Escuto um barulho alto do meu lado e quase dou um pulo do sofá. Abro rapidamente os olhos e sinto meu tênis ficar molhado, olho para baixo e lá está Malu tentando limpar a água da garrafinha que peguei pra ela na noite passada.
― Desculpa.
O rosto da minha treinadora de surfe fica todo vermelho, dando certo destaque a sua maquiagem que ainda está completamente borrada. Eu bocejo e passo minhas mãos no rosto. Que horas são?
Eu nem lembro quando caí no sono.
― Tá tudo bem ― falo ― Você já vai?
Reparo que na mão de Malu está meu casaco e ele está sobre o chão secando a água. Ótimo jeito de iniciar o dia, exaspero.
― Não era nem pra eu ter dormido aqui ― diz Malu revirando os olhos ― Seu amigo ali me acordou jurando que a gente tinha ficado, quer dizer, a gente?
Ela está falando rápido demais, meu cérebro está demorando pra processar tudo. É a cara do Lucas vir com comentários incômodos então reviro os olhos, olho para o lado e lá está ele dormindo em sua cama sem camisa e de boca aberta.
― A gente não fez nada, né?
― Não. Só se ter deixado você babar em mim é alguma coisa. ― passo minha mão no pescoço e solto uma risada
Espero que isso tenha aliviado e a prova que sim é que ela ri e coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha.
― Que bom, quer dizer, que foi só isso.
Deixo meu olhar cair sem querer para o meu casaco e ela fica mais vermelha do que pensei que fosse possível.
― Desculpa, ele tava perto e eu nem pensei...
― Malu, tá tudo bem ― a interrompo ― Você tá com uma grande ressaca ou acordou bem?
Ela coloca a mão sobre os joelhos e aperta o tecido do vestido.
― Obrigada por cuidar de mim, eu tô bem sim. E desculpa se eu falei qualquer coisa embaraçosa
Sorrio e balanço a cabeça como resposta.
― Bom, eu vou indo fazer minha caminhada da vergonha pra casa então ― fala
Malu levanta e me entrega o casaco que está beirando a encharcado. Ela se vira para ir, mas não quero ficar sozinha e ela parece uma companhia boa e sem os pesos que as conversas que meus amigos de anos podem trazer.
― Na verdade, você quer ir ao shopping comigo? ― suspiro ― Eu não sei como chegar lá sozinha.
― Claro
Decidimos que antes de irmos para o shopping passamos em seu chalé ― e agora sim era um chalé ― para trocar de roupa. É quase estranho pensar que ela mora aqui, que tem pessoas que moram realmente à beira da praia e que acordar com o cheiro do mar e o barulho das ondas é uma rotina e não uma coisa rara de se ver.
Será que ela via o mar com os meus olhos ou como uma coisa tão rotineira que não merece mais o tanto de atenção?
― Só vou tomar um banho, você me espera? Vai ser rapidinho
Assinto com a cabeça e ela entra no banheiro.
É claro que como todo o seu círculo social, ela ainda tem algumas coisas extravagantes espalhadas pela a casa e uma piscina no quintal. Seu notebook de primeira estava sob sua escrivaninha com vários cadernos. Malu também tem um mural de fotos nas parede, onde tem algumas fotos com meu clone. Não, a gente não é tão parecida assim apesar de uns traços ali e outros lá. As duas parecem muito próximas nas fotos e muito novas também, beirando aos treze ou catorze anos.
Será que ela é tão terrível quanto parece ou é só porque só conheço o lado da Malu? Agatha parece o tipo de pessoa que mais me irritou no ensino médio, a riquinha que não se importa com ninguém e muito menos com as amizades mais próximas. É meio babaca cortar alguém de sua vida assim, alguém tão próximo, mas que sou mesma pra ficar julgando alguém?
Escuto o barulho da porta do banheiro e junto do vapor sai minha treinadora com uma toalha vermelha e o cabelo molhado. Não sei muito bem para onde olhar e não consigo desviar meu olhar dela e de como é bonita. Ela tem sardas nos ombros e agora percebo que tem umas bem claras em seu rosto também.
Tá, Malu é muito bonita. Minhas bochechas esquentam e é ai que consigo desviar o olhar.
― O que foi? ― fala
― Nada não ― digo me voltando para as fotos novamente.
A espero se arrumar de costas e quando ela termina, sinto sua mão no meu ombro.
― Vamos?
― V-vamos
***
Passamos o caminho todo conversando sobre a competição de surfe que ela teria no final do mês e foi algo bem legal de se conversar porque pude me distrair o máximo possível da minha vida e me distrair da minha vida é sempre o máximo.
― Você acha que eles já tem seu celular pronto? ― pergunta
― Eu duvido ― dou de ombros ― Mas tudo bem, eu posso ficar aqui esperando
Malu joga o braço sobre meu ombro.
― Não vou te abandonar ―diz dramática ― Podemos ir jogar?
― Com que dinheiro?
― Com o meu, uai. ― Ela solta meu ombro e puxa a minha mão ― Vamos?
Subimos a escada rolante, e o local de jogos é todo iluminado por uma luz roxa fluorescente. Jogamos até tarde e acho que esse é um dos melhores dias da viagem. O tempo passa de um modo estranho, devagar ao ponto que todas as nossas risadas parecem estar em câmera lenta e de certa forma rápido porque parece que não estou aproveitando o suficiente. Eu quero mais.
Eu quero passar mais momentos leves nessa viagem, assim como esse.
Ao sairmos da réplica de menores dimensões do brinquedo bate-bate minha barriga roncou.
― Eu também tô morrendo de fome ― Malu exaspera
Arregalo os olhos e a encaro:
― Você ouviu?
― O shopping todo deve ter ouvido ― e ri ― O que acha de darmos uma pausa? Você pode ir lá ver o celular enquanto eu compro uma casquinha
Concordo com a cabeça e nós duas seguimos caminhos diferentes. A barraquinha está com mais pessoas a sua volta do que no dia anterior, me pergunto se não vim rápido demais, porém o moço disse que eu podia vir no dia seguinte.
Se ele disse, ele disse.
Pego meu celular e enquanto caminho para a praça de alimentação tento ligá-lo, não demora muito para que aconteça e eu seja bombardeada com mensagens da minha mãe. Tento ler elas, mas quando chego no final não tenho uma boa notícia.
Eu esqueci completamente que hoje saem as notas do enem.
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Olha só quem não demorou para postar capítulo novo, em? Euzinhaaaa aqui
Espero que todes estejam bem, amanhã voltam as minhas aulas na faculdade e eu estou bastante nervosa e com medo ao mesmo tempo que to animada aaaaaaaa
Desejo de coração que estejam gostando e se não estiverem podem deixar seus comentários sobre, essa é a primeira versão da história e quando eu terminar quero editar para deixar tudo bonitinho então qualquer comentário sobre o andamento me ajudaria bastante.
Uma boaaaa semana para vocês <3
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As Coisas Que Nunca Sentimos
Teen FictionMaia acaba de terminar o ensino médio com seus melhores amigos, juntos eles viajam. Lá Maia acaba sendo confundida com outra pessoa e, decidida a viver uma realidade diferente da sua por um dia, mente sobre quem é. Ela conhece Lara, uma menina rica...