Uma mentirinha inofensiva

103 12 9
                                    

Aos oito anos eu tinha medo do escuro. Toda noite após desligar a luz do meu quarto eu pulava na cama, com o coração quase saindo do peito e mesmo nos dias mais quentes me escondia debaixo de dois cobertores. O tempo foi passando e apesar de ter superado esse medo comecei a criar outros, como: insetos, altura e principalmente multidões. É fácil evitar lugares com insetos ou muito altos, já as pessoas se aglomeram em todo o lugar e é difícil fugir.

Meu melhor amigo ao contrário de mim ama festas e lugares cheios. Por isso me envolvo em tanta enrascada e termino em locais onde nunca pensaria em aparecer se não fosse por ele. Não fica complicado de entender como vim parar em uma festa onde não conheço ninguém além dele e sua namorada.

Estúpida, estúpida, estúpida.

— Não vou ficar de vela pra vocês!— grito por cima da música eletrônica

O jogo de luz machuca meus olhos e o cheiro de bebida alcoólica e pessoas suadas não são meus favoritos. Nathan coloca o braço por cima do meu ombro e seu rabo de cavalo castanho bate no meu rosto. O observo e me deparo com seu sorriso bobo, pois está realmente está feliz por eu e sua namorada estar aqui.

— Vou ficar te devendo uma, tá? — ele se afasta

Pego na sua mão e jogo seu braço pesado para fora dos meus ombros e cruzo meus braços

— Bom mesmo!

Júlia tem um pouco de suas mechas loiras na frente do rosto apesar de estar com o cabelo preso em uma trança desajeitada. Como a conheço sei que é porque ficou com preguiça de ajeitar e o prendeu, ela me puxa para um abraço e enquanto me aperta dá alguns pulinhos. Assim como o Nathan, suas madeixas batem no meu rosto.

— Amanhã vamos em todas as praias que você quiser, ok? — sussurraEla se afasta e entrelaça as mãos com o Nathan. Os dois saem desaparecendo na multidão, procurando algum canto escuro pra fazer o que podiam fazer estando dentro de casa.

Suspiro.

Não tenho ideia de onde ir sem eles e aqui é enorme. Em meio a toda bagunça que está com o monte de gente bêbada e luzes piscando, eu consigo imaginar que de dia e arrumada essa casa deve parecer um paraíso.

Um paraíso de que não faço parte obviamente.

Ando sem rumo. Aqui parece um labirinto e espero encontrar alguma mesa com comida ou um lugar para sentar — e sentar no chão está quase virando uma opção. Vejo pela a porta de saída da sala pessoas vindo da piscina. Olho para baixo vendo tudo molhado e sujo e consigo perceber que em meio ao cheiro de cerveja e suor, as pessoas estão cheirando a cloro.

Alguém toca no meu ombro, olho para trás.

— Agatha?

É uma garota com vários piercings e pele bronzeada que nunca vi na vida então arqueio a sobrancelha.

— Quem?

A desconhecida que antes estava com um sorriso para e um rubor sobe em suas bochechas.

— Desculpa, me enganei

Dou de ombros.

— Não tem problema, quer ajuda pra procurar?

Ela olha para os lados evitando me encarar.

— Não precisa e desculpa mesmo, ela é bem parecida com você, acabei me enganando

— Tudo bem, de verdade, espero que a ache

— Obrigada— ela sorri de lado

A observo passar em um círculo à minha volta e andar o mais rápido possível longe de mim. Estranho. Ao menos pareço com alguém que realmente pertence a esse lugar. Decido esquecer essa conversa e seguir pensando em onde vou ficar por um tempo até que Nathan me mande mensagem me procurando.

As Coisas Que Nunca SentimosOnde histórias criam vida. Descubra agora