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Raissa 💖

Ver minha mãe chegar ali encheu meu coração, eu precisava tanto, mais tanto dela comigo. Eu sempre soube que ela nunca me abandonaria, que ela sempre iria estar por mim quando eu precisasse. Desde as coisas mínimas até as mais difíceis, como agora.

- A senhora por favor pode se afastar? Ninguém aqui tem alguma coisa a ver com o problema da sua filha não. A gente só tá fazendo o que foi passado pra gente, mandaram barrar e tamo barrando, nada pessoal.

Cíntia: Que senhora meu filho? Tá vendo alguma senhora aqui? Ninguém tem nada a ver mas mesmo assim fizeram um complô contra ela né? Muito fácil pegar um fuzil e peitar alguém que não tem o mesmo meio de defesa, vocês fazem por que sabem que ninguém vai ser maluco de ir contra vocês que andam armados. É tanto mimimi, do certo pelo certo, mas eu não vejo nada de certo aqui nesse meio. Vocês só gostam de botar terror, de amedrontar com essa peça aí, mas a mim não! Não estudei toda minha vida pra vim nego sem idéia me calar só por que tem a liberdade de andar com uma arma.

- Pô cara tu quer mermo esfregar os teus diplomas na nossa cara? Se liga tiazona, só não descarreguei o pente aqui em você no meio de todo mundo nessa porra por que eu não tenho permissão pra isso! Por que se tivesse, tu tava toda furada aí no chão agora. Comédia do caralho, cuzona. Infelizmente é o chefe que decide.

No meio de toda essa discussão eu me tremendo e tentando conter a minha mãe que não se calava por nada, eu morrendo de medo cara, do que pudesse acontecer e ela nem aí, descascando mesmo, sem dó.

Cíntia: Ah, o frouxo do chefe de vocês? Pois chame ele aqui, avisa que se ele for homem é pra vim aqui falar com a mãe da Raissa que ele tá impedindo de sair. Se ele quiser bater um papo comigo sem precisar segurar em arma pra me intimidar eu mostro pra ele quem é o certo e o errado nessa briga. O chefe...- Riu em ironia.- bora, chama ele aqui!

Raissa: O M10 só deve tá fazendo o que o Matheus pediu, se ele retirar o pedido eles liberam a nossa saída. O culpado disso tudo é ele!

- A senhora.- Falou alto provocando.- é quem? Qual sua marra pra cima de nós aqui? Nem da quebrada tu é, respeita nossa história. Ninguém aqui te conhece! - O outro se meteu.

Cíntia: É pra falar alto? - Aumentou o tom também e eu cutuquei ela como forma de dizer pra parar.- me deixa Raissa.- Falou bravona comigo.- nem pra fazer bandidagem direito vocês prestam, vivi aqui por muito tempo e pode crer que na minha época não tinha tanto moleque, o tráfico era formado por homens de verdade e não por criança emocionada. Minha filha não fez nada! Não errou em nada aqui, ela é prisioneira de vocês por que mesmo então? E por que o Matheus acha que tá no direito de te proibir de alguma coisa? Minha briga aqui não vai ser com vocês e sim com o culpado de tudo isso!

- É isso mermo pô, tá firmão, fechado decorô? Sorte da senhora é tá saindo viva daqui no dia de hoje. Sorte a tua que o chefe não sabe metade do que rolou aqui e deu ordem pra não reagir com nada. Agradece a Deus depois!

Isso era que tinha me dado mais medo, porra, minha mãe não queria saber de nada, mas eu sei o que acontece, fiquei trêmula, gelada! Com medo que eles recebessem autorização pra fazer alguma coisa. Não ia me perdoar nunca por ter envolvido minha mãe nisso se acontecesse alguma coisa.

Em um movimento rápido de olhar pra trás eu vi ele se aproximando, minha mãe também viu e virou pra ele que vinha quieto, só parou e encarou a gente.

Cíntia: Me surpreendeu em Matheus, logo você fazendo minha filha passar por isso? Logo você que eu já defendi tanto? Tá de parabéns por toda essa cena e vergonha que você tá fazendo a gente passar aqui. Não sei o que tu fez, mas eu tenho certeza que a Raissa tem motivo pra ir embora e o direito também. Se você fez merda não é prendendo ela aqui que isso vai mudar, dei de cara com você, sinceramente... vergonha por isso em!

2N: Tu vai sair daqui assim mesmo? - Falou comigo e eu virei a cara negando resposta.

- 2N tão mandando o papo aqui pra tu em, M10 na voz.- Aproximou o radinho perto e a gente ouviu o frente falar.

"M10: 2N, máxima consideração por tu aí pô, cê tá ligado que é nós sempre na mesma batida, mas isso aqui não é bagunça certo? Tu me pediu o bagulho, eu fiz, mas eu não vou aturar algazarra por causa de problema pessoal aqui na favela não! Resolve teu b.o com a tua mina depois em outra ocasião, e os menor daí de baixo, libera a saída da mulher."

Raissa: Ele não devia nem ter proibido, por que como ele mesmo disse problema pessoal não tem nada a ver com a favela! Mas são tudo irmandade né? Uma broderagem sem fim! O que um pede o outro se sente na obrigação de fazer.- Falei puta.

2N: Raissa.- Chamou minha atenção.- encosta aqui pra gente ter um papo! - Neguei firme, não ia perto dele e se fosse seria pra matar.- sem cu doce cara, só deixa eu te falar um bagulho, vou nem te relar! Com todo respeito.

Raissa: Respeito? Desde quando você tem respeito? Me erra Matheus, vai pro inferno!

Quando eu falei isso os outros olharam pra ele que espumou de ódio, aquele olhar que dizia tudo, tipo "tu vai deixar ela falar assim contigo?". Ficaram esperando uma reação dele, mas eu nem fiquei pra ver. Minha mãe me chamava pra ir embora e eu nem sequer olhei pra trás.

A gente entrou no carro, eu só respirei fundo e ela deu a partida saindo e guiando pra casa dela. A sensação que eu sentia dentro de mim ainda era a mesma, um vazio, decepção, e a cada minuto lembrava de alguma coisa, o caminho todo com os olhos cheios de lágrimas. Mas Deus é perfeito, disso eu não tenho dúvidas, sei que ele vai tirar isso de mim, nenhum sofrimento é eterno por mais que na hora pareça ser.

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Fora da LeiOnde histórias criam vida. Descubra agora