AURORA
Não me deixam ver meu reflexo. É o dia do meu casamento, e não me deixam ver meu reflexo.
-E se alguma coisa estiver errada? - eu pergunto para Carlotta, que já está arrumada ao meu lado. Ela usa um vestido azul claro, de madrinha.
-Nada vai dar errado.
-Você está linda. - minha mãe me assegura.
-É o seu dever pensar isso. Eu só quero ter certeza que...
-Aurora. Tudo estará perfeito- Tia Serafina interrompe, com a mão no meu ombro. Ou talvez eu devesse começar a chamá-la de sogra?
Seis meses haviam se passado desde que fomos descobertos. Seis meses em que meu pai grudou em mim como um cão de guarda, não deixando que ninguém, muito menos Nevio, se aproximasse mais do que três metros. Ele nos acompanhou até para a escolha do vestido de noiva. Claro, cochilou no local, mas não gostava de ser lembrado disso. Minha mãe balançava a cabeça e tentava o convencer que não era necessário, mas em vão. Parecia que uma vida havia se passado, de seis meses para cá.
-Não é como se você já não soubesse que gosta dele. - minha mãe sorri, alisando a saia do meu vestido.
-Acredite em mim, é muito mais assustador dessa forma. - tia Kiara acrescenta. - Mas também pode dar certo.
-E de tudo que ele faz.
-Carlotta! - Gemma ralha, vermelha.
-O que? Não é como se todo mundo aqui não...
-Eu realmente não quero ouvir sobre isso. - Kiara se manifesta.
-Desculpa, sogrinha. - minha amiga ergue as mãos em rendição, piscando.
-Você deveria ter mais filtro. Só piorou depois de casada. - eu comento.
Carlotta se inclina para mais perto.
-Você vai piorar também. É inevitável.
Não consigo segurar a risada. A maquiadora avisa que terminou, montando sua maleta e saindo do quarto. Estamos na Mansão Falcone, como de costume. Nevio insistiu que o casamento fosse celebrado aqui.
-Posso me ver no espelho agora?
As demais mulheres do recinto se entreolharam.
-Acho que ela sofreu o suficiente. - Serafina diz.
Minha mãe estende a mão na minha direção, me ajudando a levantar. Gemma puxa o lençol que cobria o espelho, e eu finalmente me observo vestida de noiva. Eu pisco, sem acreditar que o momento é real.
- Minha filha... Você está linda. - minha mãe diz, encostando o queixo no meu ombro e olhando nosso reflexo. Eu sorrio, sem conseguir me conter.
-Como uma princesa. - Serafina completa.
Meu sorriso parece aumentar ainda mais.
Como uma princesa.
NEVIO
-Elas deviam estar aqui agora.
-Noivas atrasam.- Alessio deu de ombros.
-Eu vou ter que te socar no dia do meu casamento?
-Ah, porque você foi tão compreensivo quando eu me casei...
-Vocês dois são ridículos. - Massimo diz. - Estamos em casa. A noiva não fugiria nem se quisesse.
-Fugir? Quem falou em fugir?
Alessio e Massimo riem, e eu poderia esfolar os dois vivos agora, se essa não fosse a minha cerimônia de casamento.
Tia Kiara, parecendo sentir que os filhos estavam próximos de serem assassinados, é quem aparece.
-Vocês estão aí! Eles estão vindo. Vamos, em suas posições.
Como organizadora de festas oficial da família, ela nos coloca na fila para entrar no jardim, onde o casamento vai ser realizado. Eu observo enquanto os casais de padrinhos entram, com Alessio e Aurora por último. Observo minha mãe ao meu lado, braço estendido para entrarmos juntos. E então aguardo no altar, pelo que parecem horas, antes que ela apareça.
Nos últimos seis meses desde que fomos descobertos, foi impossível ficar sozinho com Aurora. Tio Fabi não saia do lado da filha, e meu pai me soterrou com mais trabalho do que eu poderia lidar. Tirando alguns beijos roubados ocasionais, fazia tempo demais que Aurora não era minha. Que eu não podia tocá-la, ou inspirar o perfume dos seus cabelos. E agora, eu poderia ter isso e muito mais. O casamento sempre me pareceu uma obrigação distante, algo que eu faria para manter os Falcone no topo e nada mais. Até Aurora. Eu já sabia antes, mas ali, esperando que ela aparecesse, bateu como uma onda: eu a amava. Ela era minha princesa.
Quando ela apareceu, eu tive que fisicamente conter as palavras de saírem. Aurora realmente parecia uma princesa, dos contos de fadas que Greta tanto gostava. Seu cabelo escorria pelas costas, o vestido branco em camadas que a faziam parecer flutuar. Minha Aurora. Quando seu pai parou na minha frente, o olhar nada amistoso e me entregou a mão dela, com uma ameaça que meu cérebro não conseguiu nem registrar, eu sorri. Meus lábios se mexeram antes que eu pudesse conter.
-Eu te amo, princesa.
Aurora sorriu de volta, e que tudo se fodesse, eu poderia morar no seu sorriso.
-Eu também te amo.
Não importavam os votos repetidos depois. Ali, aquele momento, era nosso para sempre.
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Twisted Desire
FanfictionEla era a única que ele queria. E a única que não poderia ter.