Capítulo 25

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Como eu queria que você estivesse aqui
Nós somos apenas duas almas perdidas
Nadando num aquário
Ano após ano
Correndo sobre o mesmo velho chão
O que nós encontramos?
Os mesmos velhos medos
Eu queria que você estivesse aqui
Wish You Were Here - Pink Floyd

BETHANY CÓRDOBA

Qual o sentido do ciclo da vida e por quais motivos nem todos tinham a chance de vive-lo? Me perguntei ao me ver diante de um cenário repleto e carregado pelo luto.

O correto seria nascer, crescer, reproduzir, envelhecer e morrer. Porém, muitos tinham o corte no ciclo da vida.

Foram dois dias sofrendo pelas autoridades não liberassem o enterro, para que no fim, enterrássemos um caixão fechado, sem presença de corpo.

Apenas um momento para encravar que jamais o veríamos outra vez. Uma cena dolorosa para nos evidenciar que somos passageiros e que nem tudo se pode ser comprado pelo dinheiro. O alerta sobre no fundo não termos controle sobre nada, sobre sermos apenas pó e assim como diz a bíblia, a ele voltar.

— Como você está? — Perguntou Aurora.

— Bem. — Respondi, ocultando a verdade.

— Te conheço bem, sei que não está! — Alertou.

Permaneci com os olhos direcionados ao caixão, divagando a missa dirigida pelo padre, me concentrando ao máximo para que não deixasse a tristeza me dominar ao ponto de todos ao meu redor a enxergar.

— Você sentiu amor por ele? — Questionou Aurora.

Fiquei em silencio, pois a essa altura do campeonato não faria diferença revelar meus sentimentos.

Ao receber meu silêncio como resposta aurora não me perguntou mais nada, apenas me envolveu em um consolador abraço.

Meus ouvidos agora estavam fixos nas palavras do padre. Cada versículo bíblico lido me chegava como um martírio de tristeza.

Deixei que as lágrimas escorressem, enquanto Aurora me mantinha em seu abraço.

Nascemos e durante nossa vida, apenas uma certeza carregamos. E essa certeza é que um dia, todos passaremos pela morte, porém, quando chegar nossa vez, não ouviremos quem nos falará, eu te amo, era bom demais para ter morrido ou merecia morrer e herdar o inferno. Durante anos foi assim e isso é algo que nunca mudará. Nos preocupados demais com coisas insignificantes e esquecemos de zelar para que os sentimentos sejam mantidos.

Eu não me jogaria no chão e diria que o amava, agora que ele estava morto, pois isso não faria sentido algum.

Me amparei com tanta força nas circunstancias, que não fui capaz de lhe responder que eu o amava devolva, quando ele chutou as consequências e enfim se declarou para mim. Fui covarde, e minha covardia seria carregada pelo resto de minha vida, pois me cobraria todos os dias o peso de não ter deixado que meus sentimentos fossem além e que o eu te amo pudesse ser dito por mim e ouvido por ele.

— Que o senhor nosso Deus, receba a alma de nosso irmão, em sua magnifica e tremenda gloria, em do pai do filho e do espirito santo, amém! — O padre finalizou a missa.

— Amém! — Todos disseram.

Foi formado um pequeno grupo para abaixar o caixão até o fundo da cova.

Conforme o caixão ia sendo abaixado algumas lembranças se passaram por minha cabeça. Foram poucas as coisas que vivemos juntos, porém, agora que não as teria mais, sentiria falta. Quando não temos, desejamos, então quando passamos a ter não damos o valor necessário e ao perdemos, entendemos o quão valioso era.

Alcance de Seus Olhos - Série Aviesta Cyviliestión | LIVRO 1Onde histórias criam vida. Descubra agora