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Escuto passos próximos à entrada da minha propriedade, largo minha bolsa de viagem em cima da cama e desço as escadas em direção à entrada principal.

Era final da tarde e normalmente ninguém se atrevia a andar pelas redondezas da minha casa. Por ser algo atípico em minha vida, meus sentidos entraram em alerta e as sombras começaram a sussurrar a minha volta.

Assim que coloco os pés para fora, vejo um grupo de crianças xeretando pelas grades do grande portão de ferro que demarcava como o início dos hectares de terra em meu nome.

Corajosos eu diria.

Nem mesmo adultos costumam se aventurar tão próximo assim.

Hora da diversão...

Atravesso para a floresta que com o vento forte, se estreitava como um monstro prestes a atacar suas mais saborosas lembranças e assim que conseguisse o que queria, poderia voltar a sua forma original e esperar alguém ser burro o suficiente ou inocente o suficiente para se atrever a mover-se tão rente de suas raízes novamente.

E foi ali, agachada entre suas raízes que me escondi.

Conseguia ter a visão perfeita do pequeno grupo de enxeridos. Contei seis. Seis projetos de humanos.

Começo a prestar atenção no que sai de seus lábios já ressecados do inverno que se aproximava cada vez mais.

Odeio o inverno, o odeio com todas as forças, tenho raiva do frio, pois ele me faz recordar lembranças que não deveriam voltar à tona.

Mas querendo ou não, independente se você quer ou não, há sempre um gatilho que faz você reviver cada segundo do que talvez tenha sido seu próprio inferno pessoal.

E o inverno era um dos meus gatilhos mais fortes.

– Talvez o cabeça de fósforo esteja lá dentro. Com certeza á essa hora já deve estar acorrentado e pronto pra virar o jantar da bruxa. – diz um garotinho gordo com cabelos loiros dando de ombros indiferente.

Não deixo de soltar um riso nasalado pelo jeito que as crianças me apelidaram, e do que acham que vou fazer com o garoto.

Tão criativos.

– Cala a boca, Rider. Se você não fosse um balofo poderia escalar as grades e invadir a mansão da bruxa! – agora que levanta a voz é um menino com cabelo castanhos e olhos azuis. Parecia ser o líder do grupinho.

– Porquê que você não vai então? Aposto que mesmo sendo um palito você acabaria morrendo pelas pontas afiadas do portão.

O "líder" parecia prestes a ir pra cima do loirinho quando o vento foi aumentando e o céu fechando, mostrando que uma tempestade se aproximava.

Merda!

Isso vai atrasar todos os meus planos.

– Vamos embora logo, Kaium! Não queremos chegar ensopados em nossas casas! Nossas mães vão nos deixar de castigo. Quem liga para aquele moleque? Nem a própria família dele se importa.

Tentei prestar atenção no terceiro garoto que se intrometeu na conversa, mas parei de avaliá-los quando me senti sendo observada.

Coloco minhas sobras espalhadas pelas áreas ocupadas pela floresta, o vento não ajudava em nada minha audição e meu olfato.

Não demorou mais que cinco segundos para minhas sombras me informarem que um garoto feérico estava escondido por entre os galhos há alguns metros de mim.

Fui pega de surpresa já que aqui no Continente, é raro se ver qualquer pessoa com descendências mágicas. O máximo que temos aqui são falsas videntes.

Corte de Sombras e DescobertasOnde histórias criam vida. Descubra agora