Capítulo 30 - As Batidas do Meu Coração

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Kael (alguns dias depois do acidente)


Não

Não

Eles não tinham morrido

O carro não bateu no deles

Eles estavam bem

Sabe aquelas frases de motivação? Eu tinha frases mentirosas em minha cabeça.

Na maioria das vezes elas funcionavam, mas não agora, não quando todos estavam me olhando entrar na sala de aula, não quando estou vendo claramente eles me olhando com pena.

- Kael? – A professora me chama e eu levanto o olhar do caderno

- Sim?

- Está tudo bem? Precisa de algo? – a intenção dela era boa, mas o momento? Péssimo

- Estou bem – eu falo e volto o olhar para o caderno com a folha em branco, suspiro quando escuto ela voltando a perguntar de novo

- Se você precisar de....

- Professora é verdade que a bebida se chama Cuba Libre por conta da guerra e da futura independência de cuba? – a voz de uma menina se sobressai na sala pequena e eu me viro ao mesmo tempo que a professora.

Sophie está com a cabeça inclinada e com uma expressão curiosa no rosto, olhando fixamente para a professora que pigarreia e responde

- Sim, tem algumas teorias sobre isso

- Poderia explicar? Se não for um inconveniente para a senhora, é claro – ela fala com tanta inocência no rosto que uma pessoa de fora com certeza não iria reparar no modo afetado e irônico dela.

Mas eu reparei

- Sim, posso explicar – a professora volta a falar me esquecendo e eu continuo olhando para Sophie que desvia o olhar da professora e se vira para mim. Ela pisca um olho em minha direção e volta o olhar para o quadro em branco, como se não tivesse feito nada demais.

Mas ela fez

Ela mudou tudo.

.........................................

Lanchar na parte de trás do prédio da escola, não era algo que eu sempre fazia.

Na verdade, eu nunca fiz isso

Mas hoje foi diferente, sem Sky por perto eu simplesmente segui até lá de cabeça baixa, ignorando qualquer pessoa que viesse falar comigo, e aumentei um pouco mais a música que tocava em meus fones de ouvido.

O lanche de hoje era uma maçã, o que eu considerava bem saudável para mim. Mas assim que vi um cachorro do outro lado a dividi e dei para ele pelo muro, e fiquei lá em cima, observando o sol se por aos poucos, e a brisa suave invadir os meus sentidos.

Talvez se eu não a conhecesse, ou se ela não tivesse me chamado tanto a atenção, eu não reparasse que ela tinha subido o muro e se sentado a pouco centímetros de mim.

Mas eu reparei

Fiquei esperando que ela dissesse algo, mas só o que ela fez foi puxar uma respiração e pegar um dos meus fones de ouvido, colocando na orelha dela. Me viro para Sophie observando-a, e ela se vira também.

- Sei que provavelmente já deve ter escutado muito isso – ela começa a dizer em voz baixa – Mas eu sinto muito

- Obrigada – eu falo e pigarreio quando eu percebo minha voz rouca – Por isso e por ter intervindo na aula

- Eu realmente queria saber sobre aquela bebida alcoólica – ela diz séria e eu balanço a cabeça sorrindo um pouco.

Ficamos em silêncio depois disso, e vimos o sinal tocar para voltar, mas nenhum dos dois voltou, na verdade, nenhum dos dois nem se moveu, e música terminou e começou e se seguiu de forma suave. E não sei dizer a hora, nem o porquê.

Mas Sophie pegou em minha mão apertando-a de leve e foi o suficiente para que eu puxasse uma respiração. Observo a mão dela e a viro de modo que o pulso encaixe com o meu dedo indicador, acaricio aquela parte e sinto os seus batimentos.

E é nesse momento em que olho para ela e ela sorri

Foi nesse momento em que os meus batimentos se juntaram aos dela

É nesse exato instante que os batimentos dela passaram a ser a parte mais importante para mim

(Re) Escrevendo As EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora