Boa leitura <3
Raquel não apareceu no jantar, e notei isso no segundo em que pisei no salão, me fazendo tropeçar e render zoeiras de Ricardo falando que estava caidinho pela princesa e que isso estava me fazendo ficar atrapalhado cada vez mais. Dei um soquinho nele e continuamos a comer.
Depois de ser quase o último a sair do salão, segui para meu quarto afrouxando a gravata e abrindo dois botões da camisa social, comecei a me perguntar o motivo de Raquel não poder entrar naquele escritório antes, e só agora. Por que ela estava chorando? Eu vou ser um bom cavaleiro? Será que algum dia ela vai aceitar minha presença aqui, e poderemos ser amigos? Afundei a cabeça no travesseiro com meus pensamentos, me virei para um lado, depois para o outro e levantei da cama desistindo de dormir de vez.
Fui para a varanda pegar ar fresco e contemplar o jardim, mas me deparei com a figura de alguém encolhido, sentado na beira da fonte, pulei para dentro do quarto para pegar meus óculos, confirmei meu palpite. Era ela. O que estava fazendo do lado de fora? Eu deveria ir até lá? Não conseguiria dormir mesmo que quisesse de qualquer forma.
Abri a porta e corri para as escadas de pijama, me dirigindo até o lado de fora depois de acenar para os guardas de ronda, desci as escadas da frente devagar, me aproximando dela com cuidado. Não queria assustá-la. Aos poucos pude ouvir barulhos de choro e soluços se intensificarem.
— Ei — sussurrei ao lado dela.
— Mierda — Raquel ia cair dentro da água mas agarrei seu braço antes — Que susto! Qual seu problema? — disse voltando-se para mim e se soltando.
— Me desculpe eu ... eu te vi de lá de cima e ... — gaguejei — Vim ver se estava bem. — me agachei, ficando na sua altura.
Seus olhos encontraram os meus e se encheram de lágrimas, ela me abraçou e continuou chorando. Retribui seu abraço sem jeito e acabei caindo de bunda na grama junto com ela, que se aninhou mais ainda em meus braços molhando minha camisa. Lentamente coloquei minha mão em seus cabelos iniciando uma tentativa de carinho para acalmá-la.
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Se passaram alguns dias desde que tudo aconteceu naquela noite, e com isso não trocamos mais nenhum tipo de comunicação, nada de olhares, nada de pegar em sua mão para descer as escadas e nenhuma palavra dita. Somente observando-a, pude sentir seu semblante triste e desanimado a cada dia que se passava.
Eu continuava minha rotina tentando não pensar tanto nos últimos momentos, e revivendo eles me perguntando o que tinha feito de errado, mas não adiantou. Ela sempre estava na minha mente.
Então tomei a liberdade de me aproximar dela de uma forma que somente eu sabia, um pequeno pássaro de papel feito com dobraduras. Estava perfeito e muito bem modelado no papel vermelho que encontrei no escritório, e como o único lugar em que podia ver sua presença era lá, tomei café mais rápido que todos e corri para a sala colocando em sua mesa minha pequena tentativa de comunicação.
Ela saberia de quem se tratava quando o assunto eram dobraduras, minha mesa vivia cheia delas todos os dias.
Primeiro Max entrou na sala, tirou o paletó, e se sentou em sua cadeira enquanto movia seus olhos para mim como uma forma de análise e então depois Raquel passou pela porta com calça cáqui e uma blusa preta por cima, se dirigindo para sua mesa, mas parando logo em seguida aos poucos para observar o detalhe fora do normal.
Voltei minha atenção para as folhas em minha frente e continuei observando-a de canto. Ela parecia perdida olhando para o pássaro, para mim e para seu pai que retribuiu seu olhar em seguida pigarreando. Eu perdi meu ar por uma fração de segundos, até que alguém bateu à porta levando o clima para longe.
— Cara, esqueceu que tem treino hoje? — Ricardo estava escorado no batente da porta.
— Err... na verdade eu tinha me esquecido completamente, desculpe.
— Está tudo bem, aparece logo lá pelos lados da arena, papa quer falar com você.
— Já estou indo. — balancei a cabeça e ele se retirou.
Juntei os papéis em uma pilha ao lado da mesa e guardei as canetas que estava usando.
— Com licença majestade, alteza. — Fiz uma reverência olhando para Max e Raquel, notando seu cabelo já amarrado com um lápis, procurei rapidamente pelo pássaro mas não o encontrei.
E a tarde foi um belo fracasso, tinha pensado em Raquel o tempo inteiro, me deixando mais distraído e despreparado para o treino. Acabei perdendo a conta de quantos desvios fiz durante o treinamento.
— Qué pasa hoje, Sérgio? Está tão distraído e fora do ar. Essas últimas semanas são importantes para a sua formação definitiva, e você precisa se concentrar. — suspirei abaixando minha cabeça. — Vamos sentar? Venha. — sinalizou para o seu lado.
— É tão complicado... — falei — Não tenho a menor ideia do que estou pensando e muito menos do que falar, sabe? Na verdade, nem o motivo eu sei.
— Mira, não precisa falar agora, mas precisa organizar isso logo e resolver a situação para continuar atento. Não se esqueça que além de força, a vida se trata daqui, — apontou para a cabeça — e daqui principalmente. — apontou desta vez para o coração.
— Estou confuso. Sabe quando você pensa que está fazendo a coisa certa, mas aí tudo fica embaçado e complicado, eu só queria fazer algo bom mas a mensagem captada foi de duplo sentido.
— Na verdade eu sei como é. — passou uns minutos em silêncio. — Acho que você deveria esclarecer seja lá o que for isso, mesmo que seja difícil. — Soltei uma risada sem graça e olhei para o chão — Vamos terminar por hoje, vale? — Ele deu um tapinha em meu ombro e eu assenti.
Sai da sala de treinamento me sentindo frustrado e bravo comigo mesmo, onde estava com a cabeça em sair aquela noite para ver a razão de Raquel estar do lado de fora? O que eu pensei quando fiz aquele origami e deixei em sua mesa, sendo que nem deveria estar no escritório? Eu poderia muito bem ser somente uma pessoa concentrada, sem relações além do trabalho, frio e ignorante. Aí estava o problema, eu não era assim. Se estava realmente bagunçando minha mente e as minhas escolhas iriam ser influentes no futuro, resolvi fazer de vez indo até o escritório em busca da figura de papel.
Existiam duas alternativas, ou ela entenderia e talvez me respondesse, ou daria errado e tudo ficaria pior entre nós dois. E suas atitudes comigo, só me deixavam mais intrigado e curioso por quem era Raquel Murillo.
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A nossa História (Concluída)
RomanceSergio Marquina é um jovem fugitivo de suas próprias cicatrizes. Depois de ter andado por alguns lugares ao redor do mundo, retorna para a terra em que nasceu para recomeçar uma nova vida. Ele vai enfrentar um novo presente cheio de experiências no...