu um pouco a cortina. Com o movimento interno o barulho cessou, e quando Miranda estava pronta para voltar para a cama as batidas na porta retornaram com toda a força.
A mulher se levantou brava. "Pelo amor de Deus, que inferno!" Praguejou enquanto descia as escadas colocando seu robe cinza. Ela correu de leve os dedos no cabelo penteado para trás, tentando deixar-se um pouco mais apresentável.
Estava tão zangada que nem ao menos se deu ao trabalho de olhar pelo olho mágico ou pelo sistema de segurança. Abriu a porta de uma vez pronta para destruir quem quer que fosse.
"Por Deus, você está bem!" Ouviu a voz emocionada. Os olhos castanhos de quem claramente esteve chorando recentemente.
Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa Andrea entrou, rapidamente fechando a porta e lhe envolvendo em um abraço apertado.
"Tive tanto medo. Você não respondeu mensagens, não atendeu minhas ligações por dias... Eu achei... Eu sabia que você estaria aqui sozinha, fiquei tão preocupada." Miranda sentia mãos praticamente conferindo se estava inteira.
Em outros tempos ela teria colocado Andrea para fora. No momento atual, ela só se deixou ser abraçada e agradeceu pela resposta direta ao questionamento que havia feito mais cedo ao universo.
Sim, alguém sentiria a sua falta.
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Dois Cafés (Mirandy)
FanfictionAndrea é uma jornalista que escolheu um café aconchegante como local seguro. Entre provas do cardápio e trabalhos sem fim, um belo dia ela se depara com Miriam (que, na verdade, se chama Miranda) e depois disso a sua vida nunca mais foi a mesma.