O Caminho da Espada

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A alguns quilômetros ao leste de Prolum, jazia um montão de ruínas de um lugar outrora glorioso. No dia seguinte ao da luta contra Bill e seus capangas, pouco depois de o sol ter acabado de acordar, Tanteon e eu estávamos chegando nesse lugar. E claro que, para isso, tivemos que acordar de madrugada, e percorrer boa parte do caminho no escuro.

A estrada que levava até lá era cercada por grandes árvores de tronco reto, bem separadas umas das outras; e já estava ficando cheia de mato, por não ser utilizada há anos. Ela terminava abruptamente em frente à antiga construção.

O edifício se assemelhava a um tipo de templo, ou palácio, com grandes pátios, enormes colunas, porém sem boa parte das paredes e do teto, e com montes de pedra acumulados em vários cantos.

— O que estamos fazendo aqui? — perguntei, esfregando os olhos cansados.

Tanteon tinha feito com que me sentasse de frente para o nascer do sol, em um pátio enorme, com muros que ainda estavam de pé e uma baixa plataforma no centro. Dali, pudia ouvir o canto dos pássaros e o som de um rio correndo, ao longe. Por cima dos muros, enxergava as altas copas das árvores.

O próprio Tanteon estava longe de mim, olhando para tudo com uma expressão distante. Pouca atenção tinha dado à minha pergunta. Quando finalmente falou comigo, ainda olhava em outra direção, e precisei me esforçar para ouvir.

— Se vou ensiná-lo a lutar, devo treiná-lo no mesmo Caminho que aprendi.

Ele se virou para mim, com um olhar profundo, e veio em minha direção. Depois de parar na minha frente, enfiou a mão na gola da blusa de linho que vestia. Ele também usava braceletes de couro, calças, botas e uma faixa na cintura. Segurava o estojo de sua espada na mão esquerda, e não nas costas como de costume. Percebi um brilho dourado enquanto ele remexia debaixo do colarinho. Dali, ele tirou um fino cordão, que tinha sido bem escondido por baixo da roupa. Dele pendia um pingente de ouro, com um desenho em alto-relevo de uma espada virada para o alto, e a representação de um forte brilho irradiando da ponta.

Tanteon olhava para baixo enquanto segurava o pingente para que eu visse. Aquele lugar provocava nele muitas emoções.

— Durante muitos anos, fui um paladino da Ordem da Espada... — revelou.

Aquela frase, por si só, era bem surpreendente.

— Éramos defensores da paz, da verdade e da justiça em todo o Continente; os guerreiros mais honrados e respeitados, onde quer que estivéssemos. Até que... tudo chegou a um fim confuso e sombrio. Hoje, até mesmo usar este pingente não é algo visto com bons olhos. É por isso que o escondo. — Fez um gesto mostrando o local. — Este lugar onde estamos é o Palácio Yustiae. Era um lugar de paz, aprendizado e companheirismo para os paladinos, há algum tempo. Eu lembro como se fosse ontem. Hoje, o mero fato de estarmos aqui pode nos causar problemas.

Pensei por alguns segundos no que ele tinha dito. Sua expressão era séria, mas ele parecia aberto a perguntas.

— O que foi que aconteceu por aqui?

— Huh... — ele balançou a cabeça, um sorriso triste no rosto. — Ah, nem eu saberia explicar, Davi... O importante é que você saiba que hoje a Ordem é vista com maus olhos. Mas não era assim no passado.

— E você... ainda se considera um paladino?

— Sim. Ainda tento viver pelos princípios da Ordem, embora ela não exista mais. Todos que me conhecem pensam que abandonei o Caminho.

— Hhmm... E vocês, paladinos, serviam ao rei?

— Alguns de nós sim. Um paladino tinha autonomia para andar pelo país e seguir  qualquer propósito que tivesse no coração, fosse este servir ao rei, se tonrar defensor de uma cidade específica, explorar partes perigosas ou desconhecidas do mundo, dentre outras coisas. Ele só era obrigado a continuar seguindo o Caminho da Espada. Para um rei, era considerado muito vantajoso ter um paladino entre seus homens de confiança.

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⏰ Última atualização: Jun 18, 2021 ⏰

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