Twisted Desire

AURORA

AURORA

O olhar dele queimava. Eu podia sentir como uma força física, me seguindo por cima da garrafa de cerveja que ele bebia. Mesmo que não estivesse olhando diretamente, sabia que aqueles olhos escuros estavam seguindo todos os meus movimentos. Me fazia sentir algo acendendo por dentro, queimando lentamente, tirando meu foco. Ele era três anos mais velho. Droga, ele era Nevio Falcone. Futuro capo da Camorra de Las Vegas. Ele era perigoso, bonito e o mais importante: não era para mim.

Do outro lado da mesa, Carlotta estreitou os olhos em minha direção. Ela deslizou o pote de amendoim sobre a mesa, me oferecendo. Aceitei, apenas se para tentar pensar em outra coisa. Tentei sorrir como quem diz "não é nada", mas sabia melhor do que isso. Ninguém me conhecia melhor que Carlotta. Ela não tinha comprado o meu sorriso nem por um segundo. Antes que ela pudesse abrir a boca para questionar, alguém é mais rápido.

-Ei, princesa. - Nevio diz, colocando a mão no meu ombro. Ele tem me chamado assim desde a infância, quando descobriu que Aurora era o nome de uma princesa da Disney.

Eu coloco o cabelo para trás da orelha, instintivamente. Reviro os olhos, só para não perder o hábito. O sorriso dele cresce.

-Você está apoiada em cima do freezer.

-Ah. - eu respondo, como uma idiota.

As pessoas costumam ter medo de Nevio. Como elas deveriam. Até hoje, nos corredores da escola, sussurram sobre o lendário Nevio Falcone e tudo que ele fez. As suspensões. A bomba no banheiro masculino. A formatura vazia porque ele levou a turma toda para um dos cassinos dos Falcone. Mas eu simplesmente não consigo. Pra mim, sempre foi Nevio. O garoto que puxava minhas maria chiquinhas quando ninguém estava olhando. Que me chamava de princesa. Que me ensinou a nadar. Que subiu em uma árvore para pegar o brinquedo que o vento tinha levado até lá.

-Aurora! Terra para Aurora! - Carlotta me cutucou. Ela balançou os cabelos molhados. - Pegue uma cerveja para mim, por favor. Você está mais perto.

-Não podemos beber.

-E daí?

Carlotta se inclinou e pulou sobre a mesa. Nevio riu, mas ele realmente não olhava para ela.

-Ela está certa, você sabe. - Nevio diz para mim. Agora eu estou em pé, e embora não seja exatamente baixinha, ele é uns bons dez centímetros mais alto do que eu. Ele já tem outra garrafa na mão, mas ainda não foi se juntar a Alessio e Massimo no canto oposto do pátio, perto da piscina.

-Carlotta? Não diga isso, ela pode ouvir. - eu brinco e Carlotta me mostra a língua, abrindo sua garrafa e dando um longo gole antes de voltar a sentar à mesa.

Nevio se inclina para frente, mesmo que de leve. Eu prendo o ar.

-Tudo que é proibido é mais gostoso.

-Como você sabe?

Nevio riu. Ele enroscou um dedo rapidamente no meu cabelo, o toque mínimo me fazendo estremecer. Os olhos dele nunca me deixavam, queimando e queimando. Mas ele não diz mais nada, apenas pisca e vai embora.

Bufando, eu sento a mesa, observando a garrafa de Carlotta, que me encara erguendo a sobrancelha. Ela passa a garrafa para mim. Quando Nevio está longe o suficiente, ela diz.

-Você sabe, vocês deviam se beijar logo.

Não tem ninguém perto para ouvir, mas eu coro assim mesmo.

-Carlotta!

-Qual é. - ela continua. - Vocês são feitos um para o outro. Só não vê quem não quer.