Olha a onda, olha a onda

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Pode se dizer que meu primeiro interesse amoroso —alguém real e não algum personagem fictício da tv a cabo — veio aos doze anos. O nome dele era Lucas, ele sempre vinha à casa de Nathan todo o final de semana. Na época eu não saia muito do quarto que dividia com a minha mãe no fundo da casa — ou melhor, a mansão do pai de Nathan — e ele me fez criar esse espírito quase aventureiro onde o objetivo principal era segui-lo sem que fosse notada.

Até que eu fui.

Não lembro com certeza se no dia estava quente, mas Nathan e Lucas estavam à beira da piscina com os pés dentro d'água enquanto uma música pop tocava no rádio pequeno ao lado deles. Me recordo que foi uma das únicas vezes que terminei espiando eles sem querer pois para sair da casa e chegar ao portão de fundo, eu tinha que passar pela a piscina. O medo de ser notada era muito maior do que qualquer compromisso, então esperei atrás da mesa marmóre que ficava ao lado da churrasqueira esperando que eles saíssem o mais rápido possível para que eu não chegasse atrasada na aula.

Uns cinco minutos depois o Nathan saiu e foi quando Lucas olhou para os lados entediado, bocejou e levantou. Meu coração quase saiu da boca quando percebi que ele estava andando até mim. Lucas era alto para nossa idade e se agachou ao meu lado, ele assoprou um fios do cabelo loiro bagunçado e sorriu.

Quase não consegui respirar e todo o meu rosto esquentou de vergonha. Foi quando falou:

— Não sei qual é a sua, mas tem que parar de agir como minha sombra toda vez que estou aqui

O som do rádio pareceu ficar distante.

— D- desculpe — falei

No momento que ele levantou e estendeu a mão para me ajudar a levantar também, eu o ignorei e sai correndo pelo o portão. Estava petrificada, assim como meu coração.

Balanço a cabeça afastando os pensamentos sobre o passado. Tento focar no presente que não é muito melhor porque ontem tive quase certeza que achei o amor da minha vida, ou talvez uma garota com potencial de ser. Mesmo assim consegui fazer tudo dar errado, por que diabos quis mentir meu nome? Por qual motivo não pedi o número dela?

Minha mãe sempre me aconselhou a tentar seguir o que quero para no futuro não me arrepender e eu como uma besta não segui o conselho dela.

Passo a mão no braço tirando areia que Nathan jogou em mim uns minutos atrás pra me estressar. Paro e olho para o mar. Esse dia tem que ser bom, não posso deixar algo que não tem como mudar mais me afete tanto. E daí que senti uma conexão?

Tenho que ter foco no presente e aproveitar minha primeira vez vendo o mar de perto ou realmente começar a me preocupar com o fato que meu melhor amigo não tem ideia de para onde estamos indo e já é mais de meio-dia.

Não estamos no meio do nada — por enquanto — o que significa que podemos dar meia volta e ter esperança de chegar na aula de surf há tempo. Júlia para de andar e olha para o lado, uma música sertaneja toca alto no fundo porque estamos na frente de um bar à beira da praia.

Minha amiga está com o cabelo preso e rosto vermelho por conta do sol, seu sorriso sarcástico e de lado me mostra que ela não está nada feliz.

— Maia, fala pra Júlia que eu sei onde estamos — Nathan se vira pra mim

Ao contrário da namorada que está um coque bem bagunçado, o cabelo dele está solto, ofereci meu elástico mais cedo para prender caso incomodasse e ele sumiu. Desde então ele coloca toda hora uma mecha atrás da orelha ou assopra os fios do rosto.

— Você não tem ideia de onde estamos então não posso te defender — dou de ombros

— Aha! Até a Maia tá do meu lado, agora por favor vamos seguir o caminho certo — ela aponta para direita — Que é para lá, assim como o google disse

As Coisas Que Nunca SentimosOnde histórias criam vida. Descubra agora