NEVIO
Pela primeira vez no que parecia a porra de uma eternidade, Aurora estava nos meus braços de novo. A casa inteira estava em silêncio, e o tudo que existia no mundo éramos nós dois. O gosto dela na minha boca, as pernas em torno do meu quadril. Essa era minha versão do paraíso. Meus lábios estavam a centímetros dos dela, mais uma vez. Beijar Aurora me tornava insaciável. Eu sempre queria mais, e nunca era suficiente. Nunca seria o suficiente. Nós realmente precisávamos conversar. Depois.
Mas depois nunca chegaria.
-Que caralho está acontecendo aqui?
O silêncio da casa se quebrou como vidro. Meu impulso era puxar Aurora para trás, escondê-la dos olhares deles. Eu não precisava ouvir a voz de mais ninguém além do meu pai para saber que todos estavam ali, nas sombras. Era nossa especialidade. Minha especialidade. O que nos fazíamos. Eu era o monstro no escuro. Até eu ser surpreendido por eles.
Quando estou em serviço, quando estou matando. O tempo parece parar. De uma forma estranha, os segundos se estendem, enquanto o infeliz que é meu alvo agoniza. É como se tivesse todo o tempo do mundo para terminar meu serviço. Agora parece que não existe tempo suficiente. Ao invés de devagar, o tempo se acelera, e pela primeira vez, não sei o que fazer. Isso não é como acelerar demais uma moto na curva, não é como puxar um gatilho.
Meu transe se quebra quando eu sinto Aurora se afastar. A escuridão não me permite ver seu rosto, mas eu sei que ela está vermelha. De vergonha. De raiva. De mim, talvez? Eu sou o verdadeiro culpado aqui. Um segundo tudo estava perfeito, e agora...
Agora o clã Falcone é uma sombra que nos pegou em flagrante. Meu pai, meus tios... E Fabiano Scuderi.
Enquanto eu estava com sua filha na jacuzzi. Quase transando.
Era a porra da noite perfeita para isso acontecer.
Tudo acontece rápido demais, quando, sem fazer nenhum som, ele se move. Num segundo, Aurora está nos braços, e no outro não está mais.
-Pai!
Scuderi não responde. Ele apenas pega sua filha, e a afasta de mim.
E eu sei porquê. A raiva vem em muitas formas. A silenciosa? É o pior tipo. Você quer que o outro grite. Quebre tudo. Ataque. Era o que eu esperava dele, no dia que finalmente tudo que estávamos fazendo explodisse. Era só uma questão de tempo.
Eu me levanto, sem me importar com a temperatura baixa, ou qualquer coisa sobre essa situação ridícula.
-Eu fiz uma pergunta, Nevio. - A voz do meu pai, essa sim, era pura raiva. O mesmo tom que ele usava com os inimigos.
Por que isso? Era a porra de uma traição.
-O que caralho está acontecendo aqui? Por que o meu filho, o meu herdeiro, está numa porra de uma banheira com uma mulher que não é sua esposa. Ou uma prostituta.
-Remo. - Tio Nino corta, a voz fria o suficiente para congelar qualquer um. Não que isso afetasse meu pai. Ou eu.
Meu pai ri, uma das risadas assustadoras que eu herdei.
-Responda a pergunta, Nevio. Responda ao seu superior.
Minha resposta, o que quer que fosse, é cortada. Pelos punhos de Fabiano.
-Pai! - Aurora grita no fundo, enquanto ele se levanta.
Eu cuspo sangue no chão, fechando os punhos para não ceder ao impulso de revidar. Ele estava certo. Eu mereço.
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Twisted Desire
FanfictionEla era a única que ele queria. E a única que não poderia ter.