Entre Maldições [Livro 02]

༺II - DORIAN༻

ஜீ፝͜͜͡͡Minha cabeça estava caótica.

O sonho da noite passada ainda me assombrava, por mais que eu soubesse de que aquilo nada mais passava que apenas um simples pesadelo. Talvez as memórias do meu passado que voltaram, me fazendo descobrir que eu possuí a maldição do caçador na outra vida, me trouxessem isso. Às vezes o subconsciente se manifestava de maneiras diversas. Em algumas ocasiões o que ia para ele se manifestava imediatamente ou se manifestava muito tempo depois. Tentava me convencer ao máximo de que era aquele o motivo, mas ainda não apagava de mim a perturbação que se instalou em meu ser apenas de imaginar que poderia fazer algum mal à Sebastian.

Seus braços naquela noite foram o meu alento. Quis morar nele mais que tudo. Estava assustado e confuso, o que me confortava naquele momento era ele. Sua pele gélida contra a minha não me incomodava de maneira alguma. Me sentia seguro quando estava perto dele. Ele fazia questão para fazer eu me sentir assim.

Por algum tempo tive dificuldade em voltar a dormir por causa do pesadelo, mas com Sebastian ali me confortando, acabei pegando no sono algum tempo depois. Agora estava ali, com os raios de sol entrando pelas frestas da janela do meu quarto, contra os meus olhos, fazendo com que acordasse aos poucos. Passei o dorso de minhas mãos em meus olhos, enquanto me abria para espreguiçar. Procurei Sebastian com os olhos ao me sentar na cama, mas não o encontrei. Talvez estivesse presenteando minha irmã com sua ilustre companhia para que Blair pudesse ir descansar depois de uma noite de treinamentos intensivos.

Sentei na cama bocejando e passando a mão pelos meus cabelos com as imagens do sonho voltando à minha cabeça, enquanto sentia o medo se instalar em meu coração. Pude ver minhas mãos meladas com o sangue de Sebastian quando cravei a adaga em seu peito. Pude ver seu rosto pálido tornando-se acinzentado e seus olhos perdendo o brilho que outrora carregaram. Em meu peito meu coração batia aceleradamente. Só queria me esquecer daquilo tudo, afinal não poderia deixar um simples pesadelo me desestabilizar tanto.

Passamos por momentos turbulentos para enfim encontrar a paz. Tive uma semana agitada depois de ter me tornado um imortal e agora finalmente desfrutava da perfeita paz, portanto não poderia me deixar abalar com aquilo. Deveria colocar minha cabeça no lugar e aproveitar ao máximo a nova vida que levava ao lado de Sebastian, que em apenas uma semana, me fez sentir como nunca nesses dezoito anos de vida. Só ele teve aquele poder sobre mim. 

Mesmo com as memórias da Daynna voltando, minha vida naquela época era como Dorian. Eu tinha uma história própria. Mesmo com o mesmo espírito em mim, eu ainda não deixava de ser uma pessoa diferente. Eu tinha uma história e uma criação um pouco mais atualizada, portanto ainda não poderia ser como a mesma pessoa de seis séculos atrás. Assim como as eras evoluíam, as pessoas também e consequentemente eu também.

Levantei da cama usando apenas uma cueca preta que ficava extremamente justa em mim. Gostava bastante dela e já a tinha como um objeto de estimação, pois gostava do que via ao encarar o meu reflexo no espelho com aquela peça. Caminhei até as cortinas da casa, abrindo aos poucos à janela, deixando que meus olhos se acostumassem cada vez mais com o clarão que entrava, portanto logo a luz invadiu com ímpeto meu quarto, tornando tudo nele visível aos meus olhos limitados.

Caminhei pelo quarto em direção ao guarda-roupa para pegar uma das tantas peças novas de roupa que Sebastian havia me comprado na cidade no mesmo dia em que Victoria quase matou a minha mãe.

Por mais que tivesse sido um dos dias mais difíceis para mim, por quase ter perdido minha mãe, ainda tinha construído bons momentos com Sebastian e Blair, além do fato de que minha mãe saiu completamente ilesa daquilo tudo, pelo menos de forma física, pois já não podia garantir que mentalmente estaria da mesma coisa, já que começara a ter crises de pânico frequentes, aonde estava. Segundo ela, uma vizinha amigável a estava ajudando sempre que podia quando as crises vinham. Aquilo de certa forma me deixava um pouco mais tranquilo.