NEVIO
Péssimas ideias eram de família.
Meu pai não gostava de admitir, mas nós, Falcones, éramos filhos da puta sortudos e loucos que colecionavam vitórias vindas de péssimas ideias. E desejar a filha de um dos braços direitos do meu pai, do meu capo? Péssima ideia.
Eu quase podia ouvir a voz de Greta na minha cabeça dizendo o quanto era uma ideia terrível. Mas ela não estava aqui agora para ser a minha voz da razão, como fez a vida inteira, e me impedir. Maldita apresentação de balé. E não é como se eu estivesse imaginando coisas em relação a Aurora. Ela não era mais nenhuma criança e eu podia ver em seus olhos o reflexo dos meus. Desejo, puro e simples, queimando. Ela me observava tanto quanto eu a observava.
A tensão estava me matando. E eu não era o tipo de deixar a tensão prevalecer.
-Não achei que estava falando sério. - Alessio disse, quando voltamos para casa mais tarde. - Sobre o barco.
Eu estava. Não que fosse algum tipo de presente romântico, longe disso, o barco era meu. Nosso, de todos os primos. Trinquei os dentes. A vida inteira, Aurora foi como se fosse minha prima. Só que não de verdade. Crescemos juntos, e ela estava em quase todas as minhas lembranças de infância. Os Natais na Mansão Falcone. Os verões de Las Vegas. As viagens em família. As tardes no barco Falcone. Tio Fabiano era da família, apesar do sobrenome diferente.
Por isso, arrastei Alessio para fora de casa assim que a noite caiu. E agora, ao lado do The Angel, estava The Sinner. Meu barco. Sorri com a lembrança. Quando perguntei sobre comprar um barco, meu pai apenas tinha assentido e me dito que "qualquer merda que acontecer é problema seu e eu não quero saber." Minha mãe apenas disse que já estava na hora de pararmos de sujar o barco dela com nossa bagunça.
Meu melhor amigo ainda esperava a resposta. Eu girei a chave do barco entre os dedos enquanto entrávamos em casa. Tudo já estava em silêncio. Eu sabia que meus pais provavelmente estavam trancados no quarto, como os eternos adolescentes que eles eram. Sabia que Nino, Kiara, Fabiano e Leona tinham saído para jantar. Tio Savio e tia Gemma tinham saído e deixado as filhas com Carlotta. Massimo estava dormindo, provavelmente. Ou fazendo o que quer que ele fizesse quando se cansava de lidar com nós.
-E quando eu blefo?
Alessio riu, batendo nas minhas costas.
-No nosso ramo, quase sempre.
-Você blefa. Eu faço o que tenho que fazer.
-Como comprar um barco.
Dei de ombros, colocando a chave no pote de chaves perto da porta.
-Já estava na hora. - repeti as palavras da minha mãe.
-Quais os planos para essa noite?
-Dormir.
Alessio estreita os olhos. Ele já estava sentado no sofá, os pés em cima da mesa de centro, o que tia Kiara nunca teria permitido se estivesse aqui. Diferente de mim, Alessio era um filhinho da mamãe e fazia tudo que ela mandava.
-Você não está falando sério, Nevio.
-Qual é a sua de ficar duvidando de mim hoje? - pergunto, tirando minha arma do coldre. Estamos em casa, e se fosse seguir os meus planos era melhor não ter esse tipo de arma.
Alessio continua me analisando. Ele também tem essa mania insuportável do tio Nino de encarar as pessoas como se pudesse ver através delas. E talvez tenha, pelo menos comigo, porque não disse mais nada sobre o assunto. Eu valorizava o fato de ser imprevisível, mas se havia alguém no mundo (além do meu pai) que pudesse adivinhar o que eu faria, esse alguém era Alessio. Ele era meu melhor amigo. Meu cúmplice desde a infância.
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Twisted Desire
Fiksi PenggemarEla era a única que ele queria. E a única que não poderia ter.