- Ah, ficou impressionado, não? - Reizil estava exultante.
- E como... - respondi, tomado por um calafrio.
Como eu iria voltar pra casa?
- De onde você é, Davi?
- Não sei como te explicar. Como vocês me encontraram?
Depois de observar bem os arredores e fazer algumas anotações mentais, Reizil respondeu, já começando a descer, seguido por mim:
- Nós não te encontramos. Tanteon te encontrou.
- Tanteon?
Ele era o barbado que ficava me encarando. Até aquele dia ainda não tinha falado comigo direito.
- Sim. Ele não estava conosco quando aconteceu, então não tenho muitos detalhes sobre o assunto, mas posso dizer que você apareceu em um lugar bem inusitado. Não se lembra de nada?
- Lembro de ter caído de um... Um carro voador, em uma viagem, de ter tido sensações estranhas, e de me encontrarem preso nos cipós de uma árvore. Não faço ideia de como sobrevivi à queda.
- Um carro voador? Como um avião? - Era a primeira vez que eu ouvia a palavra para "avião" em vanaddiano. - Todos podem ter aviões no lugar de onde você vem?
- Não. Era o que chamamos de... avião comercial. Transporta várias pessoas a troco de dinheiro.
- Hmm... Aqui aviões normalmente só são usados a mando do governo. É muito raro. Deve dar para contar nos dedos todas as vezes que isso já aconteceu.
- E por que... Por que o Tanteon me trouxe junto com vocês?
- Ele pretende te levar ao rei. Acha que ele pode querer saber sobre as circunstâncias do seu aparecimento, que pode ser importante.
Fiquei espantado ao ouvir isso.
- Mas... Não estamos indo à capital ainda, estamos?
- Não, ainda não. - Seu tom deixava claro que ele não me daria mais nenhuma informação sobre para onde estávamos indo.
O resto da descida ao acampamento foi silenciosa.
Ao chegarmos, nos deparamos com uma cena pavorosa.
Dois dos nossos colegas, mortos, seus corpos retorcidos por cima de poças de sangue. Em seus rostos sem vida, expressões de medo. Meu coração disparou. Nunca tinha visto pessoas próximas a mim mortas daquele jeito.
Reizil arregalou os olhos, transtornado. Possesso de raiva, começou a bufar, o rosto vermelho, a respiração entrecortada. Eu nunca o tinha visto daquela forma. Ele me puxou para perto e disse, baixinho:
- Se esconda. Agora.
Então me soltou e foi andando, atento, até sua tenda, provavelmente para procurar sua espada. Ao mesmo tempo em que me senti um covarde por não ir ajudá-lo, também soube que não tinha capacidade para ser útil naquela situação. Voltei alguns passos na trilha pela qual descemos o monte e subi numa árvore. Dali, fiquei observando atentamente a tenda de Reizil, torcendo para que nada de mau acontecesse a ele.
Tanteon não estava no acampamento, tinha saído alguns dias atrás.
Reizil pôs a cabeça para fora da tenda e olhou para um lado e para o outro, cauteloso. Então saiu devagar, espada em punho.
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As Crônicas das Muitas Terras - Um Novo Horizonte (#letrasdouradas)
FantasiaDepois de um acidente terrível, Davi Martins se vê lançado em um mundo totalmente novo e diferente de tudo o que já viu. Em sua jornada de volta para casa, ele encontrará aventuras e perigos inimagináveis - Assassinos impiedosos, competições frenéti...