AURORA
Enquanto Nevio e Remo estavam aos gritos no escritório, eu segui meu pai até a biblioteca, o sangue batendo forte nos meus ouvidos. Ele estava tão sério, de uma forma que eu nunca tinha visto. Me sentei em uma das cadeiras, me sentindo pequena e tensa, enquanto meu pai foi até a janela. Seu olhar perdido no horizonte e seu longo silêncio como uma faca cortando meu coração.
Eu esperava que ele dissesse que estava decepcionado. Que erguesse a voz, como nunca tinha feito comigo antes. Mas quando ele falou, foi totalmente o contrário. Foi baixo e triste.
-Eu nunca confiei no meu pai. Não de verdade. Mesmo quando era um menino em busca da sua aprovação. Ele sempre foi duro. Comigo. Com minhas irmãs. Especialmente Gianna. E quando elas se foram... - ele para. - E quando minha mãe se foi. Eu queria deixá-lo orgulhoso, mas nunca confiei nele. No final, meu instinto de provou certo quando ele me largou para morrer e nunca olhou para trás. Por anos, tive certeza que nunca teria uma família. Não tinha porque tentar. - Ele finalmente olha para mim. - Até conhecer Leona. Eu faria tudo por sua mãe. E quando a conheci, e pensei em ter minha própria família, prometi a mim mesmo que não seria como meu pai. Seria melhor. Que meus filhos poderiam confiar em mim. - ele me encara tão intensamente que eu paro de respirar. - Agora, sei que falhei.
As lágrimas finalmente escorrem pelo meu rosto em cachoeira.
-Pai...
-Não, Aurora. - ele balança a cabeça. - Por quanto tempo? Para que esconder?
-Vocês nunca... Eu... - respiro fundo, tentando combinar palavras de uma forma que faça sentido, mas parece impossível. - Pensei que fosse querer matá-lo. Eu só ...
-Claro que eu quero matá-lo! Quero ir contra o filho do meu capo, meu futuro capo, contra tudo que jurei... Por arruinar minha filha.
Meus sentidos parecem voltar a funcionar, e de repente eu me vejo em pé.
-Não! Isso é minha culpa tanto quanto é dele!
-Aurora...
-Não, pai. Vocês não me deixam falar. Eu não estou arruinada. Essa é minha vida. Minhas escolhas.
-Você sabe que não é fácil assim! - ele retruca. - Talvez seja a merda do mundo em que vivemos, Aurora, mas não é assim.
-E daí? Se você está procurando por uma vítima, não sou eu, pai. Essa não é minha história.
Meu pai me encara como se estivesse me vendo pela primeira vez. Todos dizem que eu sou a versão feminina dele. Mini Fabi. Os mesmos cabelos loiros, os mesmos olhos azuis. Mas agora é como se nunca tivéssemos visto um ao outro.
-Eu te amo, pai. E eu sinto muito. De ter escondido isso de você. Mas que opção eu tinha?
Ele continua em silêncio, piscando.
-Você teria proibido. Todos vocês. O que vocês acabaram de fazer agora? - Eu acuso, apontando para a janela. - Eu não me arrependo de ter feito tudo do jeito que fiz.
Meu tom de voz é mais confiante do que eu realmente me sinto. Os ombros do meu pai caem, e eu me aproximo, devagar.
-Eu confio em você, pai. Mas eu também te conheço. Sei que vai culpar Nevio. Afinal, eu sou sua garotinha. Mas isso é tão culpa minha quanto dele. Nós fizemos isso juntos.
Quando ele ergue a cabeça, percebo que nós dois estamos chorando.
-Você sabe que eu ainda quero quebrar mais a cara de Nevio? E provavelmente sempre vou querer.
Eu quase sorrio. É só agora que percebo que minha mãe está no cômodo. Ela vem até nós e segura nossas mãos.
-Leona... há quanto tempo está aqui?
-Tempo o suficiente. - ela diz, se virando para mim. - E você, mocinha... vamos conversar mais tarde.
Eu sei que ela está decepcionada também, mas seu tom indica que não será tão ruim quanto lidar com meu pai. Ela vai entender. Eu sei que vai.
-O que acontece agora? - minha mãe diz.
Antes que algum de nós possa responder, a porta se abre e Remo Falcone entra no recinto, seguido por Nevio. Ele nem olha para Nevio quando fala.
-Agora esses dois se casam. - Remo diz, saindo sem discutir.
Nevio vem em minha direção, mas meu pai se coloca no caminho.
-Não ouse!
Nevio apenas assentiu, seus olhos me procurando. Eu faço um sinal de sim com a cabeça. Quero correr até ele. Nossos olhos parecem comunicar tudo que nossas vozes não podem agora. Agora, nós nos casamos.
Não me parece um castigo.
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Twisted Desire
FanfictionEla era a única que ele queria. E a única que não poderia ter.