Se dá para conhecer o nível de limpeza de um restaurante por ver como é o banheiro, eu digo que você também pode conhecer o nível de segurança de um lugar por ver como são os hospitais.
Na enfermaria de um hospital ou pronto-socorro, você encontra pessoas que sofreram os mais variados tipos de ferimento. Se a região for um lugar mais seguro, você verá mais vítimas de acidentes ou de doenças do que de crimes. Se for um lugar mais perigoso, será o contrário. Se a região tiver boas condições de saneamento, normalmente os hospitais terão menos pessoas com vermes e perebas, e os tipos de doença serão mais restritos. Se não tiver... já sabe.
É claro que vai ter de tudo um pouco em todos os hospitais, mas você pode notar a diferença na quantidade de casos de cada tipo.
Em Prolum, a maioria dos doentes na enfermaria eram idosos. Isso é um bom sinal. E, apesar de ter alguns bêbados e outras pessoas com feridas bem feias, a maioria sofria de doenças sem sinais externos. E o bairro em que estávamos nem era um dos melhores da cidade. Tudo indicava que as pessoas tinham uma saúde ótima naquela região, e que os guardas, apesar das falhas daquele dia, eram eficientes.
A enfermaria era uma casa grande, dividida em vários recintos quadrados, onde muitas pessoas se deitavam em camas, separadas umas das outras por finos lençóis. A iluminação era propositalmente fraca, para não incomodar os que passavam mal, mas os curandeiros tinham luminárias que poderiam usar se fosse necessário.
Por falar nos curandeiros, esses médicos eram realmente intrigantes. Eles usavam vestes cumpridas com um avental por cima e longas luvas brancas. A blusa branca que ficava por baixo da túnica tinha gola alta, que podia ser puxada até o nariz e usada como máscara. Também tinham óculos de proteção redondos, que puxavam sobre os olhos se julgassem necessário. Ao redor de seu torso, tinham um enorme cinto de utilidades, com diversas bolsas, contendo ferramentas e remédios. Eles eram bem limpos, e todos usavam óleo que exalava um perfume suave. Cada um cuidava de uma sala da enfermaria, um paciente após o outro.
Na entrada, havia uma pequena sala, onde um atendente pegava informações com as pessoas que entravam, as escrevia numa folha de papel e entregava a um ajudante, que acompanhava o paciente até a sala com vaga para ele, onde esperaria ser atendido pelo curandeiro. Caso não houvesse vagas em nenhuma sala, como em todo hospital, os pacientes deveriam esperar na recepção, sentados ou em pé. A chamada era feita por ordem de chegada, mas pessoas em estado grave passavam na frente.
— Boa noite — comprimentou formalmente a curandeira. — Meu nome é Carla. Como você está?
Ela era negra e tinha cabelo cheio. Aparentava estar no fim dos quarenta anos; sua expressão serena transmitia confiança e tranquilidade.
Me sentei para falar com ela. Tinha passado os últimos minutos deitado na cama.
— Boa noite. Sou Davi. Estou bem... Caramba... Essa cama me deu sono.
Ela sorriu.
— O efeito é esse mesmo. O que temos aqui? Que ferimentos feios são esses... Até que foi feito um trabalho razoável para estancar o sangramento. Foi você mesmo quem fez?
— Uhum.
Ela não entendeu.
— Sim, fui eu.
— Inteligente. Mas o braço está tão ruim que chega a pingar sangue mesmo assim.
— É, a coisa está bem feia mesmo...
— Vamos analisar isso.
Carla tirou de uma bolsa um pequeno equipamento semelhante a uma lanterninha, que dava para segurar com dois dedos. Quando ela a ligou e apontou para o meu braço, no entanto, pude ver meus ossos e músculos através dele, em tons de laranja translúcido. Fiquei muito impressionado.
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As Crônicas das Muitas Terras - Um Novo Horizonte (#letrasdouradas)
FantasyDepois de um acidente terrível, Davi Martins se vê lançado em um mundo totalmente novo e diferente de tudo o que já viu. Em sua jornada de volta para casa, ele encontrará aventuras e perigos inimagináveis - Assassinos impiedosos, competições frenéti...