XXXVIII - Arrumando A Casa

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Andy estava de volta a sua velha rotina de virar noites acordada, só que agora preferia ficar sozinha de vez.

Não queria mais ir ao café, não queria mais ver ninguém.

Sentia falta de Miranda, desesperadamente. Passava cada segundo do dia tentando entender o que a editora havia dito sobre ter traído sua confiança.

Para tentar evitar mais pensamentos, se afundar em trabalho foi a única solução viável.

Estava, sim, magoada pelas acusações infundadas, mas ainda assim não conseguia ser orgulhosa o suficiente para seguir sem ao menos saber o que estava acontecendo. A cada vez que ligava para Miranda e suas ligações não eram atendidas, sentia seu coração despedaçando um pouco mais.

Continuava tentando ligar, dia após dia.

Hoje era o quinto dia sem notícias de Miranda.

Também era o quinto dia de mensagens incessantes de Jacqueline Follet.

A jornalista sentia-se lisonjeada com a insistência da mulher para ser parte de sua equipe em um novo projeto. Ela ainda não podia revelar o nome da publicação, mas o salário era excelente, com todos os benefícios possíveis e o cargo oferecido era muito maior do que ela jamais imaginou conseguir antes dos trinta anos de idade.

Em qualquer outra época, a jovem desconfiaria  da oferta insistente. Hoje, no entanto, com o trabalho freelancer que estava realizando, seu nome estava nos radares das publicações grandes. Seus trabalhos estavam cativando público e com isso seu valor de  mercado estava subindo muito mais rápido do que ela esperava. Ter uma publicação de peso em sua carreira com certeza ajudaria a  consolidar seu nome. Jacqueline garantia  uma publicação de uma editora de peso, com espaço para Andy montar suas histórias exatamente como ela fazia em um de seus projetos que estava tendo maior audiência.

Era a oportunidade perfeita.

A morena estava inclinada a aceitar o emprego, quanto mais pensava sobre, mais achava boa ideia. Seria bom ter novas oportunidades, conhecer novos contatos. A expectativa sobre um novo desafio criava uma sensação de euforia suficiente para tirar Andy de seus próprios pensamentos, pelo menos por alguns segundos, e só por isso ela já era grata a Jacqueline.

Durante o dia, a fim de continuar com a mente dispersa, ela se colocou a reordenar o próprio apartamento. Era tempo de mudança, hora de se desfazer de suas incertezas.

Pouco a pouco desarmou luzes, mudou móveis de lugar, limpou e arrumou tudo o que sentiu que deveria. Ela sabia o motivo de estar fazendo isso, mesmo fingindo não pensar sobre. Quando estava quase terminando de trocar a  roupa de cama, seu celular tocou. 

Doug.

Por mais que o amasse, não queria nem ao menos falar sobre o que  estava sentindo agora.
Ele com certeza já sabia que tinha algo errado, só pelo fato dela evitar falar com ele por ligações e pelas mensagens  de texto evasivas. Logo ela o contaria  tudo, mas antes precisada descobrir o que esse tudo significava.

Após mais uma  noite  sem dormir, Andrea resolveu que precisava de uma refeição decente para se  sentir  minimamente humana novamente. Como sua geladeira estava  deserta, uma ida ao mercado foi o que lhe tirou de casa.

De banho tomado, com o cabelo lavado depois de vários dias, uma roupa confortável e uma lista com ingredientes para uma receita supostamente fácil de macarrão à carbonara  que encontrou na internet, Andy saiu rumo ao mercado mais perto de sua casa. Não era exatamente o mais barato, mas ela não estava com muita paciência para caminhar por mais nove quarteirões quando tinha um mercado literalmente do outro lado da rua.

Com uma cesta na mão ela se moveu no pequeno comércio seguindo a risca cada um dos itens que precisava. Se um pote de sorvete acabou sendo resgatado no caminho, foi um ato meramente acidental.

O que Andrea não se deu conta, foi na quantidade de vezes que ela esbarrou com a mesma mulher dentro do mercado, e que a quantidade itens que a mulher carregava não mudava a cada vez que elas se encontravam.

No fim das contas, quando Andy entrou na fila a tal mulher estava terminando de pagar suas  compras, sem prestar muita atenção no que estava fazendo.

Despreocupada, Andrea passou suas compras no caixa, pagou e  arrumou tudo na sacola de pano que havia sido decorada por Cassidy e Caroline em uma de suas  tardes juntas. Sentia falta delas.

Com o pensamento distante Andy atravessou a rua no automático, mas antes que pudesse subir as escadas de acesso para a portaria de seu prédio alguém a  puxou pelo braço.

"Andrea?"

Assustada ela se virou e reconheceu a mulher do mercado.

"Você é Andrea Elizabeth Sachs?"

"S-sim, o que está acontecendo?" Ela perguntou puxando o braço para si, assustada por alguém saber seu nome todo sem algum motivo real.

"Preciso te entregar uma mensagem, sobre  Miranda Priestly." A mulher  disse com a voz um pouco mais baixa, olhando em volta.

"Não quero saber nada sobre ela." Andy disse, sentindo seu coração  disparar só de ouvir o nome. Ao tentar avançar, a mulher segurou seu braço e rapidamente puxou um papel bem para a frente de  seu rosto.

Levou pouco mais de um segundo até os olhos castanhos focarem no que  estava no papel, e mais alguns segundos até Andy reconhecer a  sua própria forma com o rosto bem posicionado entre as  pernas da editora, deixando bem claro o que estava acontecendo.

Andrea sentiu seu estômago revirar e, pela primeira vez, mentalmente agradeceu pela mulher  segurando seu braço quando suas pernas falharam.

"E-eu não entendo..."

"Tudo bem, só mantenha a calma." A mulher  misteriosa puxou a bolsa com os itens que havia comprado no mercado e entregou para Andy, mais uma vez abaixando a voz, "Tem um telefone dentro da bolsa. Quando tocar, atenda. Vão te dizer tudo o que você precisa saber."

Antes que alguma palavra saísse da boca de Andy, a mulher já havia partido. Olhado atônita para o pacote, ela entrou no prédio se sentindo completamente perdida.

Ela entrou foi até seu apartamento o mais rápido possível, sacando o próprio celular do bolso antes mesmo da porta fechar atrás de si.

Em dois dois toques a chamada  foi atendida e ela disparou, "Doug, eu preciso de ajuda. É urgente!"

 

Dois Cafés (Mirandy)Onde histórias criam vida. Descubra agora