Entre Almas [Livro 01]

༺XXXVIII༻

PENSILVÂNIA SÉCULO XV

ஜீ፝͜͜͡͡Estava mais inquieto que nunca.

Victoria tinha vindo até ali, somente para me dizer o que seu plano maquiavélico significava. O sorriso triunfante em seu rosto por se vingar de mim era algo assustador. Ela parecia ter ficado completamente louca da cabeça. Em partes isso era culpa minha. Eu deveria nunca ter concordado com essa casamente se eu realmente não a amava. Acabei permitindo que ela tivesse esperanças em algo que nunca existiu, pelo menos para mim, mas de qualquer maneira nada justificava suas atitudes perversas apenas para me ver atingido.

Agora estava ali, ponderando sobre a ideia de ver Daynna ou não naquela noite. Victoria falara sobre a situação de Daynna em querer me matar, caso descobrisse que eu era um vampiro agora, mas o que realmente me preocupava era a ideia de machucá-la com a minha sede de sangue, que fazia com que um animal feroz me dominasse, pronto para machucar qualquer um para saciar a minha sede infinita. No fim decidi que não seria uma boa ideia procurar Daynna aquela noite e talvez nunca mais. Talvez tivesse que aceitar que Victoria havia elaborado a vingança perfeita.

A manhã parecia não passar nunca. Fiquei horas dando voltas em círculo por aquela casa, sentindo cada vez mais a chama da esperança que outrora brilhava assídua dentro de mim, se apagando cada vez mais sempre que eu pensava em não ver Daynna nunca mais para não correr o risco de matá-la como havia feito com o pobre homem trabalhador de quem havia me alimentado naquele início de manhã.

Ainda me sentia culpado por ter desfeito uma vida, mas sabia que ao me soltar naquela noite faria tudo de novo em prol da minha sede. Victoria havia me transformado em um ser terrível. Ela sabia que eu me martirizaria por matar tantas pessoas inocentes além de que ainda ficaria longe de Daynna para sempre que era exatamente o que ela queria. Ela sabia que eu não a amava e não fizera aquilo na esperança de que eu voltasse para ela, eu tinha certeza. Tudo o que ela queria era me ver aos seus pés como um cão sem dono, lamentando até mesmo pelo dia em que nasci.

O dia fora para mim como a jornada de uma tartaruga-filhote de volta ao mar, se arrastando ao seu destino com o máximo de esforço que conseguia. Quase podia ver os ponteiros do relógio se deslocando de uma forma arrojada diante de meus olhos em minha imaginação. Sentia que o mundo estava parado naquele momento, como se nada seguisse adiante, assim como eu, mas sabia que não era verdade. Para alguém que estava fazendo alguma coisa de seu dia, a hora poderia estar correndo mais que nunca.

Por muito tempo fechei os olhos para ouvir o mundo ao meu redor. Talvez nunca mais pudesse ver a luz do dia outra vez, então queria me conectar ao máximo com os sons e visualizar imagens perfeitas em minha cabeça do que eu iria perder por ser um vampiro. Minha super audição podia captar elementos à uma distância inimaginável. Podia ouvir passarinhos cantando em seus ninhos. Eram seis no total. Podia enxergá-los em minha mente com cores diversas voando em direção aos galhos para descansar suas pequenas asas.

Ao longe podia ouvir o som das águas da cachoeira se derramando sobre a algiba. Cavalos puxando carruagens com senhoras que conversavam com vozes empolgadas sobre algum assunto que não me diz respeito, portanto sequer parei para ouvir. Podia ouvir crianças empolgadas brincando de esconde-esconde com risadas carregadas de emoção.

Abri os olhos e me senti vazio por um momento. A noite não tinha tanta alegria assim. Por muito tempo não dei valor ao calor do sol. Apenas vivia minha vida sem reparar em nada. Agora estava ali querendo tudo o que eu tinha antes e sequer percebia, de volta. Queria poder ser um homem normal novamente e participar do mundo sem medo ou maldição. Queria a companhia de outras pessoas comigo. Não queria ser fadado a viver sozinho para sempre. Aquilo poderia me deixar ainda mais louco. Talvez em breve não me restasse mais nada a não ser a loucura e a minha eterna sede de sangue. Seria apenas um monstro.