Capítulo Dez

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Faltava menos de dois dias para o navio chegar na cidade, a cada dia que passava Annya sentia falta dos seus pais, as sombras ainda não a respeitavam mas ela sentia que elas sabiam de algo.

Era noite, o convés estava vazio, o navio não tinha tantas festas quanto o Coração da princesa Kira.

A garota estava sem sono, até pensou em perguntar para Luca onde tinha aquele pó mas o garoto já roncava na sua cabine.

A solução foi ficar no convés superior na frente do navio, olhando as estrelas. Suas companheiras desde pequenas, a garota se lembrava das noites que sua mãe explicava cada constelação.

E aquela mamãe? - Annya com cinco anos perguntou apontando para o céu.

É a constelação de aquário. - Isabel desenhou as linhas com o dedo e a menina riu vendo a constelação no céu.

Aposto uma moeda de ouro que você não conhece aquela.- Will disse apontando para uma constelação longe, os três estavam deitados no convés da frente do navio de madrugada.

Uhmm, constelação de Fênix.- a menininha disse animada pegando a moeda de ouro.

Ah não, perdi uma moeda de ouro. Mas eu vou pegar ela de volta.- começou a fazer cócegas em Annya.- Devolva a moeda, sua piratinha.

Nunca!- a menina gritou no meio dos risos, William parou e abraçou a garota, puxando sua esposa para o abraço.- Te amo mamãe! Te amo papai!

Anastasia sorriu olhando para o chão com a lembrança, mas sua atenção foi para um objeto que pousou ao lado do seu pé. A garota se agachou e pegou o objeto.

Era feito de papel, tinha uma ponta fina, duas espécies de asas e um triângulo embaixo.

- Se chama aviãozinho de papel.- a garota olhou para a escada, Dante estava apoiado no corrimão da mesma.- Vi isso em um dos livros antigos, surgiu na China, não me lembro qual dinastia.

- E o que isso serve?- Annya disse com o objeto entre seus dois dedos.

- Diversão, conhece? Um passatempo, talvez as crianças gostassem desse tipo de coisa.

- É só jogar?- Dante assentiu, Anastasia jogou e o objeto voou, a garota sorriu fraco. O capitão segurou o objeto antes dele voar para fora do navio.- Sem graça.

- Talvez você seja sem graça.- jogou de volta e o aviãozinho bateu no peito de Annya e caiu no chão.- O que faz aqui?

- Sem sono.- se agachou e pegou o aviãozinho.- Gosto de ver as constelações quando estou sem sono.

- Vem cá. Quero te mostrar algo.- Dante desceu as escadas mas Annya não seguiu, o garoto estranhou, subiu alguns degraus de volta e olhou a garota ainda parada no local.- O que foi?

- O que você quer mostrar?- disse desconfiada.

- Você tem uma mente suja em, vem, é algo legal. - depois de alguns segundos a garota o seguiu.

Dante abriu a porta de sua cabine, igual a do pai de Annya. A garota entrou na mesma e olhou ao redor.

Era parecida com a do seu pai, grande, com uma cama de casal perto de uma parede, cômodas para roupas, estantes com livros. Havia janelas que mostravam o mar e o céu, também tinha a mesa com uma cadeira do capitão e duas opostas a dele.

O que chamou atenção foram os diversos mapas espalhados pela mesa e na cama, alguns até presos nas paredes.

Anastasia escutou a porta fechar e segurou um mapa, ela passou o dedo em cima e o mesmo ficou preto de carvão.

- Você desenhou todos eles?- a garota perguntou olhando Dante, o garoto de cabelos vermelhos foi para trás de sua mesa e procurava entre os mapas.

- A maioria sim, alguns já vieram prontos.

- Você desenha bem.- a garota disse olhando os mapas.

Não havia apenas sobre os continentes, havia mapas dos países, cidades e ilhas. Annya segurou um mapa que havia alguns lugares que não conhecia.

- Que lugares são esses?- Dante a olhou e se aproximou da mesma, ele olhou o mapa.

- Ah, é um mapa antigo, esses lugares existiram antes, mas agora não existem mais.- O garoto entregou um mapa a Annya, a garota largou o que segurava e segurou o novo, tinha um X vermelho no mesmo.- Aqui é Athennias.- apontou para o X.

- É bem longe.

- Sim, mas o tempo passa voando não é mesmo?- os dois se olharam, Annya voltou a olhar o mapa.

- Você daria um bom cartógrafo no exército.

- Eu fui.- a garota o olhou confuso.- Eu fui soldado e cartógrafo no exército do rei Augusts antes de virar corsário.

- Quantos anos...- o garoto riu colocando as mãos na cintura.

- Tenho vinte e três, mas servi ao exército quando tinha dezesseis. Depois com dezenove eu virei corsário, percebi que sou melhor com o mar que a terra.

- Por que mapas?- Annya se sentou em um banco perto da cama, Dante se afastou e se apoiou na mesa enquanto cruzava os braços.

- Porque eu nunca tive muita liberdade antes de eu ser corsário, eu amava as aulas de história, amava os mapas, me perdia imaginando o que tinha além dos horizontes.- apontou para os mapas perto da garota.- Amo sujar meus dedos de carvão e sentir eles doerem de tanto desenhar, é um dom que poucos tem.

- Lindas palavras.- o garoto sorriu fraco.- Você dorme com eles?- ele riu, o som da sua risada causou borboletas na barriga de Annya.

- Não, estava apenas arrumando tudo. Tenho que jogar alguns fora.

- Não faça isso.

- Tudo bem, apenas jogo aqueles que ficaram ruins ou não tem utilidade.

- Por que não virou artista? O rei não tinha outra pessoa para ser corsário?- o garoto olhou o chão.

- Não queria ser artista, gosto de ser corsário. Amo meu navio e minha tripulação.

Anastasia olhou para a mesa de Dante, tinha uma carta aberta e ela tinha o símbolo do brasão real em cera vermelha e dourada. O garoto percebeu o olhar da menina, pegou a carta a dobrando e colocou no bolso da calça.

- Como você está sem sono, quer me ajudar a arrumar os mapas? Provavelmente tem algumas anotações também espalhadas.- a garota assentiu.- Eu cuido desses e você daqueles, tá?

Annya puxou as mangas da blusa até o cotovelo e começou a ver os mapas, seus dedos ficavam pretos com alguns mapas que o carvão era recente.

- Não jogue esse fora, Annya.- o garoto disse para o mapa que a garota segurava, ela o olhou.- O que foi?

- Você me chamou de Annya.

- Não é o seu apelido?

- É, mas você só me chama de Anastasia.- colocou o mapa na pilha dos que iriam ficar.

- Me perdoe então...Annya.- a garota abaixou o rosto e sorriu, o capitão virou de costas mexendo em alguns mapas e também sorriu.

A Estrela Amaldiçoada Onde histórias criam vida. Descubra agora