Capítulo 35 - Tempestades Silenciosas

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Kael (atualmente)


Entro no escritório de Vince e fecho a porta atrás de Margot, ofereço a cadeira para ela e ela se senta confortavelmente antes de olhar para mim confusa

- Você está com a expressão séria, meu querido. Aconteceu alguma coisa?

- Sim – eu falo e me recosto na mesa atrás de mim ficando de frente para ela – O que falou para Sophie?

- Como assim?

- Por favor Margot, não finja – eu falo e ela se apruma na cadeira – Conheço muito bem os seus métodos de abordagem

- Eu não falei nada

- É claro que falou, e eu quero saber o que

- Porque se importa com isso? – ela pergunta fazendo uma expressão aborrecida

- Porque eu a amo – eu falo simplesmente e ela me observa estática

- Sim, vocês são melhores amigos e tudo mais – ela diz abanando a mão – Mas isso não significa contar tudo, eu só conversei sobre coisas de mulher com ela

Suspiro cansado e a observo antes de falar

- Em primeiro lugar Margot nos contamos tudo um ao outro, em segundo eu sei que você não é de conversar sobre amenidades, em terceiro eu sei que você veio com um proposito a esse aniversário e não é por causa dos seus netos – eu falo e vejo ela abrindo a boca para falar, mas eu a interrompo – E em quarto lugar, eu amo Sophie e não só como amigo, e você sabe muito bem disso

Margot se levanta da cadeira e sua bolsa cai com um estalido no chão, nem ao menos pisco quando ela começa a falar alto

- Como ousa? Como ousa me falar isso? Eu sou a mãe de sua esposa, a qual você amava e você vem me falar que ama a Sophie? Como pôde Kael?

- Layla não era minha esposa, e não banque a desentendida quando bem sabe que eu terminei com a Layla muito antes dos gêmeos nascerem

- Vocês estavam juntos, moravam no mesmo apartamento

- Sim, porque eu quis acompanhar a Layla naquele momento – eu falo exasperado – Não porque eu a amava, e ela sabia disso Margot

- Não, ela não sabia, Layla o amava. Deu tudo para você

- Sim, ela me deu Michael e Ethan e por isso eu vou ser eternamente grato – eu falo e pigarreio – Mas isso não quer dizer que eu a amava Margot, porque eu não amava

- Isso é horrível da sua parte

- Não, é só a verdade – eu respondo e inspiro – A verdade que eu demorei anos encobrindo, porque tinha medo, mas não tenho mais. Por isso que preciso que me fale o que disse a Sophie

- Layla ficaria devastada com isso – ela frisa e eu a olho nos olhos enquanto respondo

- Eu fiquei devastado Margot, achando que a morte dela era culpa minha. Mas não é, e por favor não a jogue em mim. Eu fiz e faço tudo o que é o melhor para eles, e acho que Layla aprovaria

- Não importa mais, ela está morta! – Margot grita chorando e eu engulo em seco. A tempestade aos poucos aumentando e diminuindo ao mesmo tempo.

- Sim, ela está. E sinto muito mesmo, por tudo isso – eu falo e me aproximo dela – A culpa é minha, se tem alguém para jogar a culpa, então jogue, mas em mim Margot e não em Sophie, ela me ajudou quando eu mais precisava, e você sabe disso – Margot fica em silencio e eu continuo – Ela foi amiga, companheira e.... – faço uma pausa e Margot olha para mim – E mãe. Você querendo ou não, sabe o peso que Sophie tem sobre todos nós, sabe o quanto ela é importante para nós e sabe melhor do que ninguém que os gêmeos só são assim, corajosos, gentis, amorosos e fortes por causa dela.

Margot fica em silencio e eu me afasto puxando uma respiração, passo a mão pelo cabelo e olho de novo para ela

- Eu já perdi muitas pessoas Margot – eu falo baixinho e ela olha para mim – Por favor não me faça perder mais uma. Não quando ela significa o mundo para mim

Espero e um minuto depois ela começa a contar, fecho os olhos e contenho a raiva quando ela termina. Fecho as mãos em punho e olho para outro lado enquanto respondo

- Se quiser ficar, será bem-vinda – ela suspira auditivamente, enquanto segue até a porta, mas para na entrada

- Layla tinha me contado, sobre você e Sophie – ela diz e eu me viro para ela – Ela dizia que você era apaixonado por ela, mas disse que um dia isso iria passar, que um dia iria encontrar alguém que a superava

Fico em silencio e ela levanta um ombro sorrindo com pesar

- Acredito que minha filha tinha altas expectativas de que seria ela a escolhida e não Sophie – Margot continua e eu não me movo – Acho que ela subestimou o amor que você tem por essa menina

- Sim, ela subestimou

- Vou me despedir dos gêmeos – ela diz e eu aceno concordando – E Kael?

- Sim?

- A culpa é minha de não ter sido presente na criação dos meninos – ela diz baixinho – Não conte a ninguém, mas lá no fundo fico aliviada pelos meninos terem alguém a que se possa chamar de mãe

Sorrio e puxo uma respiração enquanto respondo

- Fique sabendo Margot que Sophie conta até hoje de Layla para os meninos, todas as histórias são sobre como ela foi forte, ou como ela os amava – eu falo e vejo Margot sorri um pouco enquanto enxuga o rosto – Não se esqueça disso, a Sophie nunca foi a vilã da história

Margot se vira para mim acenando e eu a observo abrir a porta enquanto fala

- Até mais Kael – ela diz e vai embora.

E um segundo depois eu me sinto mais leve. Apoio a cabeça em uma estante solitária e puxo uma respiração tentando raciocinar

É isso, a verdade em fim.

Mas eu precisava contar isso para alguém. Mas tinha que ser algo grande e elaborado, Sophie merecia cada pedacinho desse quebra cabeça, era sobre ela em todo caso

Cada parte dele.

(Re) Escrevendo As EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora