Não é uma despedida

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- Deixa eu ver se eu entendi. - Márcia interrompeu - vocês precisam que eu encare os olhos daquele demônio, corra pra longe, depois volte pra encarar de novo. Sete vezes. É só isso? Porque eu já tive que fazer coisas pi...

- Parece que você ainda não entendeu o perigo que você vai correr. - Caipora lançou um olhar desesperançoso para Inês.

- Você tem que levar isso a sério, menina. Quando você encarar ele, todos nós estaremos lá, isso será o início de uma guerra entre as entidades se você não fizer tudo direito. - Curupira se juntou as críticas.

- Não é uma batida policial, Márcia. - Eric complementou.

- Eu sei muito bem que... - a jovem tentou recuperar a palavra, em vão. O detetive continuou sua fala, se colocou de pé e rapidamente se apoiou com um joelho no chão em frente a sua antiga parceira, a segurando pelos ombros.

- A gente tá falando de uma força capaz de te endoidecer só com o grito, Márcia. Uma alma rejeitada por todo o universo de tão ruim que é, e ela pode entrar em você. A gente precisa que você entenda isso antes de...

- Eric, chega. - A jovem se desvencilhou do aperto do amigo. - Quantas vezes eu salvei esse seu traseiro porque você não ligou pro quão perigosa era a situação? - a detetive se colocou de pé, dessa vez falando com o restante da entidades também - Eu não sou nenhuma criança, porra. Eu sou uma policial treinada. Se eu não entendesse os riscos, eu não estaria aqui! Vocês pediram para me buscar, então eu ainda não entendi a desconfiança de vocês na minha capa...

- Não estamos desconfiando, só gostaríamos de frisar quais seriam as consequências da sua falha. - Caipora começou e logo foi seguida por um coro das entidades, tentando explicar algo que Márcia já havia entendido: se ela falhar, todos estão fodidos.

- Se vocês já terminaram... - a voz de Inês se sobrepôs as outras, fazendo com que as entidades e a mortal se calassem. - Márcia está certa. Nós pedimos que ela viesse. E mesmo sabendo o que a aguarda, o que nos aguarda, ela está aqui, disposta a lutar uma luta que não é dela. Então, se puderem não atormenta-la antes que o próprio Laerte faça isso, seria muito civilizado da parte de vocês. - ninguém se atreveu a contestar - Faltam poucos minutos, comecem a se preparar. Márcia, você vem comigo, preciso que conheça o terreno pelo qual você vai correr.

A entidades se dispersaram, terminando os preparativos para a chegada da alma perdida. Quando Marcia e Inês se afastaram o suficiente para que o restante não as ouvisse, a bruxa parou e encarou a mais jovem.

- Eu preciso que você entenda a gravidade da situação que você vai encarar.

- Fala sério, Inês!

- Eu estou falando muito sério. Eu te defendi porque aquela discussão não ia levar a nada. Mas você precisa entender que não importa o quão ruim você acha que esse encontro vai ser, ele será muito pior. Você precisa estar atenta. Ele vai tentar te distrair, vai tentar te engolir com o próprio desespero e você precisa ser mais forte. Forte o suficiente pra conseguir fugir dele e voltar pro mesmo inferno outras 6 vezes.

- Você disse que confiava em mim. Por isso me chamou.

- Eu confio. Mas isso vai ser mais forte do que você pode imaginar, Márcia. Então eu preciso que você se agarre a quem você é o quanto puder, porque ele vai querer tirar isso de você também.

- Eu vou estar preparada. - disse séria, procurando confirmação na face de Inês.

- Não. Não vai. E isso é o que me perturba. - a bruxa disse antes de se virar para ensinar o caminho para a mais jovem.

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