Bruidhinn Corner

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Algumas experiências são tão fortes que são capazes de nos mudar no íntimo. Se elas se prolongam por muito tempo, podem nos fazer até mesmo questionar o que já vivemos e no que acreditamos. Nessas situações, ou nesses lugares, podemos nos encontrar, ou nos perder.

Estávamos nas proximidades de uma cidade, na qual passaríamos a noite.

Não era a primeira que atravessaríamos. Mais cedo naquele mesmo dia, cruzamos uma cidade grande.

Nós andamos apenas pela rua principal, sem fazer pausas e sem nos desviar do caminho. Para a minha surpresa, o lugar tinha energia elétrica. Havia postes de iluminação em todas as ruas. As casas não eram pequenininhas como eu pensava, muitas delas eram grandes e bem projetadas.

A maioria tinha cômodos quadrados ou retangulares, embora algumas fossem curvilíneas, e até tivessem cúpulas. As portas e janelas eram emolduradas, e as telhas normalmente eram de cerâmica escura. Os materiais que se destacavam nas construções eram diversos tipos de pedra e madeira, embora tijolos, cimento e vidro também fossem utilizados.

As pessoas se transportavam pelas ruas de pedra por meio de carroças e carruagens. Apesar de desfrutarem de energia elétrica e de algumas máquinas que facilitavam a vida, não existiam eletrodomésticos. Era fantástico como podiam viver de forma tão pacata, mesmo em posse de tecnologia.

Havia praças, feiras e também o que eles chamavam de "armazéns", que se aproxima do que conhecemos como supermercados. Lá, havia alimentos enlatados, congelados e bem conservados. Como havia muito trabalho agrícola, os armazéns não eram tão imprescindíveis. Mas muitos produtores vendiam para o armazém (ou em feiras próprias) parte da sua produção depois de pagarem os impostos e separarem o que iriam usar dentro de casa. Assim, outros, que não trabalhavam no campo, compravam seus suprimentos básicos.

Também existiam restaurantes aqui e ali.

Não existia uma grande indústria; a maioria dos itens, fossem roupas, móveis ou utensílios domésticos, eram encomendados com artesãos, e feitos sob medida.

As roupas que usavam não eram feitas incluindo fibras sintéticas. Víamos tecidos feitos de lã, linho, algodão, ceda, ou de alguma mistura, mas nenhum de cetim, elastamo ou outros semelhantes. As pessoas também usavam couro e peles. É por isso que suas roupas se pareciam com as de antigamente. Mesmo assim, seu corte e design eram muito bonitos e originais.

Era possível deduzir mais ou menos que profissão, ou de que parte da roda da vida a pessoa pertencia, por observar suas vestes. Empregados usavam túnicas longas com aventais e chapéus engraçados, que cobriam as orelhas e cuja ponta descia até o pescoço; fazendeiros normalmente usavam macacões e chapéus de palha; estudiosos e escritores usavam togas enroladas por todo o corpo. Os artesãos já eram mais difíceis de diferenciar uns dos outros.

Sem o uniforme do ofício, você também poderia dizer quem tinha mais dinheiro, claro, por ver quem usava mais joias, e quem tinha as roupas mais estilizadas ou de tecidos mais caros.

Mais tarde aprendi (em conversas e leituras que provavelmente não estarão registradas neste livro) que cada cidade, bem como as terras ao redor, tinham um maioral que as administrava e que reportava ao rei. Esse maioral geralmente era um patriarca do clã que habitava aquela região. No entanto, em alguns casos não era mais assim. Um membro destacado e valente da sociedade podia ser indicado pelo povo para esse cargo. Se a maioria dos votos dos cidadãos fossem positivos para ele, o rei seria consultado a respeito. Tendo a bênção do rei, ele se tornaria um nobre, seria treinado na capital, e voltaria investido para governar a cidade.

As Crônicas das Muitas Terras - Um Novo Horizonte        (#letrasdouradas) Onde histórias criam vida. Descubra agora