Dois Meses (Explícito)

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Pouco mais de uma semana havia se passado. Eu ainda tentava colocar minha mente no lugar certo e apenas consegui, pois Jean estivera comigo. Ele me consolava de algo que sequer tinha conhecimento; pensava que meu sofrimento vinha da falsa viuvez, cumulada com todos os acontecimentos recentes. Vivíamos uma grande mentira, mas dessa vez eu não estava disposta a abandoná-la. Parecia tão real...

Levi e eu estávamos mais próximos do que nunca, já que Erwin precisara de apoio total dentro da tropa. Nunca imaginei que chegaria ao ponto de ver o grande Comandante perder um braço por conta de seus ideais malucos, mas foi o que aconteceu. Também nunca imaginei que Levi contaria comigo, ao ponto de sugerir-me ao cargo condecorado de Segunda Capitã. Minha pouca idade e meu desempenho quase nulo me deixavam confusa sobre os critérios de escolha do Capitão.

Muitos sabiam do quanto o Capitão Levi era grandioso (não em todos os sentidos), e de fato, era o homem mais forte que eu já havia visto em minha frente. Em contrapartida, poucos sabiam sobre a sua capacidade afetiva. Apesar de frio, sério, calculista e cínico; ele não pensava duas vezes quando o assunto era favorecer seus prediletos. Fui prova disso; Levi havia confessado indiretamente que se importava comigo, e assim o fez. Deixou-me de fora de vários serviços e lutas, inclusive da que tiveram com Reiner e Bertolt. Ironia do Destino? Não sei, eu não me importava mais.

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- Eu sei! Foi incrível aquilo lá! - Armin disse, batendo palmas e rindo junto com o restante do grupo. Estávamos ao redor de uma das grandes mesas do refeitório, comendo porcarias e relembrando algumas coisas boas dos últimos meses. Armin tinha o dom de convocar esses momentos do nada, e eu já havia me acostumado com eles; talvez até gostasse mesmo.

- Nada disso! Eu aposto três quilos da carne mais nobre, que Esther consegue superar o Capitão! - Jean disse, batendo as mãos na mesa. Todos ao redor soltaram uivos de provocação, e fixaram os olhares em mim. Eu odiava tanta atenção, mas Jean era desse tipo. Gostava que os olhares fossem voltados para ele, sendo de alguma forma o centro das atenções, alimentando seu grande ego. Eu já havia me acostumado com isso, e talvez até gostasse disso também.

- Vocês estão loucos - falei, servindo-me da última xícara de leite quente com mel, tentando desviar as atenções de todos. - O Capitão Levi é imbatível. Acho melhor retirar o que disse, Jean.

Soltei um sorriso de canto, e gritaram mais uivos de provocação. Olhei para Jean, que agora mantinha seu olhar sobre mim de forma provocante, intimidadora.

- Você costumava se garantir, Esther. Continuo com os três quilos de carne na aposta.

- É melhor você perder isso, Esther - Sasha disse, apontando um dedo para Jean. – Esse rapaz aqui vai me dar esses três quilos de carne.

Gargalhei e coloquei a xícara agora vazia, em cima da mesa.

- Podem tirar o cavalinho da chuva, não vai acontecer - neguei com a cabeça e me virei dando tchauzinhos pelas costas.

Subi as escadas em direção ao meu quarto. Já estava tarde, e o dia seguinte com certeza nos renderia treinos cansativos. Ainda que a noite tenha sido supostamente a mais leve possível graças à Armin, eu ainda sentia meus ombros pesados. O fantasma da culpa não me deixara um segundo sequer; por vezes me atormentando em meus pesadelos.

Coloquei os pés no grande batente de madeira e girei a chave na porta. Antes que eu pudesse entrar, braços fortes me agarraram por trás, levantando-me do chão. Quase não pude respirar, e se durasse mais alguns segundos acho que desmaiaria sem ar. Fui com os pés de volta ao chão e me virei, enxergando seus olhos castanhos, tão claros quanto o mel que havia colocado no leite mais cedo.

Drowning (Parte I) - Jean KirsteinOnde histórias criam vida. Descubra agora