Fora da Lei

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2N 🚩

Aquele dia ela fudeu comigo, quis me tirar como otário de todo jeito, mas deixa estar... vou deixar, ficar na minha por que não sou tapete de ninguém não. Os bagulho tem que ter um limite, não sou cachorro e nem vou agir como um.

Não tiro o sofrimento dela, sou quem pra fazer isso? Ninguém menor. Mas a garota me beijou, ela que me beijou, eu já tinha falado que não ia fazer nada, que ia deixar rolar, deixar ela escolher, ela escolheu partir pro ataque pra depois ficar de cu doce pro meu lado? Se fosse pra ser assim não me beijava então porra, mandava eu ralar e fim de papo.

Da mesma forma que eu nunca surfei no que atinge ela, não quero comigo, o que eu não faço com os outros já é pra nego saber que não deve fazer comigo. Nunca desmereci o que ela passava e muito menos tratei como um bagulho que não fosse importante pra mim, porra ela é tudo na minha vida, nunca que eu vou apontar e dizer quem sofre e quem não no meu ponto de vista, sou Deus agora?

O que me deixa puto é essa parada de "vamo" e depois "calma lá" ou tu vai ou tu não vai cara. Fica de historinha não, eu sou direto no que eu quero! Mando logo o papo, o que eu concordo e o que eu discordo. Foi o que eu fiz com ela, pra depois ser feito de otário daquele jeito? Não se justifica um erro em cima de outro não... se não queria era só falar.

2N: Tu não sai desse celular mermo em cria, caralho menor, nunca vi ser tão viciado, tua mãe errou muito em te dar um tão cedo. Criança tem que ser criança, vou te levar pra jogar bola lá no complexo, tá precisando perder essas gordura aí pô, se não complica.

Ravi: Que gordura pai? Não tenho isso não. O senhor que tem, olha aí, até dobra.- Me gastou e eu virei pra ele.

2N: Só se eu for um esqueleto humano pra sentar e não dobrar né, papo feio esse seu aí. Tá me chamando de gordo? Isso aqui né gordura não, se liga rapá, ala...- Neguei pra ele que riu.- pai tá no caldo, fortinho sim, gordo não!

Ravi: Então eu também tô fortinho ué, mas não quero ir pra lá não, eu vi na tv que uma menina morreu. Ela morreu de tiro pai...minha mãe nunca vai deixar eu ir, ela disse que é muito perigoso.- Parei escutando.- eu pedi uma vez e ela não deixou.

2N: Quero saber se tu tem vontade, tem? - Ele assentiu.- é o que importa, eu sou favelado e não tenho medo, tu tem que conhecer. Ter noção que a vida não é só piscina, vídeo game e celular caro. Tem muita parada boa lá pô, uns molecote firmeza pra tu brincar, a tua vó mora perto, quer ver ela não? Teus primos. Todo mundo quer te ver!

Ravi: Tá bom. Quero! - Tirou o olho do celular que ele tinha na mão e sorriu.

A gente almoçou, dei um rolezin com ele pra comprar umas roupas, e ele ja gamou na camisa do Flamengo, a mãe fica falando de Vasco mas ele não curte não. Comprei duas, uma pra mim e uma pra ele, depois voltamos pra casa da mãe.

2N: Não quero tu metendo idéia errada na cabeça do menino não tá entendendo? Criminalidade existe em todo canto. Se tu quer ensinar as coisas da vida pra ele fala de tudo, não só da favela, não quero meu filho crescendo com impressão errada de nada, quero ele aberto e humilde com os outros, e não esses playboyzin, se liga...- Falei perto dela.

Anna: O que eu tô metendo na cabeça do meu filho? Eu ensino as coisas pra ele, é bem diferente. Não acho legal romantizar a comunidade não, falo a verdade, que gente morre, que tem tiro, que tem guerras frequentemente, assim como vocês que moram no local não vivem em um conto de fadas eu não preciso desenhar uma mentira pro Ravi. Simples assim, não quero que ele imagine uma coisa que não existe pra depois descobrir da pior forma que não era aquilo que ele imaginava.

2N: Se tu quer ensinar o que tem de ruim ensina também o bom. Que tem gente igual ele, porra Anna...o moleque nunca pisou numa favela, se tu ficar colocando pilha na cabeça da criança ele vai pegar medo, não quero ele tendo medo só de onde eu moro, sendo que ele tem que ter medo do mundo em geral. Da maldade das pessoas, não é só voltado pra onde eu vivo, não é só lá que tem bandido, o crime aqui é o mesmo. Vocês só não acordam com tiros como a gente por que existe uma desigualdade, nessa vida é só o pobre que toma no cu.

Anna: Ainda não vi meu erro nisso mas tudo bem, respeito sua opinião.

2N: Como que eu faço pra levar ele pra ficar uns dias comigo e com a minha família? Tô querendo.- Falei com a mão na bancada.

Anna: O Ravi tem escola de segunda a sexta, esqueceu? Um final de semana e olhe lá.

2N: Não pode ficar uma semana sem ir?

Anna: Poder até pode mas eu vou ter que ficar indo dar satisfações na diretoria. Ele vai ficar atrasado e cheio de lições! No máximo dois dias vai, quinta e sexta, você me trás ele na segunda de manhã por que de tarde ele vai pra escola. Pode ser assim então?

2N: Pode, quatro dias tá bom, nas férias dele a gente decide isso melhor, agora ele vai viver nos dois lado também, chega de só uma realidade.- Ela me olhou.- quando tiver perto tu me da um toque.

Anna: Por tantos anos você evitou, levar o seu filho pra lá, por que do nada isso? O que aconteceu? Devo ter alguma preocupação? Vai querer ir pra justiça atrás de guarda compartilhada?

2N: Não cara. Tá maluca? Fazer o que na justiça? - Neguei com a cabeça.- isso é um bagulho que nós dois pode resolver, não vai ser sempre, entendo que ele estuda aqui e tudo mais pô, só tô avisando que agora as coisas vão mudar! Ele vai ter um pouco mais de contato comigo, assim que eu pretendo.

Anna: Ah sim...tudo bem então, férias dele tá longe mas ainda assim você pode levar uns finais de semana, contanto que eu saiba com quem meu filho está, se está sendo bem cuidado, se ele tá gostando do ambiente, tudo por ele.- Confirmei.- vai ser bom, sinto isso.

Me afastei indo atrás do Ravi dentro do quarto e fiquei uma horinha com ele lá, era tarde quando sai pra ir pro lugar que eu tava ficando, ela até me chamou pra jantar mas eu não fiquei não, guiei sozinho e mandei um Whats pra minha mãe dizendo que amanhã o moleque ia comigo, véinha ficou doidinha de ansiedade, tô até vendo o mimo com ele, mas meu garoto merece, criança que é boa ganha todo mundo facinho.

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