O café da manhã na pensão foi maravilhoso, mas não tomarei seu tempo me delongando nesse assunto. O importante é que Tanteon e eu acordamos cedo, arrumamos nossos pertences e, depois do café, nos despedimos com abraços calorosos de dona Rosalina, do Fern, e de outros hóspedes que estavam à mesa conosco. Pegamos nossos cavalos e seguimos caminho pela estrada principal.
A viagem seguiu sem que eu ou Tanteon dirigíssemos sequer uma palavra um ao outro.
Foi só quando armamos acampamento para almoçar e descansar um pouco que resolvi tirar algumas informações dele e falar sobre meu problema. Embora não dissesse diretamente, ele parecia estar me dando algum espaço para esse tipo de coisa desde o dia anterior.
Nossas tendas estavam armadas entre a estrada de terra e um barranco, a céu aberto. O prato que comíamos naquele momento tinha bife, ovos, ervilhas e batatas - suprimentos que Tanteon comprou antes de partir, e que eu cortei e assei (ou cozi, no caso do ovo) à fogueira para comermos.
Algumas garfadas depois, com uma expressão pensativa no rosto, comecei:
- Eu preciso voltar para casa, Tanteon.
Sem tirar os olhos do prato, ele perguntou:
- E onde fica a sua casa?
Boa pergunta. No planeta Terra, em um país chamado Brasil. Existia alguma resposta que poderia deixá-lo satisfeito?
Enquanto pensava no que poderia dizer, ele começou a me encarar, como fazia antes. Quando pensei em abrir a boca para responder, ele interrompeu:
- Deixe eu lhe mostrar uma coisa.
Colocando o prato em cima de uma pedra, Tanteon se levantou e foi buscar algo na bolsa, em seu cavalo, que pastava ao lado dos outros três. Dali, tirou um dos grandes mapas que costumava analisar e discutir com os colegas falecidos e virou-se para mim.
- Este é o mapa de todo o Continente. Todo o mundo que nós conhecemos.
Diante de mim, ele o abriu sobre a grama, e colocou duas pedras por cima para mantê-lo aberto. O mapa foi feito em uma grande folha grossa de papiro, desenhado à tinta por um cartógrafo habilidoso, colorido apenas em alguns pontos específicos, como na água, ou nas indicações de florestas.
Eu passei os olhos por ele ansiosamente, pois poderia ser muito útil para mim.
O desenho representava uma grande extensão de terra cercada por água, como um continente. A terra era larga ao sul (ocupando o mapa inteiro nessa parte) e se estreitava ao norte, praticamente se tornando uma península. Quatro países cercavam Vanaddor; um ao norte, chamado Brakkah; um ao leste, de nome Sccaldir, em uma grande ilha; e três ao sul: Javen, Incomenistão e o Império Crécio, na fronteira.
O mapa não mostrava as extremidades norte e sul do continente, e nem o oeste; havia regiões que não estavam mapeadas nessas direções.
Frustrado, percebi que a única coisa que aquele mapa me dava era uma confirmação de que eu estava em um lugar totalmente diferente do meu planeta Terra. Aquele era um continente inteiro que não existia no meu mundo!
De repente a proporção da situação começou a me assustar um pouco. Minha cabeça começou a girar.
Surgiu a dúvida em minha mente: "Então por que conheço as constelações que aparecem no céu à noite; e por que existem elementos de línguas antigas da Terra no idioma vanaddiano?" Aquele mapa, como muitas coisas na vida, trouxe mais perguntas do que respostas.
Enquanto isso, Tanteon inspecionava cuidadosamente cada reação minha.
- Você realmente não é daqui - concluiu. Então proferiu as próximas palavras bem devagar. - De onde você é?
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As Crônicas das Muitas Terras - Um Novo Horizonte (#letrasdouradas)
FantasíaDepois de um acidente terrível, Davi Martins se vê lançado em um mundo totalmente novo e diferente de tudo o que já viu. Em sua jornada de volta para casa, ele encontrará aventuras e perigos inimagináveis - Assassinos impiedosos, competições frenéti...