Antepenúltimo | XX - Harry.

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Uma semana depois.

O entardecer era o horário mais aviltante que existia, quando o sol se punha levando sua luz, uma sensação de solidão me orlava. Todos os dias desde que Iara foi embora, eu me sentava em frente as janelas ao acordar e ficava desta forma o dia inteiro. Meus remédios viviam ao meu lado para que não precisasse levantar para tomá-los, segurava ao máximo minhas necessidades fisiológicas por me sentir tonto quando levantava. Comia algum fast food ou comida que meu vizinho Katsuo, um senhor de quase cinquenta anos, deixava em frente a minha porta antes de ir trabalhar. Vez ou outra, Michiko, sua esposa, aparecia para saber se eu estava bem. Quando Iara e eu ainda estávamos juntos, tínhamos almoçado algumas vezes com eles para treinar meu japonês um pouco enferrujado. Eles eram bons amigos e nos davam muitos conselhos de vida, que infelizmente, não tivemos tempo para reaproveitá-los.

— Harry nos contou que você é uma sereia. — Katsuo gracejou simpático, sorrindo e exibindo suas rugas ao canto dos olhos. 

— Ah, Harry é um crente. Desde que o contei sobre os contos do folclore brasileiro ele insiste nessa história. Iara é uma criatura que toma conta dos rios brasileiros, uma sereia. Afoga todos os homens que ousam cruzar seu caminho, acho que me associa à ela pelo fato de estar imergido de amores por mim. — Iara disse sorrindo ao brincar com as palavras e me fitou com amor transbordando em seus olhos.

Ela sempre arrumava uma forma de me provocar. Todos riram com sua brincadeira, levei sua mão direita até minha boca rapidamente enquanto mastigava meu bolinho de arroz, a beijando e ela correspondeu.

— Michiko também é uma crente. Ela acredita fielmente que Kappas existem. — meu amigo enviou o mesmo olhar apaixonado à sua esposa. — Vinte e dois anos de casados e ela conta até hoje da noite que viu um filhote de Kappa.

— Não seja bobo, seu incrédulo. — Michiko repreendeu pegando seus takoyaki com o hashi, o conduzindo até a boca. — Kappas existem você acreditando ou não.

— Misture um pouco disto e me diga o que acha. — o mais velho colocou uma dose de shochu na minha hoppy, que era meio que uma cerveja nacional com uma dose baixíssima de álcool.

Todos olharam-me aguardando eu tomar, minha fama por ser fraco com bebida chegava até mesmo aos ouvidos de Katsuo.

— Fique tranquilo, Harry. Não é tão forte quanto o uísque que você toma, é só mais forte que o saquê. — Michiko assegurou, fulminando o marido pelo olhar. — Não o atormente, marido. Harry não é um bebum que nem você.

Rimos mais uma vez com o comentário descontraído de Michiko. Katsuo concordou com a esposa e voltou a tomar sua bebida, Iara pegou meu copo como quem não quer nada e trocou com o seu que era um tal de amazake, beberiquei para sentir o gosto e quase cuspi ao sentir que era doce e não destilada. 

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