Entre Maldições [Livro 02]

༺VIII - DORIAN༻

ஜீ፝͜͜͡͡Tudo estava calmo.

Eu estava de pé na floresta no meio daquela noite de lua cheia, enquanto o som dos grilos e sapos ao longe tomavam os meus ouvidos. Olhei para as minhas mãos e percebi que segurava uma adaga bastante bonita com detalhes em prata e uma lâmina aparentemente bastante afiada que reluzia mesmo com a pouca luz que entrava pelas frestas dos galhos das árvores. Não sabia ao certo o porquê estava ali, mas até mesmo a sensação da brisa frívola daquela noite me atingia de uma forma inexplicável. Sabia apenas que estava ali e parecia ser tudo o que eu precisava saber.

Ouvi ao longe um uivo muito semelhante ao de um lobo, mas nunca havia ouvido falar de algum lobo ali nas redondezas, geralmente eles eram mais provenientes do hemisfério norte, não conseguia entender como haviam ido parar ali. Por algum motivo que eu desconhecia, senti que deveria ir atrás daquele uivo. Normalmente eu só tentaria me proteger em algum lugar que eu presumisse ser seguro, mas aquela vontade de encontrar o lobo só crescia cada vez mais em meu peito, se tornando tão incontrolável que já me via seguindo o eco por aquela floresta.

Na minha outra mão, eu carregava uma espécie de lamparina. Não via uma assim desde a última vez que havia visto um filme de época, o que fazia sentido, tendo em vista que eram os filmes que Sebastian mais me obrigava a ver com ele ultimamente, depois que o havia apresentado o maravilhoso mundo da dramaturgia. Foi um pouco difícil mantê-lo envolvido no começo, pois ele não via sentido algum em ficar sentado por mais de uma hora vendo as pessoas vivendo, mas à medida que ele foi entendendo, ele se afeiçoou bastante, pois acabei assistindo Romeo e Julieta com ele, o que fez ficar admirado falando que o livro que ele lia havia ganhando vida. De certa forma achei meigo o jeito como ele ficou empolgado e falando por horas da sua experiência totalmente inovadora com o cinema.

Pensar em Sebastian por um minuto me fez sorrir e lembrar do exato momento em que me apaixonei por ele. Depois que descobri que meu namorado havia me traído ele me tomou em seus braços e ficou comigo, cuidando de mim até que eu finalmente dormisse. O jeito como ele cuidou de mim, fez uma luz acender dentro do meu peito que quase se perdeu em trevas devido a mais uma decepção que a vida me trouxera. Depois daquele dia, tudo o que eu sentia por Sebastian só aumentava. No começo pensei que fosse apenas um carinho especial, mas à medida que as minhas feridas iam cicatrizando após a traição, ficava cada vez mais claro que ele curava o meu coração decepcionado.

Pude ouvir um novo uivo ecoando, o que fez meus pensamentos se voltarem totalmente ao presente momento, me dando mais uma pista de onde poderia estar o lobo. Meus instintos também estavam bastante aguçados. Dentro de mim a sensação visceral de que precisava mais que tudo encontrar aquele lobo me guiavam em meio à escuridão tanto quanto aquela lamparina na minha mão.

Meu coração batia acelerado dentro do meu peito e tudo o que eu sabia era que estava cada vez mais próximo do meu propósito final. O uivo ficava cada vez mais alto à medida que eu caminhava. Agora o único barulho que meus ouvidos captavam eram o das folhas secas se quebrando embaixo das solas do meu sapato. O uivo havia cessado. Até mesmo os grilos e sapos pareciam ter se calado. Algo muito estranho estava acontecendo ao meu redor e eu não sabia ao certo o que estava acontecendo.

Ergui a lamparina e girei devagar tentando assimilar algum barulho ou até mesmo movimento em meio as sombras, mas não consegui captar nada. Minha respiração era a única coisa audível agora, o que fez eu ficar bastante preocupado com o rumo daquele noite. Silêncio de um predador poderia significar nada mais e nada menos que um possível ataque surpresa. Ele poderia estar em algum lugar me observando, prestes a avançar.

Coloquei a lamparina no chão e desembainhei outra adaga, ficando na minha posição de ataque, quando vi ao longe em meio à escuridão, dois olhos resplandecentes. Os olhos pareciam mais próximo ao solo, mas de maneira vagarosa começaram a subir cada vez mais alto até ficar bem próximo ao galho mais baixo da árvore que ficava bem acima de minha cabeça. Qualquer que fosse aquele animal era extremamente alto e não apenas isso, como conseguia ficar de duas patas. Será que ao invés de um lobo, aquele poderia ser um urso?