Foram cerca de 60 e-mails recebidos, Arthur jamais enviou uma resposta. Alguns são poemas, outros apenas um link para uma fotografia de algum museu/ ou matéria sobre arte. As vezes algo como;
“Aqui se parece muito com Riverton, se parece com casa, com um lugar onde seríamos felizes se eu fosse outra pessoa, alguém melhor. Sinto muito "
Quando li esse, notei que Arthur não conseguia me encarar. Ele não respondeu nenhuma dessas mensagens mas elas o tocaram de alguma forma, e queria lhe dizer que está tudo bem. Ele é seu pai, não dá pra apagar isso mesmo com os crimes que cometeu.
Tentamos usar alguns aplicativos de rastreamento, qualquer coisa que não chegasse ser necessário que Arthur de fato, falasse com o pai porém não conseguimos nada em um dia inteiro de pesquisas. Ele dormiu comigo, na minha casa, não fizemos nada demais além de segurar as mãos um do outro.
Eram 2h da madrugada e por alguma razão, estávamos acordado, encarando o teto. Arthur soltou minha mão, pegou o celular e começou a digitar, então passou o aparelho pra mim.
Na tela estava aberto o rascunho de um email, estava escrito;
“Acho que está na hora de termos uma conversa, pode me encontrar? ”
— Quer enviar? — pergunto, e ele assente mas não olha pra mim — De 0 a 10 quanto enviar isso vai te magoar?
— 10 mas sempre magoou então o que é espetar um pouco mais, não é mesmo?
— Você vai ficar bem?
— Pode dizer isso como uma afirmação, por favor? — sussurra, me encarando agora — Por favor.
— Vamos ficar bem. — digo, lhe asseguro. E devolvo o celular, Arthur aperta "enviar" e joga o celular pra longe. Abraço-o, apertado — Acho que nunca conheci alguém tão forte quanto você.
— Todos os dias da minha vida, todos Astrid, paro e penso nele. No que ele fez, e em como não vimos aquilo acontecer. Como não previmos. — revela, e sinto seu corpo estremecer — Eu era novo na época mas passava bastante tempo com ele, sabia? A gente costumava ir caçar, e ele até me deixava tomar cerveja. Ele nunca demonstrou nada daquilo. Me peguei diversas vezes pensando se em algum momento ele olhava estranho para as nossas vizinhas ou pra qualquer garota mas não tem nada. Ele não fazia nada que o entregasse. E sei que minha mãe também se questiona todos os dias. — há tanta amargura e tristeza em sua voz que estou me esforçando pra não chorar, apesar de sentir gotas molhadas caírem contra minha testa. Ele está chorando — Sempre tem esse momento do dia em que a vejo parada, olhando pra lugar nenhum, sei no que está pensando. Me vejo daquela forma, me questionando aquilo também, paralisado diante dos “e se” e dos “como não vi?”... É assustador. Triste. Brutal. É ter seu coração rasgado diariamente e toda essa merda com Julian ou com qualquer um que lembre e tenha coragem de partir pra cima de mim, isso só me destrói ainda mais... Me faz querer sumir. Querer ser outra pessoa. Ir embora.
— Então vá. — digo, e me sento. Está na hora de ele saber — Eu e sua mãe fizemos sua inscrição numa universidade na Alemanha, e você vai passar, e deve ir.
— Eu sei que fizeram.
— Como?
— Me enviaram um e-mail de confirmação.
— Me odeia?
— Nem. — ele sorri, tristemente — Não posso ir a lugar algum. Não posso.
— Sua mãe está bem com sua decisão.
— Não posso deixá-la. — repete.
A solução pro problema dele parece muito fácil na minha me te, está bem clara agora.
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O Caos até você
RandomAstrid Atwin é uma garota punk que cresceu na Califórnia, ela está contente com a vida que leva na grande cidade; possui muitos amigos, tem um relacionamento aberto com um badboy incrível e está curtindo seu último verão num lugar especial... Isso t...