Vinho roubado

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Nem minha treinadora ou meu interesse amoroso, na minha frente está uma garota que parece ter doze anos, com um cabelo loiro preso em uma maria chiquinha e um vestido rodado rosa. Arqueio a sobrancelha sem entender nada e ela repete o meu gesto, sinto seu olhar me analisando de cima para baixo. Limpo a garganta. Esse negócio todo de Agatha hoje está chegando ao meu limite.

― Ah, desculpe. ― a garota balança a cabeça ― Pensei que fosse uma garota que conheço, desculpa mesmo moça.

Sorrio de lado. Estou um pouco cheia disso tudo mas, não há mal nenhum em ser educada então a conforto:

― Tudo bem, não tem problema.

A menina então se vira e quando penso que está indo embora e deixando isso para lá, a observo se voltar novamente para mim. Seu olhar no entanto foi para o meu lado.

― Na verdade, essa é a Maia, a garota que te contei hoje mais cedo.

Malu está ali, como se estivesse a bastante tempo nos observando ― apesar de eu ter certeza que deve ter chegado há poucos segundos ― com um coquetel de limão em mãos e um vestido vermelho. Não está usando os piercings que combinam bastante com ela, e que acabei de reparar que de certa forma gosto.

― Malu, oi. ― a comprimento

― Oi. ― responde ― Essa é minha irmã mais nova. Fala "oi" aí, Ana.

A irmão então acena.

― Oi, então você é a garota com má sorte? ― ela ri ― É, não acho que a Agatha já tenha tido um dia de má sorte ou usaria qualquer roupa que não fosse de marca conhecida.

Malu segura uma risada do meu lado. Isso é uma crítica? Aí. Gente rica é tão engraçada.

― Você devia descer, baixinha. Vaza. ― minha treinadora pede com "delicadeza"

Ana revira os olhos e se vai sem dar tchau ― não que ela devesse fazer isso ― e nariz empinado. Sinto uma batida no meu ombro.

― Na verdade você parece tanto a Agatha que devia ser um crime. ― Malu confessa rindo ― Ela ia odiar isso, já que tem a síndrome de "não sou como as outras garotas" ou talvez ia achar o máximo porque poderia fingir pra todo mundo que tem uma gêmea.

Reparo que seu rosto está todo coberto com uma camada de nostalgia, já que por alguns instantes ela parece perdida nas próprias memórias. Por que essa Agatha é tão babaca e não entra em contato com a melhor amiga?

― Esse negócio de gêmea iria me tirar de uma fria. ― tento animá-la com uma risada baixa

― É. ― ela fala e em seguinda dá um gole no coquetel.

Nathan e Júlia que começam a vir em nossa direção, os dois não parecem animados então devo ter a minha espera quando ver os pais do meu melhor amigo uma bronca e um discurso no estilo "a gente te deu tudo". Mas tudo que meu amigo fala quando chega é:

― Aparentemente, o jantar vai ser no jardim.

Suspiro aliviada.

― Soube que o chefe de cozinha tem vários restaurantes de frutos do mar espalhados pelo o mundo, acredita? Como o meu pai, com o açaí e tudo mais. ― fala Júlia com um sorriso

― Seu pai vende açaí? ― pergunta Malu me fazendo lembrar que ela está ali com o meu segredo em mãos

― Uhum, ele tem uma franquia que há alguns anos foi exportada pra outros países. Você não acreditaria no tanto de gente que ama açaí por aí.

As duas entram em um papo enorme porque aparentemente é normal ter pais empresários e ricos por aqui. Nathan me percebe calada e me pergunta com o olhar se está tudo bem e eu somente assinto com a cabeça. Decidimos em seguida ir logo para o tal jardim já que a cada minuto a área da piscina fica mais dispersa. Caminhamos juntos, e descemos por uma escada de madeira rústica perto da casa da piscina que não tinha reparado antes, tem algumas tochas como na entrada da casa dando direito há várias mesas redondas. Tem um arco de flores com um microfone por perto e uma mulher negra tocando um grande piano branco. Algumas pessoas já estão sentadas e as poucas crianças que têm estão correndo de um lado para o outro.

As Coisas Que Nunca SentimosOnde histórias criam vida. Descubra agora