Capítulo V - O Peso da Mentira

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Assim que a manhã chegou, todos os sobreviventes do ataque à vila se levantaram para partir do esconderijo rumo ao rio, enquanto Khor se preparava para ir pela direção contrária. Havia tirado o manto e as roupas de cima para dormir, então enquanto se vestia foi abordado por Hetro, que parecia receoso enquanto carregava o colar de sua mãe em mãos, feito com pérolas tão lindas quanto as que  compunham o seu próprio colar.

 — Kohr, você pode me fazer um favor? — Ele dizia com a cabeça abaixada. — Sinto em ter que te pedir isso, mas...

— Você quer que eu leve o colar de sua mãe até o monte dos sábios, não é? — Disse Khor, com pressa mas em um tom gentil. Por mais que fosse cheio de marra e arrogante na maioria das vezes, carregava um enorme carinho por Luipa e principalmente por Hetro.

— Você sabe que eu não pediria isso se não fosse importante, para minha mãe e para nossa cultura. Sei que é meu dever mas não posso fazer isso enquanto guio meu povo, ainda mais com a perna machucada...

— Eu levo sim — Não queria parecer grosso com o jeito que falava, mas a verdade é que não conseguia falar diretamente com Hetro, olhando em seus olhos. Não aguentava o peso de mentir para ele.

— Obrigado — Parecia mais aliviado agora. — Sabe Kohr, eu tenho medo de não ser um líder tão bom quanto ela...

— É claro que vai ser — Ele não conseguia permanecer ignorando Hetro, então levantou o queixo dele com o dedo indicador e olhou fundo em seus olhos. — Você tem potencial para ser um grande líder, só não se sente seguro o suficiente ainda, mas isso é normal. 

— Você também sentia insegurança quando era um general? — Aquilo desbloqueou memórias em Kohr, que calou pensativo antes de responder.

— O tempo todo, mas os clones estavam lá para ajudar — Lembrar daquilo lhe deu uma sensação ruim. — Não gosto de ter que matá-los. Antes eu lutava contra dróides, mas agora é completamente diferente...

— Eles fizeram a escolha deles, Kohr, você também tem que fazer a sua. Se não matá-los, eles irão matar pessoas inocentes.

— Você não estava na guerra Hetro, não entende. Os clones me salvaram da morte inúmeras vezes. Talvez eles não tenham escolha...

— Mas ainda assim estão matando inocentes, e cabe a você decidir o que fará para impedir isso.

Kohr se sentiu surpreso com aquelas palavras, encarou Hetro e disse: — E você ainda se acha um líder ruim?

— Sabe que eu só consigo porque tenho você ao meu lado — Ele sorria enquanto falava. A dor da noite anterior parecia sumir enquanto ele conversava com Kohr.

Hetro foi ajudar os sobreviventes a se arrumarem e deixou Kohr por um momento, que o observava de canto de olho enquanto se arrumava, com o peso da mentira caindo ainda mais sobre suas costas. Por mais que fizesse muita amizade com os clones nos tempos de guerra, Luipa e Hetro foram as únicas pessoas que ele de fato se permitiu sentir afeto e sabia que seu amigo precisaria dele após a morte da mãe, mas estava disposto a fazer esse sacrifício em troca da vida de Hetro, só esperava que ele entendesse isso em algum momento e seguisse com sua vida. Torcia para que ele conseguisse superar. Após terminar de se arrumar, Kohr pegou o colar de Luipa e se despediu de Hetro brevemente, até que ele pegou em seu braço e disse:

— Que a Força esteja com você.

— Com você também — Khor disse rapidamente e deu as costas a Hetro, partindo enfim.

Sua pressa foi justificada quando olhou se já estava longe do alcance de Hetro e se permitiu chorar logo depois da afirmação. Aquelas palavras significavam as memórias de sua cultura, cujo ele já tinha se esquecido mas seu amigo fez questão de lembrar, mesmo não compartilhando da mesma cultura. Mas um Jedi mente para seus entes queridos? Um Jedi tem entes queridos? Kohr nunca deixou de acreditar na Força, ele ainda podia sentí-la dentro de si, mas em determinado momento deixou de depositar suas esperanças nela. 

Star Wars: Honra e DesonraOnde histórias criam vida. Descubra agora