VIII - A chegada

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"Andrea" Miranda murmurou tentando acordá-la. Parecia tão cansada que quando a editora estacionou ela nem reagiu. Miranda retirou as malas do carro e as outras coisas, colocou na geladeira os conteúdos da cesta e do cooler e agora estava de volta do lado de fora dez minutos depois. Ela abriu a porta do lado onde Andy estava sentada, cuidadosamente soltou o cinto de segurança. "Andrea, preciso que você acorde."

"Nãowquero..." A morena murmurou ainda sonolenta.

"Vamos, você pode dormir mais lá dentro. Está frio aqui." Miranda segurou os braços dela puxando de leve para tentar fazê-la levantar.

"NãowMira..." Andrea praticamente se aninhou na outra mulher. Miranda sorriu.

"Vamos Andrea, acorde." Miranda praticamente sussurrou fazendo carinho nas madeixas castanhas. Aos poucos Andy foi abrindo os olhos e quando se deu conta da proximidade suas bochechas começaram a corar. "Vamos para dentro, sim?" 


Quando elas entraram na casa, Miranda conduziu Andrea quase do mesmo jeito que fazia com suas filhas, mas na hora de colocar a jovem no sofá foi surpreendida ao ser puxada para sentar ao lado dela. 

"Desculpe estar tão sonolenta. O começo do meu dia foi bem ruim até você ligar, acho que as coisas estão pesando agora."

"Quer conversar?" Miranda perguntou, vendo Andrea puxar uma de suas mãos e analisar como se fosse um ato comum entre elas.

"Não. Em resumo, me demiti um minuto depois de falar com você." Respirou fundo. "Eu não sei como vou pagar minhas contas, não tenho uma reserva nem nada, mas eu vou dar um jeito." Ela levantou o rosto. "E você, quer conversar?" 

Miranda abriu a boca, mas antes que pudesse dizer algo Andrea cortou-a. "Sabe, Miriam. Não há cantoria no carro, ou risos e boas conversas que me façam deixar passar a nota de desespero que ouvi na sua voz hoje. É a segunda vez que ouço, e da primeira nós nem nos conhecíamos direito. Eu não sei o que aconteceu, não sei nem se aconteceu algo, mas eu acho que já provei ser de confiança o suficiente para você poder conversar abertamente comigo. Então eu vou perguntar de novo... quer conversar?"

"Q-quero, mas de verdade, eu não sei como conversar, Andrea." Miranda se virou para ela, seus olhos com um ar melancólico. "Eu... não sou essa pessoa que você vê. Eu não sou essa mulher que anda por cafés de madrugada, não sou alguém que leva uma estranha para um hotel para que ela não fique sozinha em casa, eu não frequento a casa de amigos, eu nem tenho amigos na verdade."

"Você tem pelo menos uma amiga..."

"E você me odiaria como todo o resto do mundo se soubesse quem eu sou de verdade, Andrea. Todos odeiam, plantar o ódio nas pessoas é parte de quem eu sou." Miranda gentilmente recolheu sua mão do contato com Andrea. "Essa que você vê, com essa fragilidade toda, eu não tenho ideia de quem seja, mas eu sei que não sou eu. E a pior parte é que já me apeguei tanto a esses momentos que quando você for embora vai doer. Muito." Miranda sorriu com o semblante triste. "Tem um motivo para eu não ter amigos." ela murmurou num sussurro, sentindo seus olhos marejarem.

"Bom, eu claramente não sei do que você está falando, e com certeza não consigo te imaginar de outra forma que não seja a que você é comigo. Se é realmente como diz, fico contente que escolha ser diferente comigo." Andy puxou a mão da mulher de novo, um sorriso travesso nos lábios.

"Você não tem jeito, não é mesmo?" Miranda perguntou, agora já sem o tom melancólico em sua voz.

"Não tenho." O sorriso de Andy aumentou. "Você pode me contar depois mais algumas coisas sobre esse seu lado maléfico para ver se eu acredito, mas agora, o que você acha de me apresentar essa casa linda e depois me alimentar com um sanduíche de frango delicioso, ein?" Indagou levantando-se do sofá e puxando Miranda para ficar de pé junto a ela.

"Acho uma excelente ideia." 

"Eu sei, eu sou cheia de excelentes ideias." Disse convencida, recebendo um beliscão leve no braço e ouvindo a risada da outra mulher ecoar pela casa.




Dois Cafés (Mirandy)Onde histórias criam vida. Descubra agora