Chocolate

34 5 17
                                    

― Oi. ― acena Lara

Ela é tão educada e fofa que não posso evitar querer estar agora a sete palmos do chão. Isso virou uma bola de neve rápido demais, e tenho certeza que o meu amor de verão ― que durou menos de uma semana, diga-se de passagem― está chegando em um fim. Se é que posso dizer que algo que nem começou direito pode terminar.

Minha instrutora de surfe ― coitada ― quando perceber tudo e ter que passar constrangimento de revelar que sou uma mentirosa de primeira e uma ladrona de identidades nunca mais vai querer olhar na minha cara. Finalmente morar em Brasília me faz sentir um certo conforto, no final do mês vou poder ir para casa e tratar tudo que está acontecendo como um grande pesadelo.

Malu chega perto da nossa mesa, segurando as alças de sua mochila com força, percebo isso porque os nós dos seus dedos estão brancos. Quando chega perto ela dá uma risada nervosa.

― Espero que eu não esteja interrompendo. — Diz.

― Não está interrompendo, nada. É bom te ver, aqui. ― Lara a conforta, dando um sorriso caloroso e depois aponta para mim. ― Me falaram que você e a Agatha são amigas então fiquei sem graça de não te cumprimentar.

Não sei onde vou enfiar a minha cara agora. Malu ergue a sobrancelha e olha em volta, provavelmente procurando pela a amiga que estou fingindo ser. Viro a cabeça, fingindo estar interessada em algo na janela. Estou ferrada demais.

― A Agatha tá aqui? ― Malu semicerra os olhos, ainda procurando pela a verdadeira Agatha.

Lara deve achar que Malu está brincando porque começa a sorrir, acompanhando o olhar da outra. Volto a encarar Malu e pigarreio, já que estou na chuva é melhor eu me molhar.

― Oi ― digo baixinho, abanando as mãos.

Uma ruga aparece bem no meio da testa de Malu, ela abre e fecha a boca. Depois olha de mim para Lara e seus olhos brilham, como se ela entendesse mais ou menos o que está acontecendo. É agora, ela vai me entregar, cruzo meus dedos, me preparando. Mas Malu sorri e dá um tapa fraco na própria testa.

— Faz tempo que a gente não se vê, quase esqueci como você se parecia. — Sua voz sai um pouco mais baixa, medindo as palavras.

Lara se distraiu olhando para o balcão e ainda alheia solta o ar e depois aponta para as comidas.

― Sempre esqueço como eles são rápidos pra entregar o sorvete aqui. Tá vendo, Agatha? Acho que são nossos pedidos no balcão.

Quero desaparecer. Sumir e nunca mais voltar. Eu sou uma pessoa péssima. Malu limpa a garganta, me encara e pergunta:

― Ei, Agatha, preciso ir ao banheiro. Quer ir comigo?

Minhas mãos estão suando frio, é o que percebo quando tento responder sem gaguejar:

― P-pode ser

― Se não tiver problema vou ficar aqui esperando os pedidos ― Lara fala

Fico impressionada quando me levanto e não caio. Pensei que minhas pernas iam estar tão bambas que eu ia ter que voltar para a casa de praia em uma maca. Ando uns dois passos atrás de Malu a seguindo até o banheiro feminino, ao entrarmos as duas únicas cabines estão vazias. Ficamos as duas de frente para o espelho, a observo ligar a torneira devagar e molhando as mãos e logo em seguida levando um pouco da água na nuca.

Não consigo encarar meu reflexo então tento focar no que vai acontecer agora.

― Olha, eu não sei qual é a sua porque você parecia muito legal na aula ontem ― e suspira ― Mas caramba, Maia isso não é nada legal

As Coisas Que Nunca SentimosOnde histórias criam vida. Descubra agora