Despertar

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Muitas vezes, quando estamos perto de acordar, nos remexemos na cama, abrimos e fechamos os olhos várias vezes, e alguns poucos minutos parecem quase meia hora. Sabemos que queremos dormir só mais um pouco, mas então esquecemos, e temos um sonho curto e sem sentido, para depois abrir os olhos, virar para o outro lado e então fazer tudo de novo, até o momento em que decidimos levantar.

Eu passei por uma experiência mais ou menos parecida quando estava para despertar para minha nova vida. Com dores e incômodo, me sentindo sujo e enjoado, abri os olhos e me remexi várias vezes, sem entender direito o que acontecia ao meu redor.

Na primeira vez, eu parecia estar preso no alto por vários cipós, e havia um deserto a minha volta.

Na segunda, me derrubaram e me fizeram montar num cavalo, com a cabeça apoiada nas costas de quem conduzia o animal.

Na terceira, tinham umas três ou quatro pessoas olhando para mim, tentando falar comigo, mas eu não entendia nada.

À partir de então, acordei e voltei a dormir diversas vezes. Umas vezes acordava dentro de uma tenda confortável, pequena e escura. Outras vezes estava no cavalo de novo. Em muitas ocasiões escutava pessoas conversando, mas não entendia o que diziam.

Finalmente, despertei para valer.

A primeira coisa de que tomei consciência, claro, foi a dor. Você até sente dor enquanto dorme, mas não é a mesma coisa que quando está acordado. Pelo menos não parece ser. Sentia dor no corpo todo, mas principalmente na parte externa dos braços e das pernas. Também sentia muita dor de cabeça e no pescoço.

Abri os olhos devagar. Estava naquela mesma tenda. Era de tecido marrom escuro, e fora o colchão onde me deitava, não havia mais nada dentro dela. O colchão era leve e confortável.

Me levantei com dificuldade, percebendo que tinha vários cortes feios pelo corpo. Meus braços e pernas estavam enfaixados com um tipo de gaze. As roupas que usava não eram as minhas.

Aliás, minhas roupas logo de cara chamaram minha atenção. Não pareciam exatamente "normais". Estava vestindo um camisolão sem mangas branco, largo e grande, com uma bermuda justa de lã marrom. Percebi que o camisolão normalmente deveria ser usado por dentro da calça, parecendo um pouco mais com uma camisa normal. Ele tinha pequenas cordas na gola para apertá-la, mas que no momento estavam soltas, e a abertura revelava uma parte dos meus cabelos do peito. Não havia sinal das minhas roupas originais ou da minha bagagem.

A bagagem!

Comecei a pensar em tudo o que tinha acontecido. "Como é possível que eu esteja vivo?"

Resolvi sair da tenda devagar.

O lugar era um bosque de árvores curvas e baixas. O céu estava nublado, e a terra, em que eu pisava descalço, úmida. Estava em um acampamento, com quatro tendas, espalhadas na frente e ao lado da minha. A maioria tinha estampas coloridas, diferente da que tinha ficado para mim. Um grupo de pessoas estava discutindo ao redor de uma mesinha, ao lado da pequena fogueira, uns vinte metros à frente.

Tentei andar na direção deles, mas senti fraqueza e forte tontura. Parei e me apoiei com as mãos nos joelhos, os olhos bem cerrados.

Nesse momento, alguém percebeu que eu tinha acordado, e gritou para os outros. Todos olharam na minha direção. Dois deles vieram me ajudar, e me seguraram até que eu tivesse forças para me erguer; então me apoiaram passando meus braços pelos seus ombros, um de cada lado, e me levaram até a fogueira.

As Crônicas das Muitas Terras - Um Novo Horizonte        (#letrasdouradas) Onde histórias criam vida. Descubra agora