Desistindo

413 40 19
                                    

oito meses antes de descobrir a gravidez

Encaro o negativo em minhas mãos. Novamente negativo. A sensação de deja vu sempre me atacava e cada mês parecia ficar mais difícil respirar. Todo mundo tinha um limite e eu havia chegado ao meu. É isso, para mim já chega. 

- Eu estou desistindo - sussurrei para mim mesma.

Steve estava viajando a trabalho e era normal fazermos isso, acontecia, às vezes, de um dos dois precisar ir cobrir uma notícia ou coisa parecida em outra cidade. Era raro, mas acontecia. O ponto é que, eu nunca me importei com isso.

Não me importava de ficar sozinha, de aproveitar minha própria companhia. Sentia saudades? Com certeza, entretanto não era nada demais. Mas dessa vez as coisas pareciam diferente,  de repente o apartamento parecia muito grande e muito solitário.

Pego o telefone pronta para ligar para Steve e tentar quebrar aquela sensação de desespero e angústia que crescia dentro de mim. Tento três vezes e todas caem na caixa postal, é então que confiro a hora, ele deveria estar na coletiva de imprensa naquele momento, com o celular no silencioso e só daria algum sinal de vida daqui a umas duas horas.

Jogo o aparelho na cama e faço o mesmo com meu corpo. Encaro o teto do nosso quarto, enquanto aquela sensação terrível continuava a me dominar. Só queria que ela fosse embora, queria chorar, mas as lágrimas também não desciam... Eu só queria ficar bem.

Desisto de ficar ali sozinha, visto o casaco e tranco o apartamento. Resolvo andar um pouco, absorver a brisa fria que fazia nas noites nova iorquinas naquela época do ano. Ando sem rumo, tentando não pensar em nada, tentando esquecer todas minhas frustrações, mas só tento mesmo porque parecia que o universo gostava de me machucar.

Em cada esquina que eu parava, diante de cada loja que passava, uma mulher grávida ou alguém com uma criança no colo, surgia absolutamente do nada. Eu havia revirado os olhos com tanta força quando passei por um casal que tive um pouco de medo deles não voltarem ao normal. 

Movida por aquela irritação crescente, não percebo quando esbarro em alguém. A mulher possuía cabelos loiros, com alguns fios brancos que se disfarçavam muito bem, e estava tão cega por toda aquela onda de sentimentos inesperados, que por pouco não me dei conta de que a mulher em questão era minha sogra. 

- Natasha? O que está fazendo aqui? - ela tinha um olhar preocupado e me perguntei mentalmente se estava tão na cara assim que tinha algo errado - Você está bem? 

- Sim, claro, eu estou ótima. Só... - interrompo a frase sem saber muito bem o que falar - Estava muito silencioso em casa, então resolvi dar uma caminhada - ela sorri como se entendesse exatamente o que eu estava escondendo, antes que ela possa perguntar alguma coisa resolvo continuar falando - E o que você está fazendo aqui? 

- Eu participo de um clube do livro na biblioteca aqui perto, nós nos reunimos uma vez por semana, é muito bom, relaxante. Um hobbie - ela explica melhor como funciona esse clube do livro dela e um sorriso cresce no canto dos meus lábios ao ver o quanto a mesma falava de forma empolgada, Steve fazia a mesma coisa quando gostava muito de algo - Você deveria tentar, sabia?

- Participar de um clube do livro? - pergunto confusa, pronta para dizer não. Atividades coletivas não faziam muito meu tipo. 

- Não, querida - Sarah sorri de forma tão ampla que era como se aquele sorriso fosse capaz de iluminar tudo em volta dela - Atividades coletivas não fazem muito o seu tipo - abaixo a cabeça, envergonhada ao perceber que ela reparou na minha negativa mental - Eu quis dizer que você deveria tentar ter um hobbie. Poderia te fazer bem, te ajudar a se distrair de todo o estresse diário e... outras coisas.

I've Been Waiting For You - RomanogersOnde histórias criam vida. Descubra agora