Crescer com o Nathan foi divertido, ele vivia escapando de casa para o meu quarto onde a gente assistia sessão da tarde. As melhores memórias com ele são assim estando confortáveis um com o outro.
Naquela tarde ― já que acordamos meio-dia, com ressaca e perdendo a aula de surfe ― eu, Nathan e Júlia sentamos na frente da televisão enorme e decidimos maratonar toy story e foi aí que percebi que não estou nada confortável.
O casal ria de algumas coisas e algo na minha garganta me impedia de me divertir. Será que vou perder minha amizade por uma mentira que não vai me levar à nada? Coloco minha mão no peito porque doí completamente.
Faz tempo que não me sinto desse jeito, não desde a formatura pelo menos. Me levanto inquieta, olho para meus amigos e pergunto:
― Vou buscar água, querem?
O dois estão abraçados debaixo de uma coberta por conta do ar-condicionado, eles me olham e balançam a cabeça em negativo então Júlia fala em meio a um bocejo:
― Quer que a gente dê uma pausa no filme e espere?
As palavras saem todas emboladas, mas consigo entender.
― Não precisa ― dou de ombros ― Eu já volto
O chão está frio, começo a andar olhando para os lados procurando minha chinela e nada. Chego na cozinha e a parede enorme de vidro faz com que o cômodo esteja todo dourado. Aproximo dos armários para pegar um copo e pego a água em seguida.
Encosto no balcão e suspiro antes de dar um gole. Fico olhando para fora, sem estar exatamente pensando em nada, só deixando a culpa me corroer escutando os sons do filme vindo da sala.
Não sei quanto tempo estou parada, mas quando percebo que a água acabou ando em direção a pia. Atrás de mim escuto um limpar de garganta, meu coração pula e eu quase derrubo o copo. Para minha sorte, consigo colocá-lo no lugar sem nenhum arranhão.
― Bu! ― Nathan ri ― Te peguei
Olho para trás e dou um soquinho no seu braço.
― Babaca ― exaspero bufando ― O que foi?
Nathan balança o celular na minha frente como se isso explicasse algo.
― Sua mãe ligou algumas vezes, vi agora já que meu celular tava no silencioso ― ele ainda parece risonho ― A tia vai matar nós dois por não dar nenhuma notícia
Bato minha mão na testa e abro a boca. Como pude esquecer uma coisa tão básica?
― Merda, merda e merda. E isso que nem contei do celular. ― suspiro dramaticamente
E é quando acontece, engulo em seco, a tela do celular brilha e no visor está escrito tia. Murmuro para Nathan como se minha mãe estivesse ouvindo nossa conversa:
― Não atende, não se atreva a atender ― aponto um dedo pra ele
― Maia, ela vai arrancar minha orelha de tanto puxar quando voltarmos. ― cochicha
Faço uma cara triste.
― Você quer me ver morta?
― Bem eu gosto da minha orelha ― ele dá de ombros segurando uma risada
― Eu te odeio
Nathan puxa o celular para o ouvido e atende.
― Oi, tia. Bença. É que foi muito corrido e é eu sei que não é legal. Sim ela tá do meu lado, eu vou passar
― Vou. Matar. Você. ― digo entredentes antes de pegar o aparelho ― Oi mãe. Bença.― tento parecer um doce
― Deus te abençoe mas, Maia Ribeiro o que fez parecer uma boa ideia não me dar nenhuma notícia? ― sua voz está alta ― Menina, eu tenho pressão alta
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As Coisas Que Nunca Sentimos
Teen FictionMaia acaba de terminar o ensino médio com seus melhores amigos, juntos eles viajam. Lá Maia acaba sendo confundida com outra pessoa e, decidida a viver uma realidade diferente da sua por um dia, mente sobre quem é. Ela conhece Lara, uma menina rica...